3 de abr. de 2017

O novo ensino médio e a busca da democracia na educação


Sancionada no dia 16 de fevereiro de 2017 (quinta-feira) pelo presidente Michel Temer, a lei 13.415 visa a uma reestruturação no modelo de ensino médio,  além de atingir maior interesse dos estudantes, juntamente com uma flexibilidade e autonomia nas escolhas para um futuro não tão distante assim.

Contudo, ao contrário do que têm mostrado todos os favoráveis a essa mudança, a nova lei se encontra ainda em estágio de acomodação pelos envolvidos e dá margem a um alto grau de dúvidas e questionamentos que permanecem, até o momento, em aberto.

Alunos do colégio Amadeus comemoram aprovação
Dentre as alterações no novo ensino médio, estão a mudança na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o aumento da carga horária de 800h para 1.400h mínimas anuais, o que viabilizaria o ensino integral. Acontece que para algumas escolas isso já é uma realidade. É o caso do Colégio Amadeus (localizado no Centro de Aracaju), que alcançou o 5° lugar na lista das 100 escolas de Sergipe que obtiveram melhores médias no Enem 2015. “Hoje a carga do ensino médio é uma carga horária mais ampliada...eles [os estudantes do ensino médio] estudam pela manhã, normalmente têm aula de aprofundamento à tarde, então, se tivessem que ficar no integral não ia ser muita dificuldade”._ avalia Antônio Souza, coach de carreira do Colégio Amadeus.

Com a mudança na grade, ao aluno serão ofertadas todas as disciplinas entre o 1° e metade do 2° ano do ensino médio. Na segunda metade do 2° ano e 3° ano completo serão obrigatórias apenas português, matemática e inglês, O restante da grade será composta por um dos cinco itinerários oferecidos ao aluno: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências humanas e Sociais, e formação técnica-profissional. Diego Damasceno, que leciona História no Colégio Amadeus há 10 anos critica essa mudança, para ele: “Retirar as matérias de humanas da grade é um absurdo em uma sociedade que carece de pessoas críticas”, ele acrescenta que o ensino dos conteúdos será dado de modo “rápido e atropelado”. 

Para o professor de Geografia Ilton Feitosa, que há quase quatro anos leciona na Escola Estadual
Alunos da Escola Estadual Dom Luciano em excursão em São Cristóvão 
Dom Luciano, também localizada no Centro da cidade (85° lugar dentre as 100 escolas com melhores médias de Sergipe no Enem 2015), a mudança não leva em consideração questões relacionadas ao professor e ao aluno, que irão participar do novo ensino médio. O que pode torná-lo muito pior do que é hoje, “Quando não se prestigia disciplinas da área de Humanas, pode ser que não seja levada em consideração a formação das pessoas ligada à cidadania”. Ilton Feitosa questiona_ O que esperar de um jovem que não tem conhecimento do seu país e do mundo? E alerta para as conseqüências: “Os alunos podem se sentir atraídos por determinada área do conhecimento e evadir, e o professor fica sem público para poder tocar seu trabalho. Muita coisa pode acontecer com esse novo ensino médio. Nada é sem propósito, nada é um tiro no escuro. Tudo já tá sendo formatado com uma visão de médio e longo prazo”.

Nesta mesma perspectiva, Viviane Ferreira, professora de Redação do Amadeus, critica a tentativa de retirar Educação Física da grade, chamando a atenção para os altos índices de obesidade e colesterol ruim alto em crianças. Para ela, manter a disciplina na grade é “incentivar a prática de esportes e propiciar cidadania”. A professora considera muito prematuro afirmar qualquer coisa sobre os efeitos da proposta.

Primeiras mudanças

A mudança ocorrerá gradativamente, e apesar das escolas não serem obrigadas a aderir imediatamente, a estimativa é que até 2019 pelo menos 500 mil jovens estejam matriculados em ensino em tempo integral.­ “Por enquanto, somente o 1° ano vai aderir ao ensino integral, os outros continuarão da mesma forma até que essa demanda se forme. Será uma mudança gradativa”, informa Marli Barreto, diretora do Dom Luciano. Segundo ela o número de docentes pode reduzir, já que será preciso fazer um processo seletivo e nem todos passarão.

O novo modelo de ensino médio provoca nos docentes envolvidos no debate posicionamentos controversos e, nos alunos, a oportunidade de fazer escolhas. Porém, esta é apontada como duvidosa. Responsabilidade atribuída ao aluno de escolher cada vez mais cedo “O que ele quer ser quando crescer”. Caio Haziel, estudante do 3° ano do Colégio Amadeus confirma: “Penso que otimizaria o meu tempo e eu focaria mais nas matérias que eu necessito para o curso que eu quero passar”. Mas ressalva a carga de responsabilidade e riscos que significa, fazer a escolha sem um suporte dado por profissionais instruídos para tal. “Ela é muito prejudicial quando não se tem uma base e nenhum meio...nada que te ajude a escolher, em contrapartida, ajuda bastante à pessoa que já está decidida”.

Para alguns estudantes como Gislaine Rocha, 17 anos, que estuda o 3° ano na Escola Estadual Dom Luciano, a chamada “atratividade” do ensino médio, que propicia ao aluno o estudo de disciplinas que lhes são mais agradáveis, é vista com maus olhos.“Acho que cada um tem que passar pela dificuldade e têm pessoas que vão ter dificuldades em umas ou outras e não é por causa disso que vai deixar de saber. Tenho certeza que eles [estudantes de escola privada] vão estudar tudo, então, como já tem aquela questão que escola pública sabe o mínimo e eles sabem mais acho que isso vai se enfatizar mais ainda.”. Esta opinião é compartilhada por Ana Eduarda, 14 anos, aluna do 9° ano do Colégio Amadeus: “Acho muito negativo, porque vai limitar o que você vai saber ou não”. 

Promessas de investimento

O governo afirma que vai investir R$ 1,5 bilhão para converter escolas públicas para tempo integral. O valor a ser pago é de 2 mil reais anuais por aluno, o que equivale a quase R$ 167,00 ao mês.

A lei N° 13.415, de 16 de Fevereiro de 2017, deixa explícito que a verba destinada às escolas que aderirem ao novo ensino médio advirá do Ministério da Educação por um prazo de 10 anos, contados a partir da data de implementação do novo ensino médio na escola. Mas não leva em conta as limitações orçamentárias impostas pela PEC 55 para os próximos 20 anos.

 “Como já estudo no colégio estadual há um tempo, eu não acredito na melhoria total porque eles do nada disseram que iam trazer uma verba e a gente sabe como é a reforma do colégio estadual, né? Dura muito tempo para poder fazer alguma coisa. A licitação da quadra do Dom Luciano saiu desde o ano passado e começou a reforma tem umas duas semanas, então já se vê daí”._ afirmou Gislaine Rocha, com a qual concorda sua colega Vitória Mariz, estudante do 9° ano do ensino fundamental da mesma escola.

Já Marli Barreto, diretora da Dom Luciano há três anos, mostra-se otimista “ Pode ser válida, desde que se faça com responsabilidade”. Para ela, há chances de dar certo, pois eles receberão verba para a estrutura do colégio: banheiro, refeitório, vestuário.

Esta não é uma preocupação para os estudantes do Colégio Amadeus, que gozam de excelente estrutura, onde nada lhes falta. A escola dispõe, além do ensino fundamental e médio, de pré-vestibular e cursinho assistente, específico para quem deseja o curso de medicina. A estudante Vitória Silva, 3° ano, que desde o 1° ano decidiu cursar Direito após uma atividade feita em sala, em que se simulava um julgamento, torna ainda mais clara a disparidade: “Aqui no Amadeus eles proporcionam coach, o coordenador do ensino médio da gente está sempre ligado na gente, os professores são muito atenciosos”. O coach Antônio Souza acha que provavelmente o Colégio adotará o novo modelo, mas afirma que, como é uma lei nova, a escola necessita de um tempo para amadurecer os prós e contras, para, então, traçar suas estratégias.          

Direito à igualdade?  
                                                                                                                
O novo modelo de ensino prega o seguinte princípio: “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. No entanto, a proposta não foi precedida de nenhum debate específico nem consulta aos principais envolvidos e afetados. Para mais, outro fator que espanta igualmente o público que vêm acompanhando a empreitada é a rapidez com que tal proposta foi tornada lei em um país conhecido pelo teor mais bruto da palavra burocracia.

Segundo a Constituição Federal (CF) de 1988, é assegurado ao cidadão o direito ao ensino com igualdade de condições e permanência na escola. Porém, há uma controvérsia no dado momento em que se sanciona uma lei que diz ser flexibilizadora, quando na verdade se mostra excludencial e equivocada. Se um aluno mora em um município que possui apenas uma escola de ensino médio e esta passa a seguir um viés único, como se pode dizer que ao aluno cabe uma escolha? Para Marcos Lima, estudante de Ciência da Religião na Universidade Federal de Sergipe (UFS): “Aluno pobre dificilmente decide o que quer. Ele é levado a fazer escolhas”.

Diante da disparidade de estruturas e oportunidades entre escolas públicas e privadas no Brasil, o “novo ensino médio” aumenta o risco de excluir alunos de instituições públicas  do ensino universitário , conformando-os com os ensinos técnicos ou cursos menos almejados na universidade. Já as escolas particulares, ao adotarem vários itinerários, permitão a seus alunos escolhas mais frutíferas e satisfatórias, aumentando a discrepância. 

Se há um problema na base, é algo que deve ser mudado na mesma, pois o que é o ensino médio hoje é resultado da base. Se a base for boa, o médio será. _Afirma Viviane Ferreira, professora de Redação do Colégio Amadeus. 

O estudante de Ciência da Religião na UFS, Marcos Lima afirma de modo crítico: “Não vai mudar de uma hora para outra, pois temos uma briga. Os professores sempre se manifestam e o que se vê é o caos e a desvalorização. E isso serve como propaganda para campanhas políticas, serve para manter a classe média e alta em sua zona de conforto e o pobre na sua zona, que não é tão confortável assim, cá para nós”._ brinca, como forma de amenizar a situação atual do país.

A proposta da Reforma no Ensino Médio em discussão

A abordagem de alguns setores sociais e as consequências que a reforma do ensino em tempo integral poderá trazer para algumas cidades da região centro-sul do estado de Sergipe.


No dia 16 de fevereiro o presidente Michel Temer sancionou em cerimonia no palácio do planalto a Lei que reforma o Ensino Médio, a mesma foi enviada para o Congresso Nacional no dia 22 de setembro de 2016, através da Medida Provisória (MP) 746/2016 para reestruturação do Ensino Médio. Medida Provisória é um instrumento com força de lei, adotado pelo presidente da República, em casos de relevância e urgência.

 As principais alterações na estrutura do Ensino Médio incluem o aumento da carga horária mínima anual para 1.400 horas, com adoção do tempo integral; o ensino obrigatório de Língua Portuguesa, Inglesa e Matemática nos três anos do Ensino Médio; a oferta optativa das outras áreas de conhecimento, como Ciências da Natureza e Ciências Humanas. A partir da última metade do ensino médio, o estudante vai poder escolher se aprofundar entre as quatro áreas de conhecimento, ou ainda, optará por fazer ensino técnico profissionalizante. Os conteúdos cursados podem ser aproveitados no ensino superior, como forma de créditos. Também dá autonomia aos sistemas de ensino para definir a organização das áreas de conhecimento, as competências, habilidades e expectativas de aprendizagem definidas pela Base Nacional Comum Curricular. Este é um documento que tem o objetivo de nortear e definir o conteúdo que os alunos deverão aprender a cada etapa de ensino. A base específica para o Ensino Médio começará a ser discutida em outubro desse ano.

A reforma tem causado várias polêmicas na sociedade sergipana, em especial na Região Centro-Sul do Estado, principalmente no que diz respeito à implantação do Ensino Integral que segundo a Secretaria de Educação já pode ser adotado em algumas escolas este ano. O Ministério da Educação divulgou uma lista das instituições que tiveram a adesão deferida ao programa que fomenta a medida, na lista divulgada Sergipe terá 18 escolas que funcionarão em tempo integral este ano. É o caso, por exemplo, do Colégio Estadual Prof. Abelardo Romero Dantas, da cidade de Lagarto. Alguns são os problemas que a implantação da reforma e do Ensino Integral poderão trazer à região.  Um dos pontos fundamentais da discussão é que a maioria da população é de zona rural. Uma parte dos jovens estudantes da rede pública quando está fora do ambiente escolar, exerce outras atividades, como por exemplo, ajudar na renda da família. O ensino integral afetará uma grande parte desses jovens, que não possuem condições de ficar o dia inteiro na escola. Diante da questão, setores da região se manifestaram sobre o assunto.

Atores da rede pública se posicionando diante do assunto

A aluna Ana Regina Santos, 13 anos, moradora do Povoado Matatas, na cidade de Salgado, a aproximadamente 62 km de Aracaju, cursa o 9° ano no Colégio Estadual Raimundo Araújo, Critica a forma como a proposta está sendo transmitida na televisão: “é um tipo de manipulação no meu ponto de vista”, pois só mostram os pontos positivos. Conta que os professores não conversam com os alunos sobre a proposta, somente a professora de Educação Física sobre das matérias que passarão a ser optativas. Para Ana Regina a proposta de ter matérias optativas não é interessante, pois no futuro o aluno pode precisar de conhecimento que não recebeu. Ela prefere o ensino atual, porque permite estudar todas as matérias, mas levanta um problema: “o governo não leva a sério, pela falta de materiais, falta das coisas que a gente precisa para ter um ensino melhor”. E apoia o Ensino Integral porque ao estudar por mais tempo, o aluno entenderá mais do assunto abordado e os professores cobrarão mais. Diz que escolherá se dedicar mais ao que quer se graduar e que entre todas as matérias, não gosta de Ciências da Natureza, mas irá cursar, pois poderá precisar no futuro.

 A professora Ilene Fraga, graduada em História, trabalha no Ensino fundamental na cidade de Boquim, aproximadamente 185 km de distância da capital sergipana, e no ensino médio no Povoado Colônia Treze em Lagarto. Diz que se sente “desconfortável” em relação à reforma do Ensino Médio, embora perceba que deve haver uma melhoria no ensino. Ela conta que antes trabalhava 720 horas e passou para 800 horas, teve um aumento na carga horária nos dias letivos, mas ela não viu nenhum tipo de melhora na educação. Em conversa com outros professores no ambiente escolar, conta que todos se posicionam contra a reforma, relatando que serão os mais prejudicados, inclusive terão que passar por um processo seletivo que decidirá se continuarão ou sairão da rede. Já em relação aos alunos a professora preocupa-se com a flexibilização do currículo, pois não tem certeza se o aluno possui uma orientação correta de como encarar essa reforma e decidir o que escolher. Devido a isso pretender sentar para discutir com os alunos do Ensino fundamental do 9° ano a proposta.

Com relação ao tempo integral a professora Ilene apoia a ideia, mas percebe que o Estado não possui estrutura, principalmente Com a PEC 241/2016, aborda que não haverá recursos para investir na educação. É preciso ampliar a estrutura escolar, como por exemplo, a alimentação.  Quando se refere ao ensino noturno, para ela os alunos desse período ficam em segundo plano, não há uma preocupação como no ensino diurno, no ensino noturno “o aluno é tratado de outra forma”, muitas vezes são excluídos até de projetos escolares. Relatou a realidade que vive por estar presente nos dois turnos ofertados. Contudo, para a professora o governo se preocupa muito com a quantidade, deixando de lado a qualidade e observa que na rede pública há muitos faz-de-conta “faz de conta que dá aula, o governo faz de conta que valoriza e o aluno faz de conta que aprende”, diferente da rede privada em que o objetivo é exigir do professor e do aluno, este além de ser cobrado pela escola também é cobrado pela família.

 A coordenadora Sara Caroline Ferreira, do Colégio Estadual Raimundo Araújo, no povoado Água fria em Salgado-Se, fala da Reforma do Ensino Médio e as consequências que poderão trazer para a escola. Inicia falando que a Instituição é considerada pela Secretaria de Educação do Estado como Ensino Médio Implementador uma modalidade de ensino que não possui o ensino médio completo, atualmente a escola só possui turmas de 1° e 2° ano, mas em 2018 a escola já estará com o ensino médio completo. Devido a isso a escola possui capacidade apenas para atender ao Ensino Médio regular, pois há falta de recursos como uma quadra esportiva, carências de laboratórios, salas de aula equipadas. Se a reforma vier a ser implantada na outra escola da rede estadual da cidade, Joaldo Vieira Barbosa que tem estrutura para aderir à reforma ofertará aos alunos do município Ensino Integral e Regular. A partir da discussão, devido ao problema econômico da região, a escola na qual coordena poderá ser afetada no seguinte aspecto, havendo uma imigração para a instituição que terá o ensino regular, inclusive a instituição não tem capacidade nem recursos para receber esses alunos.

Alunos do colégio estadual professor Abelardo Romero Dantas
O Colégio Estadual Professor Abelardo Romero Dantas, da cidade de Lagarto, foi uma das escolas aprovadas pela Secretaria de Educação para aderir ao Ensino Integral no início deste ano, mas houve várias resistências. Coralia Araújo de Souza, coordenadora há quase 10 anos, fala da proposta de implantação. Com a proposta atual do estado em implementar na escola a modalidade de Ensino integral, foi mandada uma equipe da Secretaria de Educação para explicar aos professores e aos alunos do 1° ano a proposta citada.  Com isso, tanto houve uma rejeição dos alunos, como uma maior resistência por parte dos professores, pois para os docentes a escola não esta apta a receber alunos o dia inteiro, como também eles terão que passar a ter dedicação exclusiva e cerca de 80% dos professores da instituição possuem outros vínculos na rede de educação e não sabem se serão bem recompensados.

Embora a coordenadora afirme que a escola não ficará de fora da reforma na modalidade de ensino, diz que “foi só uma questão de tempo”. E a partir de seu tempo de experiência relata: “se é para melhorar o nível de ensino e aprendizagem é interessante, mas precisa adequações no ambiente”, pois a escola não possui uma quadra esportiva, laboratório de ciências, o laboratório de informática está com problemas, para ela a alimentação é outro problema.

 Como parte da equipe diretiva não pode agir contra as regras vindas da Secretaria de Estado da Educação, mas percebe e exalta as deficiências. A instituição irá trabalhar com as duas ofertas  de períodos, o Ensino regular à noite e o Ensino integral. A coordenadora também desabafa quando fala do ensino noturno, percebe que há uma deficiência na qualidade. Segundo ela “há uma evasão estúpida, quase no total à noite, assim baixa os índices da escola toda”. O ensino noturno não foi citado na proposta de reforma.

 O posicionamento da Subsede do Sintese da Região Centro-Sul

Irineu Roberto de Oliveira, graduado em História e Coordenador de Comunicação do Sintese- Sindicato dos Trabalhadores em Educação, da subsede Centro Sul, localizada na cidade de Lagarto, que abrange 3.869 professores sindicalizados, dos quais 1.314 são da rede estadual de educação dos municípios de Lagarto, Simão Dias, Poço Verde, Riachão do Dantas, Tobias Barreto, Salgado, Pedrinhas e Boquim. Ele Inicia explicando que em 2016, ainda no Governo da presidenta Dilma, houve uma discussão com os professores para fazer uma reforma no ensino médio, muito diferente da que foi recentemente sancionada, sem discussão na sociedade. Para ele, a medida a ser implantada “é uma imposição, um autoritarismo”. Em sua opinião a modalidade de ensino em tempo integral será excludente porque terão escolas que  oferecerão ao aluno mais recursos que outras: “as escolas serão divididas em categorias, escolas de primeira e segunda categoria”. Relatando que é uma forma de excluir o estudante do noturno, no qual há vários jovens que não possuem tempo de está inserido no tempo integral, devido ao trabalho.

A região da subsede possui vários alunos da zona rural, muitos deles ajudam a família na época de safras, inclusive chegam a faltar aula. O coordenador conta que possui preocupações com relação às disciplinas optativas, pois não sabe se haverá professores, porque atualmente há uma grande carência na rede estadual de professores de algumas áreas, principalmente da disciplina Matemática. Com isso, os professores de toda a rede estão inseguros, por não saber quais matérias serão escolhidas, principalmente os professores da área de exatas, química e física, porque atualmente o aluno já  apresenta falta de interesse nessa área. Para Irineu com a implantação pode haver conflitos internos entre professores, diretores, estudantes. Como também poderá diminuir o acesso a informações ao aluno, pois não haverá mais uma interdisciplinaridade entre áreas de conhecimentos. Contudo, o coordenador do Sintese encerra desabafando que a reforma na educação deve começar nas creches, preparando os professores dessa modalidade, para que no futuro, todo o país possa obter uma educação de qualidade.

O olhar da rede privada da cidade de Lagarto

Alunos do Colégio Jose Augusto Vieira 
Gilson Alves, diretor do Colégio particular Jose Augusto Vieira (CJAV), graduado em Letras Português e Pedagogia, Mestre em Educação.  Inicia falando como o tema é tratado na Instituição. Na semana de planejamento e no início do período letivo ao falar sobre a reforma, diz que os professores têm conhecimento do assunto e a maioria achou a proposta da reforma fantástica. Já na aula inaugural quando foi apresentado aos alunos, observou que eles acharam interessante. Inclusive o Ensino Médio da escola funciona alguns dias de forma integral. Além das aulas no turno matutino, também há aulas práticas de Educação Física no turno vespertino. Ele conta que a mantenedora da escola, a senhora Josete Reis, faz questão de que o Ensino Médio do CJAV seja trabalhado de forma integral.

Gilson conta que no dia em que tratou do assunto com ela, foi discutido que para manter uma escola em tempo integral é preciso recompensar bem o seu profissional, como também oferecer o melhor para os alunos na modalidade integral, pois os pais pagarão mais, mas os filhos estarão em uma escola com estruturada adequada. Com a reforma os alunos conviverão mais na escola e terão mais conhecimentos e habilidades, mas para atendê-la precisa passar por algumas adequações, como montar um refeitório, contratar nutricionistas, construir áreas para alojamentos, além de melhorar as estruturas de alguns setores, pois o aluno deve se sentir bem. Ao abordar a educação no Brasil, enfatiza que o país deveria amadurecer mais em educação “a nossa forma de fazer educação é de uma forma muito econômica. Não se faz educação em quatro paredes, discute educação conversando com a sociedade para chegar a um denominador comum”. Para o diretor a ideia da liberdade de escolha é fundamental, pois o aluno não é obrigado a fazer o que ele não gosta, ele deve fazer o que será de seu interesse no futuro e encerra dizendo “Espero que não fique no papel, que os governantes pensem no sucesso do aluno”.

Tarcísio Paixão, 18 anos, foi aluno do CJAV e atualmente é estudante do curso de Direito da Faculdade Pio Décimo em Aracaju. Quando compara o ensino médio que teve com o proposto, vê como principal diferença a carga horaria: “eu já achava puxado, com o novo ensino médio, será mais puxado ainda, mas o aluno vai entrar preparado para enfrentar as dificuldades no mercado de trabalho”.

Para ele alguns pontos da proposta do ensino em tempo integral não são totalmente realizáveis, e fala “se o colégio ajudasse em alimentação, seria uma opção viável”.  Como também acha que poderá haver uma saída de alunos da rede privada para a rede pública, pois da forma como está sendo proposto, a rede pública será como uma universidade. Como estudante de Direito, observa que a melhor forma a ser implantada a reforma seria através da medida provisória “tanto no setor econômico, como social, nas diversas bases da sociedade brasileira está precisando de urgência, principalmente a educação”, e continua “Se hoje considero o que sou, foi através da educação, tanto da família, quanto escolar”, finaliza falando que se tudo for feito da maneira como está sendo proposto, a reforma poderá obter sucesso.

Portanto, segundo análise do texto de Antonio Ibañez Ruiz, ex-reitor da UNB e ex-secretário da Educação do Distrito Federal. “Pela proposta do MEC para a reforma do ensino médio, a sociedade e, em especial, os estudantes estão sendo induzidos a acreditar que as escolas oferecerão diversos itinerários formativos e eles, com autonomia, farão a opção mais conveniente para o futuro profissional desejado. Isso, já é uma farsa. Desde 2006, quando foi denunciado pelo CNE o enorme déficit de professores em quase todas as disciplinas, pouco se avançou na formação de professores para poder informar que o déficit foi zerado. Continuamos assistindo em muitos estados brasileiros, logo no início do curso letivo, a falta de oferta de disciplinas devido à falta de professores. Então, se não há professores, não poderá haver diversos itinerários ofertados pela escola.” Relatando a realidade de todo o país, principalmente do estado de Sergipe, será a realidade se for aprovado “os secretários estaduais inverteram a situação. Agora, não poderão ser acusados da falta de professores. Agora, as disciplinas ofertadas são as que possuem professores. As outras nem são ofertadas, pois sendo opcionais não existe a obrigatoriedade de fazê-lo.”  Disponível em: http://www.andifes.org.br/opniao-a-reforma-do-ensino-medio/, acesso em: 05/03/2017 ás 18:32h.