28 de jan. de 2014

Programa Mais Médicos atua há 4 meses no estado de Sergipe

Por : Grace Carvalho e Monalisa Melo
Presente em 32 municípios, o Programa ainda divide opiniões.Confira abaixo um balanço.

Lançado no início de julho de 2013 como parte da melhoria do atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o Programa Mais Médicos (PMM) do governo federal pretende enviar mais médicos para o interior e periferias do Brasil onde faltam profissionais, como também pretende viabilizar mais investimentos na infraestrutura de unidades básicas de saúde e em hospitais do país. Alvo de muitas polêmicas, o programa desde sua implantação recebeu muitas críticas da categoria médica como também de estudantes de medicina.
Ao chegar ao país, o médico estrangeiro participa de um curso de português com duração de três semanas. Já ao se fixar em uma cidade, ele começa a trabalhar, porém continua fazendo cursos, como, por exemplo, de aprofundamento sobre o SUS e sobre saúde familiar. As atividades no estado de Sergipe começaram no mês de outubro de 2013. Já estão espalhados por 32 municípios, 78 profissionais. Deste quantitativo, 69 são médicos estrangeiros. A previsão é que sejam construídas cerca de 40 unidades de saúde, de acordo com Anderson Faria, chefe de convênio e gestão do ministério da saúde em Sergipe, e que mais municípios façam parte do PMM.Ao chegar ao país, o médico estrangeiro participa de um curso de português com duração de três semanas. Já ao se fixar em uma cidade, ele começa a trabalhar, porém continua fazendo cursos, como, por exemplo, de aprofundamento sobre o SUS e sobre saúde familiar

A realidade dos médicos estrangeiros em território sergipano
“Para ajudar a vocês que precisam de médicos”, respondeu a médica cubana Yaremis Isquierdo, 31, sobre o motivo pelo qual aderiu ao programa. A médica, que já trabalhou quatro anos na Venezuela, chegou ao Brasil em novembro passado, e passou por um curso de português antes de chegar à cidade de Lagarto, interior sergipano. Yaremis diz que gosta muito das pessoas, dos pacientes e que os compreende bem. Para ela, o idioma é fácil; sua maior dificuldade tem sido a saudade que sente da família, mas certifica que o trabalho recompensa. A médica não pretende renovar o contrato depois dos três anos, já que anseia em ser mãe.  Sobre a medicina de seu país e a opinião dos cubanos sobre a vinda dos médicos, Yoledyz afirma: “A medicina em Cuba é maravilhosa, tanto para estudar, como para as pessoas. É de graça, por isso eu fico aqui no Brasil tranquila, porque minha família fica lá com a medicina e com a educação de graça”. “Com nossa ajuda aqui no Brasil, estamos ajudando também nosso país”, finaliza.

Opinião dos médicos brasileiros
Como os profissionais estrangeiros não precisam revalidar o diploma assim que chegam ao país, torna-se preocupante a ausência de regras claras, o que pode colocar em risco a saúde da população. Outro argumento muito utilizado pela categoria é o fato de que um dos problemas da saúde do país é a falta de estrutura e que a vinda de médicos de fora não vai melhorar o atendimento. Mesmo que esteja proibida a demissão de médicos do país para que sejam substituídos por um estrangeiro, contanto que seja por justa causa, omedo de perder espaço de trabalho e de ser substituído preocupa não só o médico que já atua como também estudantes de medicina.
Atuando na medicina há 14 anos, o médico brasileiro Paulo Gonzaga sustenta: “Eu acredito que nenhum médico de bom senso no Brasil seja contrário ao profissional médico ser regimentado para trabalhar em locais que há carência de médicos. Não faz o menor sentido ser contra isso”, afirmando logo em seguida: “A bandeira que é defendida por grande parte dos médicos é a que eu defendo. Deveria haver ajustes no programa”. De acordo com Paulo, a grande questão é o formato do PMM que foi feito para prover médicos para áreas carentes do país só que em um modelo que inviabilizou com que os médicos nacionais aderissem e permanecessem no programa.
Trabalhando há aproximadamente sete anos no Programa de Saúde da Família, o médico brasileiro Paulo Nunes, que atualmente trabalha no Hospital Regional de Lagarto, chegou a pensar em se inscrever para o Programa Mais Médicos, mas desistiu ao analisar melhor o projeto e perceber as falhas.

E o que acham os estudantes de medicina?
“A ideia é boa, só não sei se na prática vai funcionar”, opina o estudante de medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Marvim Machado. Ele ainda declara que acha válida a contratação de médicos estrangeiros, já que as vagas são ofertadas preferencialmente aos brasileiros e ofertadas aos outros no caso de não preenchimento.
Uma das propostas do Programa Mais Médicos é a residência obrigatória com treinamento no SUS. Marvim diz ter um interesse particular na área de atenção básica, mas vê a proposta um pouco incisiva por parte do governo em tentar mostrar a realidade ao estudante a fim de motivá-lo a trabalhar neste setor. “Eu acho interessante, dinâmico, muita coisa acontecendo”, explica.
Guilherme Camargo, estudante do 2º período do curso de medicina, aponta que o erro está em passar para a sociedade que não há profissionais dispostos a enfrentar essas áreas mais distantes; na verdade, segundo o estudante, não existe uma infraestrutura adequada nesses lugares, que já são mais afastados, o que limita a ida do profissional até esses espaços. O universitário concorda com o programa, mas faz grandes ressalvas acerca do projeto e de como ele vem sendo realizado.  “Deve-se sempre pensar primeiro na população”, reconhece. Questionado sobre qual a opinião que prevalece entre os estudantes de medicina, o jovem revela que grande parte dos universitários que ele convive, como também a nível Brasil, não concordam com o Programa Mais Médicos da maneira como ele vem sendo implementado.

A voz dos pacientes
Moradora de Lagarto e usuária do SUS, Josefa Ernestina, 53, relata que não percebeu melhora no atendimento desde a chegada dos médicos do PMM. Nos últimos seis meses, não conseguiu marcar consultas. Ela explica que apesar de passar horas em filas não conseguiu marcar os exames que precisava. Segundo Josefa, os problemas encontrados por ela e outros pacientes são relacionados à administração das clínicas. A falta de agentes de saúde é outro agravante; a última consulta marcada por Josefa foi através de um agente, o que agora não é possível, pois faltam esses profissionais que façam visitas frequentes para agendamento.
“Enquanto o brasileiro atende quatro, eles atendem um”, alega Maria Alice, 67, moradora de Lagarto. A paciente se revela satisfeita com o atendimento dos médicos do programa. “Eles são mais atenciosos”, continua. Ela afirma ter compreendido bem o que os médicos falaram e explica que seu único contratempo foi em relação aos medicamentos que faltam nas clínicas e com os agentes de saúde que nunca passam pelo seu bairro.

Aracaju, 20 de janeiro de 2014


 6 meses do Programa Mais Médicos em Sergipe
                                                                                                           Por: John Soares e Ícaro Novaes

Na semana em que o programa do governo federal completa 6 meses, balanços apontam resultados satisfatórios.

O programa Mais Médicos, do governo federal do Brasil, foi instituído pela Presidenta da República, Dilma Roussef, no dia 8 de julho de 2013. Trata-se de uma medida provisória visando os municípios do interior dos estados e periferias das grandes cidades carentes de médicos no Sistema Único de Saúde (SUS).
     O Ministério da Saúde pretende atingir o número de 13 mil médicos espalhados por todo o Brasil, porém apenas 6.658 chegaram em território brasileiro até o momento. A alocação dos primeiros que chegaram foram prioritariamente para 1.551 municípios de maior vulnerabilidade social, sendo 1.042 no Nordeste e 78 em Sergipe atualmente. O Ministério da Saúde paga aos médicos uma bolsa de R$ 10 mil acompanhada de um auxílio de custo, e o município que o alocou fica responsável pela moradia e alimentação.
   Em um cenário maior, o Ministério da Saúde propõe somado a esse projeto, uma aceleração nos investimentos para se ter mais e melhores hospitais e unidades de saúde, fazendo parte também de um amplo pacto para melhorar o atendimento aos usuários do SUS.
A terceira remessa de médicos está agendada para fevereiro com os médicos brasileiros e março para os estrangeiros.

   
Entrevistas

Macambira – Vladimir Pelegrin


   Na cidade de Macambira, 74 km da capital, falamos com o prefeito da cidade, Ricardo Souza, PSD, que começa dizendo que inscreveu o município no programa e recebeu um médico, devido a desistência de outras cidades, ele conseguiu mais um médico, totalizando dois. Depois informa que antes dos cubanos, o local já tinha a disposição da população local médicos como geriatra, clínico geral, cardiologista, pediatra, entre outros.    
   Em relação aos dois médicos cubanos da cidade, todas as despesas de responsabilidade do município são arcadas, como moradia e ajuda de custo que segundo o prefeito é num valor de 350,00 reais. Em seguida o prefeito dispara: “É um investimento pouco para o resultado que vai dar, um resultado grande.”
  Perguntado se houve melhoria na saúde após a chegada dos médicos cubanos o prefeito diz: “melhorou na questão do atendimento, no contato com a população. Por eles morarem no próprio município, eles não se incomodam de atender à noite, então, isso tudo facilita.”
  Sobre recepção dos médicos cubanos no município, por parte dos médicos brasileiros que trabalham na clínica, o prefeito logo diz: “não cumprimentaram nem os coitados quando chegaram, eu tive foi que intervir.” O problema foi apenas com um médico, com isso, Ricardo foi obrigado a fazer uma reunião, onde falou que dentro do local de trabalho deveria haver respeito, caso contrário, medidas seriam tomadas. Agora garante que está tudo normalizado.
Sobre os médicos, o prefeito finaliza “o povo de Macambira gostou muito!”
  Ao final da entrevista, o prefeito nos levou até a clínica de saúde, Raimunda Ribeiro “Dona Caçula”, que fica próximo ao centro da cidade. Chegando lá, ele teve uma conversa prévia com o médico de aproximadamente dez minutos. Logo depois disso, o médico Vladimir Pelegrin, nos atendeu em sua sala, com a Maria de Lurdes, 58 anos, que consultaria seu neto e que mostrou-se muito satisfeita com o atendimento. Logo em seguida, começamos nossa conversa.
Vladimir Pelegrin, tem 38 anos, católico, considera-se humanista e revolucionário. Tem 11 anos de profissão na especialidade de clínico geral, formado na Universidade de Pinar Del Rio, na província de Pinar Del Rio no oeste de Cuba, onde residia com seu filho de 4 anos.
Perguntamos para ele, o que o motivou vim para o Brasil junto ao programa Mais Médicos e ele responde que foi por solidariedade, que o povo cubano é muito solidário. Diz que veio ao Brasil para ajudar as pessoas que mais precisam.
   Em relação as condições de trabalho que o município dispõe, ele diz que se tratando de saúde, as pessoas merecem sempre mais, mas segundo ele, o município dispõe das condições básicas para que ele exerça sua profissão dignamente.
  Em relação a questão financeira do programa, quando perguntado sobre o repasse de verba do governo federal ao governo cubano, Pelegrin disse que não sabia desse repasse, que não se interessava por essa questão burocrática. O médico recebe seu salário, sua família em Cuba recebe um auxílio do governo e para ele está suficiente.
  O médico acha o programa uma boa iniciativa pois vai ajudar diretamente pessoas que necessitam de um maior apoio na área da saúde.
Sobre algum tipo de hostilização, Vladimir disse que isso não aconteceu com ele, indo contra ao que o prefeito disse.
   Finalizando a entrevista, o médico diz que está onde queria, fazendo aquilo que ama, que é ajudar as pessoas mais carentes, respeitando a todos e respeitando também a cultura brasileira.

Taiçoca de Dentro – Yudeles Peña e Yrelio Lugo

  O Posto Médico da Taiçoca de Dentro, município de Nossa Senhora do Socorro na grande Aracaju recebeu dois médicos cubanos, Yudeles Peña e Yrelio Lugo.
Cubana, 36 anos, casada e mãe de um filho de 4 anos, Yudeles Peña se formou na Universidade da província de Las Tunas, região no oriente de Cuba. Chegou em Socorro no final de novembro do ano passado e por enquanto está hospedada em Aracaju, no hotel Jacques, enquanto aguarda o local que foi prometido pela prefeitura em N. S. do Socorro.
   Abordada acerca da estrutura do seu local de trabalho, a médica afirma que há carência de materiais essenciais como pinças, ataduras, medicamentos intravenosos e outros equipamentos básicos, e que já haviam solicitados a Secretaria de Saúde. Yrelio, 47 anos nos informa que a unidade de saúde será reformada. Um outro problema citado por Yudeles é a falta de funcionários dentro do posto de saúde e de serviços de facilitação no atendimento, como agendamento de consultas online, falta essa sentida também por Yurelio.
  Yudeles, assim como os outros médicos cubanos, cita também a solidariedade com um dos motivos de ter vindo ao Brasil. Afirma que gostaria de manter contato profissional com médicos brasileiros, para que houvesse uma boa relação entre eles.
  Sobre a questão financeira, ela se mostra mais entendida que os demais médicos entrevistados, explicando que ela recebe seu salário, uma ajuda de custo, sua família em Cuba recebe outra quantia e disse ainda que tem uma conta bancária pessoal em seu país, explicando que o acordo rende benefícios para ela, Cuba, e para sua família que lá reside.
   Por fim, a médica se diz adaptada e satisfeita com o lugar e o que move essa satisfação é o prazer em ajudar as pessoas dessas localidades carentes de saúde pública, o que de fato, vale até o esforço de ficar longe da família, segundo ela.

Novos investimentos

   Com 6 meses após o lançamento do Mais Médicos, ainda há muito para se fazer.  E em paralelo não se pode esquecer dos investimentos nas estruturas da saúde pública programadas para este ano. De acordo com o Ministério de saúde, os investimentos devem chegar a R$ 15 milhões, em melhorias de hospitais e unidades de saúde.

27 de jan. de 2014

Repercussão do Mais Médicos

O programa concluiu o ano de 2013 com 6.658 médicos e a meta do governo é chegar a 13 mil até março deste ano

Por: Ellen Cristina e Luís Matheus Brito

Seis meses após o lançamento da medida provisória promovida pelo Governo Federal intitulada Programa Mais Médicos no dia 8 deste mês, o governo anunciou o quarto edital do Programa em 17 de janeiro, para os profissionais graduadas em instituições brasileiras ou estrangeiras.

Segundo a Agência Sergipe de Notícias, Sergipe possui 79 profissionais do programa, distribuídos em 31 municípios, sendo 11 brasileiros, dos quais dois se formaram no exterior, e todos os estrangeiros são cubanos.

De acordo com uma das médicas supervisoras de referência técnica da área de ensino CEPES (Centro de Educação Permanente em Saúde) Maria Aquino Gonçalves, os médicos brasileiros não aceitam trabalhar em locais interioranos, pois as condições são subumanas, onde falta infraestrutura, como remédios, curativos, macas e o que possuem para o atendimento básico não estão mais em condições de serem usados. Acerca da não realização do exame Revalida, ela diz: "Houve o burlamento da lei com a permissão do atendimento por médicos estrangeiros quando não fizeram o exame nacional obrigatório". Ela ainda falou que médicos que anteriormente trabalhavam no interior foram demitidos pela Prefeitura de Aracaju, pois com a contratação de outros pelo programa, quem pagará o piso salarial será o governo federal.

O estudante de Medicina da UFS (Universidade Federal de Sergipe) do quarto período Arthur Felipe Barbosa Vasconcelos, 19 anos, possui opinião dúbia sobre o assunto: "A medida é uma demagogia eleitoreira, o governo fala e a população desassistida cai. O problema é estrutura. Aumentam o número de vagas, mas não melhoram a estrutura, ficará uma bagunça maior. É um pouco triste, principalmente, para pessoas, como eu, que querem trabalhar no interior”. Perguntado sobre sua opinião acerca do não cumprimento do exame Revalida, ele diz que: "Os médicos exigem uma prova de revalidação, mas nem eles mesmos fazem um exame de ordem, como a OAB faz com o que querem advogar". Ele falou também que muitos estudantes levam o curso com a barriga e não possuem uma opinião formada ou deixam-se influenciar pela opinião da maioria sobre o assunto.

Prefeitura de Aracaju não vem pagando a ajuda de custo aos médicos

A aracajuana Daniela Alves Freire, 27 anos, formada na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), diz que um dos pontos negativos do programa é o não pagamento da ajuda de custo exigida da prefeitura no edital do programa. Ela diz já ter recorrido à Secretaria Municipal de Saúde, porém a secretaria ainda não se pronunciou: “Só querem que a gente trabalhe”, desabafa Daniela.

Graduada em julho de 2013, a médica aderiu ao programa, pois pode unir o trabalho aos estudos, além de poder trabalhar em sua cidade, Aracaju. Ela faz pós-graduação em medicina da família e retornou em dezembro à comunidade do bairro Santos Dumont, zona norte de Aracaju, na Unidade de Saúde da Família (USF) João de Oliveira Sobral.

Suas atividades na USF João de Oliveira Sobral se estenderam entre setembro a outubro de 2013, quando, mudou-se para a USF Eunice Barbosa de Oliveira no bairro Coqueiral, zona norte da capital, onde ficou até o início de dezembro. Daniela Freire conta que houve "um bullying" em sua atuação no bairro Coqueiral. Segundo ela, uma das médicas da unidade não admitia que ambas atendessem o mesmo número de pacientes, visto que Freire ganhava mais. Essa foi uma das causas que fez a profissional retornar à unidade do bairro Santos Dumont.

Unidade de Saúde da Família João Oliveira Sobral
Foto: Luís Matheus Brito
A professora Elizabethe Neves, 36 anos, diz que ainda não foi atendida pela médica, mas que soube das constantes faltas dela. Quando questionada sobre o assunto, Freire afirma que por falta de comunicação eficiente entre o posto e a comunidade, os cidadãos não possuem clareza de que ela realiza especializações através do programa durante as sextas-feiras.

Segundo o aposentado José Amintas de Souza, 56 anos, a chegada da profissional trouxe melhorias para o atendimento no posto, apesar da lotação constante: “Dia de segunda que é pior”, concluiu Souza.

Médicos cubanos em Lagarto

O município de Lagarto localizado na região agreste do Estado, a 75 km da capital sergipana, foi contemplado com dez médicos, todos cubanos, e sendo a prefeitura responsável pela logística e distribuição deles nas comunidades. A Clínica de Saúde da família Dr. Davi Marcos de Lima no conjunto Albano Franco em Lagarto, recebeu em outubro de 2013 o médico cubano Yoel Ângelo Arano Matamoro, 38 anos, e em novembro o médico Eugenio Rivera Cordeiro, 51 anos. Ambos encaminhados pelo governo cubano para participação no programa.

Cordeiro e Matamoro foram entrevistados no último dia 14, por volta das 15h30, após terem concluído seus atendimentos. Segundo Matamoro, ele atendeu 14 gestantes ao longo do dia: “Temos um cronograma de atendimento para toda a população: gestantes, idosos, crianças, visitas familiares”.

Eles já realizaram trabalhos humanitários na Venezuela. Cordeiro atuou entre 2006 a 2011 e Matamoro de 2007 a 2011, também sendo encaminhados pelo governo de Cuba. Para Matamoro, a primeira diferença que encontra entre o Brasil e Venezuela é a receptividade do povo. Os médicos foram questionados quanto à sua chegada ao país: “Em Brasília houve barulho” disse Cordeiro, já quando chegou à Aracaju, afirma que foi tranquilo, pois coincidiu com o falecimento do governador Marcelo Déda.

Os médicos cubanos passaram um período de 21 dias para a realização de avaliações e treinamento na cidade de Brasília em instituições do programa. Eles dizem ter vindo ao país sem possuir nenhum conhecimento em língua portuguesa e afirmam ter problemas para falar.

Clínica de Saúde da Família Dr. Davi Marcos de Lima, em Lagarto
Foto: Ellen Cristina
A infraestrutura dos postos de saúde foi uma das reivindicações apresentadas pela comunidade médica brasileira para não execução do programa. Os médicos cubanos dizem não ter passado por nenhuma dificuldade até agora, por tal questão, “Nossa medicina nós temos aqui [apontou para a cabeça]”, disse Matamoro, “Nós trabalhamos com nosso conhecimento, com nossa cabeça”, concluiu. Quando indagados sobre receberem do governo, tablets e livros, falaram que já possuíam, mas eles dizem ser antiético estar com eles quando estão atendendo.

A gerente da Clínica Dr. Davi Marcos de Lima, Josefa Maria Costa Silva, 48 anos, diz não passar por problemas com os médicos e que a comunidade “está adorando” a permanência deles. A técnica de enfermagem Maria Carolina, 33 anos, confirma o relato da gerente e conclui: “Eles estudam mesmo”. Quanto à infraestrutura do posto informaram que não há falta de nada, por enquanto. Cordeiro e Matamoro pretendem continuar a atuar no programa Mais Médicos após a estadia de três anos, caso o país necessite: “Nós trabalhamos onde seja preciso”, disse Cordeiro.

A respeito das famílias poderem os acompanhar, o assunto só fora tocado uma única vez pelos dirigentes do programa, porém quando já estavam em Brasília. A comunicação com Cuba também foi lamentada: "Lá não possui notebook, o único jeito de conversar é por telefone, e é muito caro, não tem nenhum plano, sai do nosso bolso", disse Matamoro. Quanto ao piso salarial, eles falaram que o salário é distribuído entre a família, o governo cubano e os médicos.

Da esq. à dir.: os médicos cubanos Yoel Matamoro e Eugenio Cordeiro; e a repórter  Ellen Cristina
Foto: Luís Matheus Brito


Com 6 meses de atividade, Programa Mais Médicos ainda divide opiniões

Medida provisória do Governo Federal, lançada em julho de 2013,  causou polêmica ao isentar profissionais estrangeiros de fazerem o Revalida.

Por Mírian Jesus e Danilo Barbosa

Seis meses após o seu lançamento, o Programa Mais Médicos, que veio com o objetivo de aumentar o acesso ao atendimento médico do SUS em regiões isoladas e periféricas, parece trazer os primeiros resultados, porém ainda não convenceu a todos como solução para a Saúde. Trazendo profissionais estrangeiros e brasileiros, sem a necessidade de revalidar o diploma por uma prova oferecida pelo Conselho Federal de Medicina, e sem se preocupar com a estrutura das Unidades de Saúde, o Programa ainda encontra resistência em alguns setores da sociedade.

As vagas foram prioritariamente oferecidas para médicos formados no Brasil, mas como não foram preenchidas, foram oferecidas a profissionais estrangeiros. Os médicos com diplomas do exterior receberam autorização profissional provisória, sem precisarem ser aprovados no Revalida, exame obrigatório para que profissionais formados fora do país possam atuar no Brasil, o que coloca em dúvida a qualidade profissional desses médicos. A autorização provisória é, no entanto, restrita à atenção básica e às regiões onde serão alocados pelo programa.

A jornada de trabalho é de 40 horas semanais, para as quais os médicos tem direito a uma bolsa de R$ 10 mil paga pelo Ministério da Saúde. Os profissionais também recebem ajuda de custo para moradia e alimentação, pagas pelas prefeituras das cidades. Já os médicos cubanos fazem parte de um regime de contratação diferenciado, eles atuam como prestadores de serviço de um pacote oferecido pelo governo de Cuba ao Ministério da Saúde, sob intermediação da Organização Pan-Americana da Saúde. Os R$ 10 mil da bolsa são repassados ao governo de Cuba, que por sua vez repassa entre 40% e 50% desse valor aos médicos.

Em Sergipe

De acordo com o Ministério da Saúde, 42 municípios Sergipanos aderiram ao programa, e 19 já receberam os médicos. Atualmente 50 profissionais já estão trabalhando, sendo que 29 destes são cubanos e 21 são brasileiros.

Em Carira, interior de Sergipe, onde a população ficou oito meses sem médico, a diretora do Hospital e Maternidade Maria Soares Dutra, Josineide Bispo, que recebeu em dezembro um médico cubano, destacou a importância da chegada do profissional, que já está atendendo as comunidades da região. “É um profissional muito humano. Ele tem um perfil de medicina preventiva, cumpre oito horas por dia e até agora não houve nenhuma reclamação de pacientes”, disse Josineide.

Na Unidade Básica de Saúde Muciano Cabral, no povoado Quissamã, Nossa Senhora do Socorro, duas médicas vindas de Cuba prestam serviço no atendimento básico e na urgência, além de, duas vezes na semana, visitarem os moradores junto com uma equipe do Programa Saúde da Família. No posto, apesar de ainda existir alguma dificuldade de comunicação entre as médicas e os pacientes, a aceitação das profissionais foi quase imediata. O nível de atenção e cuidado mostrado pelas novas médicas, é citado por Dona Elinalva, que é atendida no posto há 14 anos: “Elas são muito atenciosas com a gente, e quando a gente não entende alguma coisa, elas se esforçam de lá, como a gente também se esforça daqui, e no fim a gente consegue se entender”, disse a aposentada enquanto esperava sua vez de ser atendida.

“Eles falam para nós: Doutora, dá para entender.”

Essa foi a fala da médica Cubana Yudit Gutiérrez, quando indagada sobre as dificuldades de comunicação com os pacientes. Em seu consultório, após realizar as consultas marcadas para o turno da manhã, a médica falou sobre o seu trabalho, e quando questionada sobre a importância da medicina preventiva, disse: “A medicina preventiva é a base, e isso está sendo percebido inclusive nos países de primeiro mundo(...) Ensinamos a população como evitar a doença, como melhorar sua higiene, melhores formas de alimentação, controlar a hipertensão e o diabetes.”

Os profissionais estrangeiros recém-chegados no Brasil, foram submetidos a um treinamento especial em Brasília onde receberam aulas de português e instruções sobre  o funcionamento do SUS, e os principais males que afligem os Brasileiros, como a dengue e a malária. “Nosso preparo foi muito bom. Todos nós recebemos um treinamento em Brasília, para o idioma e as principais doenças que atingem os brasileiros.”, disse a médica em outro momento.

“Não faltam médicos ou enfermeiros, falta estrutura nas unidades de saúde”

Enfermeira com 10 anos de serviço em hospitais públicos e no Programa Saúde da Família, Joana D'arc tem uma opinião contrária ao programa, já que para ela,  a vinda dos profissionais estrangeiros não será suficiente para resolver os problemas da saúde, que em sua opinião são estruturais. “O que falta na saúde é uma boa administração. (…) Faltam medicamentos e exames, já esperei 9 meses por uma ultrasonografia, a criança nasceu e não sabiam a posição que ela estava” , disse a enfermeira.






























Sem ajuda do município, médica reclama do não comprimento do edital do Mais Médicos


Por: Jennifer Cristina e Rodolfo Rodrigo

Após três meses de implantação do Mais Médicos em Sergipe, a ajuda de custo proposta no edital não vem sendo paga na capital Aracaju. No contrato estabelecido pelo Governo Federal, em 8 de julho de 2013, é obrigatório que os municípios que aderiram ao programa assumam a responsabilidade pelo pagamento da ajuda de custo que é composta por moradia e alimentação. 

A médica, formada pela UFAL – Universidade Federal de Alagoas, Débora Correia Lessa, 32, que atua na capital de Sergipe, afirma que o programa está sofrendo uma grande oposição, principalmente das classes médicas, mas que ele é necessário e teria maior poder efetivo se a Secretaria Municipal estivesse cumprindo a risca com o proposto no edital.

“Aqui em Aracaju o programa não está andando muito por falta de apoio da secretaria municipal, falta estrutura básica nas unidades”. Desabafa.

Ela residia no estado de São Paulo e viu no programa a oportunidade de retorno a sua cidade natal. “Entrei no programa para voltar a Aracaju”, diz. A médica ressalta ainda: “O programa em si é válido, mas se posto em prática o que se propõe na teoria”.

'O problema não é trazer médicos de fora. O problema é trazer médicos cuja qualidade não foi testada', diz estudante de Medicina.

O estudante do sexto período do curso de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Wander Lima, 24, se põe contra o programa Mais Médicos e cita possíveis causas da falta de médicos no interior do país.
Wander diz que não tem como diagnosticar uma doença sem exames clínicos. “Falta estrutura física, de insumos (remédios, gazes, fios de satura, entre outros), de equipe multidisciplinar (enfermeiros, técnicos e psicólogo, assistente social), de férias, de décimo terceiro salário e, que ocorrem, muitas vezes, atrasos sérios de salário”, afirma.

O assunto é contraditório. O programa Mais Médicos visa ajudar, com a vinda de profissionais estrangeiros, na precariedade de médicos nos interiores, mas o estudante discorda. “Não visualizo necessariamente melhorias, ainda mais não tendo esses médicos feito o teste de revalidação”, argumenta.

Essa questão é dividida por grande número dos estudantes de Medicina que não aceita a falta do teste de revalidação. De acordo com o governo, o teste não é necessário porque esses médicos só estariam preparados a trabalhar em um local autorizado, como na atenção básica.

Já para Elma Raiane, não quis citar idade, estudante do segundo período de Medicina da mesma universidade, “O programa tem suas falhas e um fundo político duvidoso, mas é necessário”, avalia.

O programa

8 de julho de 2013 representa um marco na saúde básica do Brasil, a presidente Dilma Rousseff anuncia oficialmente o programa Mais Médicos com dois eixos na linha de frente. O primeiro é fixar médicos, brasileiros e/ou estrangeiros, na rede pública de saúde de municípios do interior e nas periferias das grandes cidades brasileiras, onde trabalharão com os Programas de Saúde da Família (PSF). Os profissionais do programa recebem bolsa de R$ 10 mil por mês e ajuda de custo pagos pelo Ministério da Saúde. Os municípios ficam responsáveis por garantir alimentação e moradia aos selecionados. O segundo é ampliar o curso de Medicina em dois anos, com formação voltada à atenção básica (1º ano) e setores de urgência e emergência (2º ano).

O anúncio dessas medidas governamentais configuradas no Programa tem suscitado muitas polêmicas e promovido acirrados debates. De um lado os conselhos de Medicina se posicionam contra, pelo fato de os médicos estrangeiros não passarem pelo Revalida, (prova de validação dos diplomas expedidos por universidades estrangeiras); do outro o governo federal que ver no programa uma forma de amenizar a atual situação da saúde no país.

O Brasil tem 1,83 médicos para cada mil habitantes. Dos 26 estados, 22 estão abaixo dessa média. A Organização Mundial de Saúde (OMS) não possui um parâmetro específico para cálculo dessa média, por isso o governo federal utiliza como referência a proporção encontrada no Reino Unido (2,7 médicos por mil habitantes) que, depois do Brasil, tem o maior sistema de saúde público de caráter universal orientado pela atenção básica.

Na região Nordeste todos os nove estados estão abaixo da média nacional, sendo Sergipe o segundo com a melhor média 1,3 médicos para cada mil habitantes, só fica atrás de Pernambuco, que possui o melhor índice da região 1,39 médicos/ mil habitantes.

Em Sergipe, cerca de 42 municípios, dos 75, aderiram ao programa do governo federal, entre eles a capital Aracaju. Foram selecionados inicialmente oito médicos para atuar na capital, destes apenas quatro estão em atuação, três desistiram por terem sido selecionados em cursos de pós-graduação e uma estrangeira de origem espanhola pediu transferência para o estado da Bahia.

Os médicos atuarão nas Unidades de saúde da família nos bairros da periferia de Aracaju, localidades carentes de atenção básica a saúde.



A estratégia “Saúde da Família” surgiu como uma proposta preconizada pelo Ministério da Saúde para viabilizar a implementação dos princípios do SUS, reorganizar a Atenção Básica.

Para o Médico José Hudson de Figueiredo, 58, fundador do Programa Saúde da Família (PSF) em Aracaju o SUS é o maior programa social de saúde, mas falta investimento e uma administração séria e comprometida. Ainda segundo ele, é irrisório o valor que a nação brasileira investe em saúde.

“O PSF não é um ambulatório e hoje infelizmente se tornou um. O programa visava tratar, mas principalmente prevenir a doença, com educação e saúde. O atendimento era feito no horário da manhã e à tarde havia reuniões com a população gestante, hipertensa, diabética uma verdadeira aula de educação e saúde”, argumenta.

“Hoje o PSF está totalmente desvirtuado e sem verbas. O programa Mais Médicos é necessário, mas não do jeito que foi feito. Do jeito que está parece ser de cunho político, porque esta reivindicação já havia sido feita pelo Conselho Federal de Medicina, com a instituição da Carreira Médica”, relata.

A Unidade de Saúde do Porto Dantas

Situado na zona Norte de Aracaju, com população estimada em pouco mais de 10 mil habitantes (IBGE 2010). Localizado na Rua Antônio dos Santos, 468, a Unidade de Saúde da Família do Porto Dantas conta hoje com três médicos, de apoio e da família. A incorporação da médica selecionada no programa Mais Médicos mudou a rotina na unidade e intensificou o número de atendimentos.

Paciente

A dona de casa, casada e mãe de dois filhos, Marilene Lima da Silva, 37, aprova o trabalho dos médicos e do programa. “Amei o atendimento”, afirma.

Na última sexta-feira, 17, Marilene disse que não conhece muito o Mais Médicos, mas gosta da iniciativa. “É bom. Falta muito médico, pessoas morrem em hospitais por falta de atendimento, de médicos e de medicações”, completa.

Seis meses de Mais Médicos Em Aracaju

Após um começo duramente criticado por entidades médicas, estudantes e a oposição do governo Dilma, o Mais Médicos continua gerando polêmicas. Falta pagamento da ajuda de custo, falta estrutura física nas unidades de saúde e apoio das secretarias. De um lado, a população encontra-se satisfeita, agora as unidades de saúde tem médicos da família presentes e regulares. Por outro, essa presença não resolve o problema da saúde no município.


Entre erros e acertos: um balanço do Mais Médicos em Sergipe

Com quatro meses em pleno funcionamento, o Programa mostra resultados significativos para a população sergipana
Por: Flavio Henrique Ferreira e Iris Brito Lopes

De acordo com dados da Demografia Médica Brasileira de fevereiro de 2013, o Nordeste tinha a segunda menor razão médicos/habitantes do país. Em Sergipe, a capital, Aracaju, possuía uma média de 4,95 profissionais para cada 1.000 habitantes. Nas cidades interioranas a taxa era de 0,09 e a média do Estado era 1,42. Atualmente, segundo o Governo Federal, essa média é de 1,3.
O Programa Mais Médicos (PMM), implantado pela Presidenta Dilma Rousseff em julho do ano passado e em funcionamento nas unidades de saúde há quatro meses, tem como principal objetivo sanar a desigualdade na distribuição do atendimento à saúde, levando médicos para as regiões mais afastadas e carentes do país.
Nos dois primeiros ciclos do Programa, Sergipe recebeu 78 médicos, entre brasileiros e estrangeiros. Nossa Senhora do Socorro foi contemplada com seis profissionais cubanos, distribuídos igualmente entre os povoados de Taiçoca de Fora, Taiçoca de Dentro e Guajará. 
O médico Yudelquis Rodriguez, formado há 11 anos e desde então atuante na assistência básica, foi escalado para atender pacientes de uma área da Taiçoca de Fora que estava sem médico há mais de um ano, na Unidade Prefeito Luiz Pereira da Silva. “Eu vim para ajudar o povo brasileiro que precisava de médico”, diz Yudelquis, justificando sua vinda espontânea ao Brasil. Nesse tempo de experiência ele diz não ter encontrado muitas dificuldades, apesar do processo de adaptação: “As doenças, seus sintomas e tratamentos são os mesmos tanto aqui, como em Cuba, como em qualquer lugar”, afirma. Ele diz ainda que foi o povo sergipano que lhe deu estímulo. “A recepção em Brasília foi muito boa, mas quando cheguei aqui [aeroporto de Aracaju] e vi todas aquelas pessoas me esperando e dizendo aquelas palavras tive vontade de continuar”, conclui.
“Antigamente tinha que vir de madrugada pegar ficha. Tinha gente que vinha pegar pra vender de manhã. Hoje a gente pode vir qualquer horário”, disse a dona de casa Iara Rodrigues Santos, que chegou à Unidade às 11 horas.  Para Iara, o grande problema do posto é o horário de funcionamento – das 8h às 18h de segunda a sexta – “O bom seria se funcionasse direto”. Além disso, os médicos não ficam no posto até o fim do expediente. Depois que o último paciente marcado é atendido eles se retiram.

A situação em São Cristóvão

A cidade de São Cristóvão, distante 26 km a leste de Aracaju, recebeu três médicos provenientes do PMM que atuam em três unidades básicas de saúde. Um atende na sede da cidade, outro no conjunto Eduardo Gomes e outro no povoado Cabrita (que atende também o povoado Várzea Grande). Nossa equipe ouviu a avaliação feita por pacientes que esperavam por atendimento em duas dessas unidades. Na unidade Gov. Valadares, situada na sede, um senhor de nome José Pedro reclamou que o atendimento ficou mais demorado desde que a médica do Programa passou a atender naquela localidade. Neste momento, a dona de casa Ângela Sousa, 51, rebateu a acusação, argumentando que as consultas ficaram mais demoradas porque a doutora examina o paciente com mais cuidado, e que agora não é mais como antes quando “o médico nem olhava para a cara da gente”. A profissional em questão é a Dr.ª Sandra Glaucia da Conceição, 33, sergipana graduada na Escola Latino Americana de Medicina em Cuba e que, apesar de ser brasileira, tem uma visão cubana da prática médica, pois dos sete anos de profissão, seis foram exercidos na Ilha. Ela assumiu uma equipe de saúde da família que estava sem médico há mais de um ano, pondo fim ao remanejamento de usuários para outras equipes.
No posto do Eduardo Gomes, o Maria José Figueiroa, encontramos opiniões divergentes sobre o Programa. A dona de casa Rose Mary, 47, disse ser a favor da vinda dos médicos estrangeiros, pois sente neles uma grande vontade de trabalhar em localidades onde muitos médicos brasileiros não querem. Já Isabel Cristina, 34, moradora do Conjunto desde sua fundação, disse que “os médicos não quiseram ir para áreas carentes porque estão cansados de não ter como trabalhar”. Ana Gabriela de Santana, 28, sergipana graduada em Tocantins há seis meses, é a médica que chegou ao Estado por meio do Programa e atua na unidade em questão. Sua atual equipe estava há um ano e meio sem médico e também passava pelo processo de remanejamento dos pacientes, segundo o que revelou a enfermeira da equipe, Andrea Gois, de 31 anos, e que trabalha no posto há sete. Para ela, a chegada da Dr.ª Gabriela melhorou a situação dos atendimentos, mas não foi suficiente para solucionar todos os problemas existentes na Unidade.

Irregularidades e velhos problemas

Durante a apuração do andamento do Programa Mais Médicos no município de São Cristóvão, nossa equipe se deparou com algumas irregularidades. O Governo Federal, através do Ministério da Saúde, paga um salário líquido de R$ 10 mil ao médico participante do Programa. Além disso, determina que a prefeitura de cada município arque com as despesas de moradia, transporte e alimentação. A Dr.ª Sandra Glaucia, bem como a Dr.ª Ana Gabriela, afirmam que ainda não receberam os auxílios desde que iniciaram as atividades na cidade. O Ministério Público já está ciente da situação e exigiu a correção do problema, sob pena de retirada do Programa do município inadimplente. 
O secretário interino da cidade, Júlio César Cardoso, que assumiu o cargo há menos de duas semanas, reconhece a irregularidade quanto à alimentação e promete corrigi-la o mais rápido possível. Quanto à moradia, disse que acha justo o profissional residir na cidade onde trabalha e caso isso seja coberto pelo programa, pretende exigir comprovante de residência em São Cristóvão para só então quitar o débito.
Observando a estrutura do posto médico do Eduardo Gomes, notamos o nome de Ana Gabriela nas tabelas de plantão da urgência e do ambulatório da unidade, o que poderia caracterizar uma dualidade de vínculos profissionais. Ela defende que seu nome está na tabela da urgência porque a repartição tem um déficit de profissionais, e sempre que pode cobre as duas divisões, apesar de só manter vínculo empregatício com o ambulatório, como exige o PMM. Segundo ela, não faltam medicamentos nem materiais necessários para a realização do seu trabalho.  Porém, numa passagem pela farmácia, entre muitas outras pessoas, a paciente Francisca Geni, 51, não conseguiu o remédio para verme do qual precisava. De acordo com uma das responsáveis pela farmácia, que pediu para não ser identificada, na unidade falta “uma boa quantidade de remédios básicos, e sempre falta para diabetes, colesterol e para pressão arterial.”, afirmou.

Mais médicos: Programa completa 6 meses.

Por: Alisson Castro e Amanda Santos

Depois de seis meses, o programa "Mais Médicos" continua sendo um assunto muito polêmico, com embates entre o governo federal e entidades médicas. Lançado por medida provisória em julho de 2013, suas atividades no estado de Sergipe tiveram início em outubro do mesmo ano. O estado recebeu ao todo 78 profissionais, entre eles nove brasileiros e 69 estrangeiros. As cidades para onde os médicos foram enviados são escolhidas com base no número de médicos per capta e pelo índice de desenvolvimento humano. Foram priorizadas as cidades com mais de 20% da sua população abaixo da linha da pobreza.


Formação dos médicos estrangeiros e revalida

Segundo o chefe de convênio e gestão do Ministério da Saúde em Sergipe, Anderson Faria, todos os médicos são formados e com experiência de trabalho no seu país de origem e em outros países. Ele cita exemplos de médicos que já trabalharam no continente europeu e africano, como o Dr. Rodolfo Garcia, representante dos médicos cubanos no estado. É formado pela universidade de Havana e já trabalhou no continente africano, em Burquina Faso. Ainda segundo Anderson, o Revalida se faz necessário no caso dos médicos quererem permanecer no país após expirado o seu contrato com o programa. O médico fecha um contrato de 3 anos que pode ser renovado ou não, e ao fim de 6 anos, caso haja renovação, o profissional precisará fazer o Revalida para trabalhar no país.

Concorrência com os médicos brasileiros

Os médicos brasileiros possuem preferência entre as vagas ofertadas pelo governo e está proibido a demissão dos profissionais do país, a menos que seja por justa causa, para que o substituam por um estrangeiro. Nas palavras do chefe de convênio e gestão do ministério da saúde em Sergipe: “Os médicos estrangeiros estão trabalhando onde os brasileiros não querem trabalhar”, disse Anderson Faria. Segundo ele, os profissionais de medicina estão acostumados com altos salários por conta da pouca concorrência profissional, o que faz com que eles não aceitem trabalho nos lugares mais afastados. Os médicos estrangeiros também não podem trabalhar no setor privado da saúde no país.

Infraestrutura da rede de saúde no estado

Segundo o Ministério da Saúde, o Programa Mais Médicos inclui o investimento de aproximadamente R$15 bilhões na infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde e novas contratações direcionadas para regiões que sofrem com a escassez de profissionais da saúde. A meta do governo é aumentar a proporção de médicos por habitante. No estado de Sergipe, segundo o diretor de atenção integral à saúde João Lima Júnior, já foram investidos R$ 42 milhões desde o começo do programa. A falta de estrutura é um problema apontado tanto pelos estrangeiros quanto pelos médicos brasileiros. O Dr. Rodolfo afirma que enfrenta problemas em algumas localidades, sobretudo, nas regiões mais afastadas como nos povoados da cidade de Nossa Senhora das Dores e de Capela, onde em algumas ocasiões é preciso deslocar os equipamentos entre as cidades, mas salienta que esta dificuldade não impede o bom atendimento à população. Não é o que pensa a Dra. Alannys Almeida, médica formada na UFS- Universidade Federal de Sergipe, ela ironiza que: “Acontece um faz de conta no interior, por falta de equipamentos”. Segundo ela o que se faz é dar um atendimento superficial aos doentes. Ela dá como exemplo o posto de saúde em que trabalha como urgentista, no bairro Roza Elze, em São Cristóvão, cidade que faz parte da grande Aracaju, onde faltam equipamentos e os que existem não funcionam. Brinca também com o fato dos médicos do programa receberem tablets: “é engraçado os médicos receberem tablets para atuar em postos sem internet sem fio”. 

O atendimento

O atendimento é um ponto que recebeu muitos elogios por parte dos pacientes. A senhora Jucileide Sousa, que mora em Nossa Senhora das Dores deixa isso claro: “o atendimento foi ótimo, o médico toca na gente”. A consulta de dona Jucileide demorou cerca de 15 minutos e ela diz ter entendido o que o médico disse. Os médicos estrangeiros passam por um curso de língua portuguesa em Brasília que dura 3 semanas, e terminado este são liberados para trabalhar. Eles também fazem um curso online de saúde da família, ministrado por professores da UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em relação ao entendimento da língua as opiniões são controversas a senhora Jucileide que foi atendida pelo Dr. Rodolfo diz ter entendido bem o que ele havia dito, no entanto pesa a favor do médico em questão o fato de ele já ter passado dois anos no Brasil antes do programa. O senhor José Maria, morador de Capela, relata que teve dificuldades de entender o que a Dra. Lilian Rivero, médica cubana formada em Matanzas e que já trabalhou na Venezuela, teria dito.

Perguntado sobre a diferença entre o médico cubano e o brasileiro o Dr. Rodolfo Garcia foi enfático “A medicina cubana é mais humanizada” e mais “Nós estamos acostumados a trabalhar na comunidade”. O médico dá um ótimo exemplo do que diz, ele realiza um programa de educação sanitária e exercícios físicos para os idosos de Gado Bravo do Sul, um povoado de Nossa Senhora das Dores. Esse programa acontece de terça à quinta, das 6:00 às 7:00 da manhã.

Condições de vida em Sergipe

Os municípios que receberam os médicos têm de arcar com as despesas de moradia e alimentação dos profissionais. Cada moradia bancada pelo município é dividida por dois médicos. Dr. Rodolfo afirma: “Nós não nos importamos em dividir a casa, nós somos irmãos.” Ele divide uma casa no centro de Dores com o Dr. Rolando Mustelier que também é cubano, formado na Universidade de Oriente. Também dividem a demanda de atendimento nos povoados da cidade, onde Dr. Rodolfo atende os povoados do sul e Dr. Rolando os povoados do norte da cidade.

Repasse salarial

O repasse salarial é feito através de um convênio fechado entre o Brasil, a Organização Pan-Americana de Saúde - (OPAS e Cuba). O governo brasileiro passa pra organização $10 mil reais líquidos, a organização passa esse dinheiro para o governo cubano, que fica com uma parte, transfere uma outra para a família dos médicos e manda o resto para os integrante do programa. Perguntado a respeito da quantia que fica com os cubanos que trabalham aqui, Anderson Faria, o chefe de convênio e gestão do Ministério da Saúde em Sergipe, declarou: “Eles escolhem o quanto querem receber”. Já o Dr. Rodolfo Garcia foi enfático: “Para nós o dinheiro não é o mais importante” e ainda “Não comentamos o repasse entre Cuba e nós”. Já a Dra. Alanny Almeida diz que existe um motivo para não se falar do assunto “Isso é jogo político, os médicos cubanos recebem uma miséria”.





Lagarto possui dez cubanos do Programa Mais Médicos

 Município com maior número de médicos cubanos em Sergipe enfrenta problemas de estrutura em postos
                                                                                                    Por Marília Santos e Yago de Andrade

Seis meses após ser lançado, o Programa Mais Médicos do governo federal já conta com 6.658 médicos (88% estrangeiros e 12% brasileiros) e busca atingir 13 mil até março deste ano. Para a terceira etapa, a proposta inicial era de 6,3 mil médicos, porém, somente 888 foram habilitados, sendo 466 intercambistas e 422 brasileiros formados no país. Com isso o governo terá a opção de “importar” 5412 médicos cubanos para atingir as metas.

O Programa chegou aos municípios sergipanos em outubro passado e tem melhorado a vida da população carente de povoados que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, alguns municípios como Lagarto ainda tentam resolver problemas de estrutura em postos.

O município de Lagarto, na região centro-sul de Sergipe, 75 km da capital Aracaju, recebeu 10 médicos, todos cubanos, (seis no primeiro ciclo e quatro no segundo). Porém, mesmo com a vinda dos médicos, alguns postos continuam funcionando de maneira improvisada, como o situado no povoado Colônia Treze. Em um galpão com divisórias de madeira, pacientes sentados em macas e bancos sem conforto, lixo em contato com o ambiente da recepção e falta de ventilação nos consultórios denunciam os problemas estruturais, que não têm previsão para serem solucionados.

A médica cubana, Taimara Machin Gomez, que trabalha no povoado, na Unidade Básica de Saúde Goretti Reis, tem dificuldade de chegar ao posto, já que mora no centro de Lagarto e depende do transporte da Secretaria de Saúde, atrasando assim os atendimentos. Com 7 de profissão e uma passagem de 4 anos pela Venezuela, Dra. Taimara considera a cultura do país o principal fator de diferenciação. Ela afirma que não se incomodou em dividir casa com outros médicos, porém, divide quarto com outra médica. “Não pode, a secretária disse que mudaríamos, mas até agora não disse mais nada”, afirmou preocupada com a situação.

Uma enfermeira, que não quis ser identificada por medo de rescisão de contrato, trabalha em um povoado, também num posto improvisado, uma casa de condições precárias. Tem em sua equipe uma médica cubana e afirma que esta também depende do transporte cedido pela secretaria e apresenta problemas de horário de início de atividade. A funcionária se diz favorável ao Programa, frisando que em Lagarto “os médicos não querem trabalhar em povoados. Tem médico que só aparece uma vez por mês”, afirma.

Formado na Universidade Dr. Ernesto Che Guevara, em Pinário Del Rio,Cuba, Dr. Eugênio Rivera, 51, exerce a profissão há 27 anos e decidiu se inscrever no programa por querer ajudar, “Nós cubanos, temos o princípio da internacionalização. Ajudamos países que precisam”. O médico trabalhou anteriormente por 5 anos na Venezuela, em missão especial, proposta pelos dois governos e coordenado pela Organização Mundial da Saúde(OMS). Cuba mantém essa política desde 1978, os estudantes de medicina se comprometem a ajudar países necessitados.

Estrutura dos postos

A dona de casa Eliana Menezes, 51, usuária da Clínica de Saúde Dr. Davi, no bairro Loyola, esperava sua primeira consulta com o cubano, e sua maior preocupação era o idioma. Mas, após a consulta, saiu satisfeita.
Segundo Dr. Eugênio, as críticas sofridas pelos médicos cubanos no início do programa não o atingiram diretamente, “felizmente não tive nenhum confronto”, disse ele em relação aos médicos do posto em que trabalha. Admite que tomou conhecimento das críticas de maneira superficial e lamenta o fato ocorrido.
Dr. Yurex Alberto Dias Morales, 35, e 8 de profissão, que trabalha no bairro Ademar de Carvalho e mora na mesma residência de Eugênio e Taimara, afirma que “lá (Cuba) há uma melhor distribuição de pessoal”. Ele considera o ensino em seu país mais democrático ao dizer que “todos podem ser médicos, eu sou de família humilde e pude estudar medicina”, orgulha-se.

A diretora do Núcleo de Atenção Básica, Maria Madalena Fontes Santos disse, em rápida entrevista, que Lagarto aderiu ao Programa pelo mesmo motivo de todo o Brasil, a necessidade de melhoria do atendimento à população. Na distribuição dos médicos pelos municípios, procurou os postos com melhor estrutura e que não possuíam médicos, contradizendo as condições observadas pela nossa equipe de reportagem.

O Programa

O Programa convoca médicos brasileiros e estrangeiros para atuar nas áreas carentes do Brasil. O Governo Federal adotou a medida devido ao baixo índice de médicos no país (1,8 /1000 hab.), sendo menor nas regiões Norte (0,92) e Nordeste (1,03), o Mais Médicos busca diminuir esse deficit. Também propõe residência obrigatória para os graduados em Medicina, com duração de dois anos. A expectativa é a de criar 12 mil vagas até 2017.
O Estado possui uma média de 1,3 médicos para cada mil habitantes. Chegaram ao Estado um total de 78 médicos, sendo 57 cubanos, 19 brasileiros e dois intercambistas.
Os municípios mais beneficiados foram: Lagarto (10), Nossa Senhora do Socorro (06), Aracaju (05), Capela (05) e Poço Redondo (05).

Críticas

Várias entidades médicas se opõem ao PMM, entre elas, o Conselho Federal de Medicina (CFM) que pede a aplicação do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida) para os estrangeiros. Segundo o Governo Federal, os médicos do Programa só poderão exercer a profissão dentro do programa, por isso não haveria necessidade da realização do exame.

Profissionais da saúde

Através de estudos e do período de dois meses que passou em Cuba, o enfermeiro José Magno Alves dos Santos, 40, contou que os médicos cubanos são treinados com alta tecnologia, mas também são preparados para lidar com diversos tipos de catástrofes, por isso a capacidade de “improvisar” e de se adaptar às dificuldades na estrutura. Também mencionou a solidariedade dos cubanos, que segundo ele, não faz parte somente da área médica, mas está presente em “todo o povo cubano”.
Para ele, a sociedade brasileira coloca o médico num patamar que o faz sentir-se acima dos profissionais de outras áreas e que o PMM tenta mudar essa visão, ao propor que o médico "vá até a população, não o contrário". Esse seria o principal motivo das críticas por parte dos médicos para com o Programa.

Sobre o Revalida, José diz ser “perfeito”, pois, a não realização do exame faz com que o médico se fixe no local, o que seria bom para população. Segundo ele, as críticas sobre o Programa seriam um “engodo da mídia e do CFM para denegrir o Mais Médicos”, disse o baiano natural de Irecê.

Estudantes

Raimundo Dantas Junior, estudante do 3º período de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, concorda parcialmente com o Programa. É favorável à vinda dos médicos, porém, acredita que os estrangeiros devem passar pelo Revalida, pois “é necessário ter uma comprovação sobre a eficácia deles”, diz. Raimundo mencionou seu contato com médicos cubanos e, apesar de não encontrar falhas nestes profissionais, acredita que outros podem não oferecer segurança aos pacientes. “Já tive a oportunidade de presenciar o trabalho de alguns médicos cubanos e eles são bons, mas, devem existir outros que não são bem qualificados e isso aí temos que buscar saber”, disse o estudante.

Genilson Ribeiro Santos, 7º período de Medicina da UFS é um dos poucos da classe que apoiam o Programa. Para ele, a ida de médicos para as áreas carentes será importante, porém, faz questão de salientar que a vinda dos estrangeiros deve ser tratada como medida provisória. “Foi um Programa bem pensado, como medida paliativa, como medida definitiva não irá resolver o problema da saúde”.

Sobre a opinião contrária ao Programa por parte de alguns estudantes de Medicina, Genilson aponta a falta de informação como principal causa da discordância, destacando o receio de que estes possuem em relação à concorrência com os médicos estrangeiros no mercado de trabalho: “eles têm medo que os estrangeiros fiquem definitivamente e que o curso de Medicina deixe de ser visto como a ‘chave mágica’ para seu sucesso financeiro”.
                                             

Mais Médicos: a participação dos profissionais cubanos em Sergipe

Por Nathalia Gomes e Taís Cristina

O Programa Mais Médicos está em execução desde 08 de Julho de 2013 e foi criado pelo Governo Federal com o intuito de levar saúde básica para os lugares mais periféricos do Brasil, e áreas de maior carência destes profissionais. Inicialmente esperava-se que muitos médicos brasileiros se inscrevessem no programa, mas isso não aconteceu, e a grande parte dos médicos é de estrangeiros, e em sua maioria cubanos.

 O estado de Sergipe recebeu em seis meses de programa, 78 profissionais, abrangendo a capital Aracaju e mais 28 municípios. Entre eles estão Macambira, com dois médicos e Nossa Senhora do Socorro, com seis médicos, que revelaram, por parte do governo de seus municípios e população, resultados satisfatórios, e por parte de médicos naturais daqui e estudantes de medicina, críticas quanto à estrutura e modo de selecionar esses profissionais.

Oposição

Nestes seis meses de programa há muitas críticas, seja por parte do Conselho Federal de Medicina - CFM, que aponta que o país não precisa de “Mais Médicos”, e sim de uma melhor redistribuição de médicos; e também dos estudantes de Medicina, que na maioria das vezes são contra o programa, alegando que para atuar no Brasil qualquer médico precisa passar por um teste apelidado de Revalida, o qual consiste em testar padrões brasileiros o profissional está apto a exercer a Medicina. Porém o Programa Mais Médicos contratou médicos sem exigir o “Revalida”. Segundo a estudante de Medicina Adenilza Mendonça (8º período-UFS): “Já que o Revalida foi dispensado, fica claro que os cidadãos estão sendo assistidos por profissionais não habilitados o suficiente, e consequentemente estão sujeitos a erros médicos”.

Outro problema apontado por estudantes de Medicina é a dificuldade de comunicação entre médico-paciente, levando-se em conta os médicos estrangeiros. De acordo com a estudante de Medicina Carla Vanessa (6º período-UFS): “Não é exigido proficiência na língua, algo bastante importante, visto que a consulta médica feita baseia-se na anamnese, que é trazer de volta à mente todos os fatos relacionados à doença e à pessoa doente.”

Macambira

Não é o que relata a médica cubana Eudália Covas (35), que se inscreveu no programa e está atuando na Clínica de Saúde da família Raimunda Ribeiro dos Santos, localizada em Macambira, agreste sergipano, a 58 Km da capital Aracaju. “Os pacientes entendem tudo o que eu falo, e pelo que vejo eles gostam da minha consulta. Não há dificuldade nenhuma na realização do meu trabalho porque a estrutura da clínica é boa e a prefeitura está arcando com todos os custos cabíveis a ela, está sendo uma experiência muito boa trabalhar aqui em Macambira.”

A paciente Josefa Alves (38), avalia o atendimento da seguinte forma: “O atendimento dela é muito bom, a presença dela aqui na clínica está sendo muito importante, além disso não houve nenhum problema com relação a língua. Eu entendo ela e ela me entende.”

Na cidade de Macambira foi criada uma comissão para receber e dar suporte aos dois médicos cubanos participantes do programa, esta comissão é coordenada por Joselice Batista (53), tem o apoio da Prefeitura municipal, tendo à frente o prefeito Ricardo Souza. Joselice afirmou que com a chegada dos médicos na clínica de saúde tudo melhorou: “Agora tem médico não só aqui na clínica, mas nos povoados também; os pacientes gostam das consultas deles, agora as coisas estão melhorando por aqui.”

Nossa Senhora do Socorro

Nossa Senhora do Socorro, na "Grande Aracaju", também foi um dos municípios que aderiram ao programa. De acordo com a diretora geral de saúde do município, Eliane Cristina, “Socorro tem uma grande dificuldade em ter profissionais médicos. Quando a gente aderiu ao Programa Mais Médicos, de 62 equipes, a gente tinha 19 sem médicos, então esse foi o grande motivo da gente ter feito essa adesão.”

O município conta na atualidade com seis médicos, todos cubanos. No bairro Taiçoca de Fora, a população tem contado com o atendimento do Dr. Yudelquis Rodrigues Hernándes, e no bairro Guajará, da Drª. Yudenia Montoya Martinez.

O médico Yudelquis afirma que a relação com os pacientes tem sido muito boa. “Nós estamos estudando português, e mesmo não falando muito bem, eles entendem tudo, eles estão gostando de nós.” A médica Yudenia também confirma a boa relação que tem tido com os pacientes do bairro Guajará: “A população é muito carente, as pessoas são muito sensíveis, nos tratam bem. A população tem gostado do nosso atendimento e nos entendem”.

Confirmamos isso com a paciente Iolanda Viana, que esperava consulta com o médico Yudelquis na Unidade Básica de Saúde Prefeito Luiz Pereira da Silva, no bairro Taiçoca de Fora, com o qual ela já havia se consultado uma vez: “Estamos tendo um atendimento ótimo, a chegada desse médico aqui foi uma maravilha. Não tenho o que reclamar. Não tenho tido problema em me comunicar com o médico. Sei que ele não fala bem a nossa língua, mas eu entendo.”

O atendimento médico em Socorro melhorou muito com a chegada dos médicos. Pessoas que antes tinham que ir de madrugada e dormir na fila para conseguir marcar uma ficha para ser consultado agora contam com médicos de segunda a sexta, trabalhando em tempo integral. É o que conta o paciente Wellington Batista, que já se consultou duas vezes com o médico cubano na Unidade de Saúde da Taiçoca de Fora: “Antes era terrível, a gente tinha que dormir aqui. Três ou duas horas da manhã a gente tinha que chegar aqui pra pegar uma ficha. Agora, a hora que vir, de manhã ou de tarde, tem atendimento.”

Pouco mais de três meses no país, os médicos afirmam que não receberam nenhuma espécie de oposição desde que chegaram e que foram recebidos bem. A médica Yudenia diz que pelo fato deles terem sido o segundo grupo de médicos eles não receberam críticas ou hostilizações. “O primeiro grupo foi o que apresentou problemas na recepção.”

Os médicos, que confirmaram ter recebido devidamente a ajuda de custo da Prefeitura de Socorro, como moradia, transporte e alimentação, relatam que uma das dificuldades que enfrentam quanto à realização do seu trabalho é a estrutura das equipes de saúde. A médica Yudenia relata que tem encontrado dificuldades em cobrir toda a população que corresponde ao seu atendimento. “Minha população é muito grande, cerca de mil famílias para atender. Só tenho uma agente de saúde trabalhando em minha equipe e muitas áreas descobertas, porque não tenho agentes de saúde para cobrir essas áreas”.

Além do atendimento no posto de saúde, os pacientes também contam com a consulta em suas próprias casas. A diretora geral de saúde de Socorro, Eliene Cristina, diz: “Tem profissionais médicos que não gostam de realizar visita domiciliar, já eles fazem questão de ir, de conhecer o ambiente em que a pessoa vive, pra poder tentar estudar o caso daquele paciente, que às vezes pode ser que só a medicação não vá dar conta”.

A paciente Iolanda Viana fala sobre quando precisou de atendimento domiciliar para sua mãe: “Minha mãe não ‘tá’ podendo vir ao posto, e ele, graças a Deus, consultou a minha mãe em casa. Eu sou muito grata.”

Os médicos cubanos que atendem em Socorro já têm experiência com programas parecidos com o Mais Médicos. Eles trabalharam por cinco anos na Venezuela, atendendo a população mais carente. Quando perguntados se tinham interesse em trabalhar mais tempo aqui, caso o programa fosse prorrogado, ambos negaram, pois deixaram familiares em Cuba e apesar de estarem gostando do trabalho aqui, eles têm interesse em voltar para terra natal para estarem próximos de suas famílias.

Programa Mais Médicos em Sergipe: resultados, melhoras e dificuldades

Após quatro meses, a vinda de médicos estrangeiros tem contribuído para a saúde no Estado, porém também apresenta dificuldades.
Por Julia Freitas e Yasmin de Freitas

Longas filas, demora no atendimento e na realização de exames, ausência de médicos e medicamentos. A situação da saúde em nosso país pode ser definida em uma palavra: precária. Buscando uma melhoria no atendimento dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), o Governo Federal conseguiu aprovar a medida provisória MP 621/2013, que criou o programa Mais Médicos, em outubro de 2013. O Programa terá uma duração de três anos, podendo ser prorrogada por mais três, e, durante esse período os médicos participantes receberão uma bolsa-formação no valor de R$ 10 mil. 

Passados seis meses, o Nordeste foi a região que recebeu o maior número de médicos, 2967. Os quais foram distribuídos em 1156 municípios. Sergipe recebeu 78 médicos inscritos no programa – 67 cubanos, 11 brasileiros – que foram alocados em 32 municípios do estado.

Mais Médicos em Sergipe

O município de Nossa Senhora do Socorro, localizado na região metropolitana de Aracaju, que tinha um déficit de 13 médicos, recebeu seis médicos cubanos que foram distribuídos nos postos Muciano Cabral, no bairro Guajará; José Alves dos Santos, no bairro Taiçoca de Dentro; e no posto Prefeito Luiz Pereira da Silva, no bairro Taiçoca de Fora. E, segundo Yonara Santa Rosa, assessora técnica da Secretária de Saúde do município, a Prefeitura aguarda uma resposta do Ministério da Saúde sobre a solicitação de novos médicos já para a próxima convocação, prevista para fevereiro.

Questionados sobre os motivos que os levaram a se inscrever no Programa, as respostas dos profissionais foram semelhantes. Todos demonstraram preocupação com a assistência médica de nosso país e interesse em melhorar indicadores e resultados da saúde no país. Alguns deles já haviam vivido experiências semelhantes em outros países, como por exemplo o médico Yrelio Lugo Perez, que trabalhou por 4 anos na Venezuela.

Inicialmente, o Programa Mais Médicos não foi bem recebido pela população. Segundo pesquisas da Datafolha, em junho de 2013, a porcentagem da população que era contrária ao programa (48%), superava por apenas um por cento a dos indivíduos que eram favoráveis. Porém os números das pesquisas feitas em meses seguintes e depoimentos de usuários dos postos de saúde com estes profissionais mostram que, apesar das dificuldades linguísticas, o Programa está conseguindo atingir parte do seu objetivo.

Um exemplo dos resultados positivos do Programa é o Posto de Saúde Muciano Cabral, localizado no povoado Guajará (Nossa Senhora do Socorro/SE), que passou por uma grande reforma no fim de 2013, sendo entregue novamente à população dos bairros Guajará e Palestina em dezembro do mesmo ano, totalmente climatizado e com duas médicas cubanas participantes do Programa do Governo Federal. 

Especialista em saúde básica da família, a médica cubana Yudith Corte (40), que atende na unidade de saúde há quatro meses, conta que nos primeiros dias sentia muita dificuldade para atender os pacientes por causa da língua, mas que isso mudou graças ao curso de português, custeado pelo Ministério da Saúde. Após realizar todas as consultas da manhã, a médica contou como era a sua rotina semanal na unidade de saúde: “Nós planejamos o nosso trabalho de segunda a sexta-feira, 8 horas por dia, de manhã e de tarde. Fazemos consultas planejadas para doentes ou grupos de risco, para grávidas, em outro dia para crianças, e também para pacientes com doenças crônicas, como hipertensos, diabéticos e asmáticos. Também fazemos planejamento familiar e atendemos a demanda espontânea, independente das doenças da comunidade”. 

Segundo Jane Gledja Santos, paciente cadastrada no posto, um dos pontos positivos é que, graças ao Programa, a população conta agora com uma quantidade maior de profissionais que os atendem com pontualidade. “Melhorou a quantidade de médicos, porque antes aqui só tinha uma de manhã e outra a tarde, e agora são duas de manhã e duas à tarde.”, comenta a moradora. Segundo ela, a médica que antes atendia no posto, apesar de ter bom atendimento, sempre estava atrasada.

Médico há 20 anos, Yrelio Lugo Perez, que atende no Posto de Saúde José Alves dos Santos, no bairro Taiçoca de Dentro, se mostrou surpreso com a facilidade com que as crianças atendidas no posto entendem o espanhol. “Me chama muito a atenção como as crianças compreendem muito melhor [o espanhol]. Inclusive eu falo para eles em espanhol e eles repetem. É incrível!”, conta o médico.

Porém, apesar das reformas nos postos de saúde e da vinda de novos médicos, algumas coisas ainda continuam as mesmas. A médica Yudith Corte conta que apesar de terem medicamentos, a diversidade é pequena. “Temos que tratar de ampliar mais a variedade”, conta ela. Já o médico Yrelio Perez aponto outro problema para os atendimentos. “Temos medicações para doenças crônicas, anti-inflamatórios, antibióticos. Talvez o problema maior que eu vejo são os exames. Os pacientes têm que pegar [os exames] pela internet e às vezes demora”.

O Programa

Os Ministérios da Educação e da Saúde são os responsáveis por esse programa, pois, além de levar médicos especialistas em saúde básica para as áreas mais carentes do interior do Brasil e para as periferias das grandes cidades, ele prevê investimento em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde, e fará com que, a partir de 1º janeiro de 2015, os alunos que ingressarem na graduação de Medicina atuem por um período de dois anos em unidades básicas e na urgência e emergência do SUS. Outro objetivo do Programa é mudar a média nacional do número de médicos por mil habitantes, que antes do início do Programa estava em 1,8, e a média dos estados, já que, dos 26 estados e mais o Distrito Federal, 23 estão abaixo da média nacional, enquanto que no Rio de Janeiro e no Distrito Federal essa média chega a 3,46.

Porém, antes mesmo de ser aprovado, o Programa já recebia duras críticas de médicos e acadêmicos de Medicina brasileiros. Segundo a classe, o problema da saúde não está somente na quantidade de médicos, mas nas condições que são dadas para que eles exerçam a profissão.

Carla Maria Valadares, estudante do nono período de Medicina na Universidade Federal de Sergipe, apesar de reconhecer a importância do Programa, acredita que ele não poderá ser apontado como uma solução para o problema da saúde no país. “Acho que o programa podia funcionar como medida rápida e temporária, com o governo investindo também em gestão e estrutura para melhorar o atendimento à população nesses locais.”, afirma a estudante, que aponta a falta de estrutura como um dos fatores que desmotivam a ida de profissionais para regiões que receberam os médicos participantes do Programa.

Segundo informações da Agência Brasil, no último dia 17, o Ministério da Saúde lançou o quarto edital do Programa Mais Médicos tornando público a convocação de profissionais formados em instituições de ensino superior brasileiras e estrangeiras (com diploma revalidado no Brasil) e definindo as regras para a transferência de médicos do Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab) para o Mais Médicos. O profissional que deseja fazer a migração deve permanecer no município em que trabalha e estar em dia com todas as atividades de ensino e serviço, incluindo a frequência obrigatória na especialização.