27 de jan. de 2014

Mais Médicos: a participação dos profissionais cubanos em Sergipe

Por Nathalia Gomes e Taís Cristina

O Programa Mais Médicos está em execução desde 08 de Julho de 2013 e foi criado pelo Governo Federal com o intuito de levar saúde básica para os lugares mais periféricos do Brasil, e áreas de maior carência destes profissionais. Inicialmente esperava-se que muitos médicos brasileiros se inscrevessem no programa, mas isso não aconteceu, e a grande parte dos médicos é de estrangeiros, e em sua maioria cubanos.

 O estado de Sergipe recebeu em seis meses de programa, 78 profissionais, abrangendo a capital Aracaju e mais 28 municípios. Entre eles estão Macambira, com dois médicos e Nossa Senhora do Socorro, com seis médicos, que revelaram, por parte do governo de seus municípios e população, resultados satisfatórios, e por parte de médicos naturais daqui e estudantes de medicina, críticas quanto à estrutura e modo de selecionar esses profissionais.

Oposição

Nestes seis meses de programa há muitas críticas, seja por parte do Conselho Federal de Medicina - CFM, que aponta que o país não precisa de “Mais Médicos”, e sim de uma melhor redistribuição de médicos; e também dos estudantes de Medicina, que na maioria das vezes são contra o programa, alegando que para atuar no Brasil qualquer médico precisa passar por um teste apelidado de Revalida, o qual consiste em testar padrões brasileiros o profissional está apto a exercer a Medicina. Porém o Programa Mais Médicos contratou médicos sem exigir o “Revalida”. Segundo a estudante de Medicina Adenilza Mendonça (8º período-UFS): “Já que o Revalida foi dispensado, fica claro que os cidadãos estão sendo assistidos por profissionais não habilitados o suficiente, e consequentemente estão sujeitos a erros médicos”.

Outro problema apontado por estudantes de Medicina é a dificuldade de comunicação entre médico-paciente, levando-se em conta os médicos estrangeiros. De acordo com a estudante de Medicina Carla Vanessa (6º período-UFS): “Não é exigido proficiência na língua, algo bastante importante, visto que a consulta médica feita baseia-se na anamnese, que é trazer de volta à mente todos os fatos relacionados à doença e à pessoa doente.”

Macambira

Não é o que relata a médica cubana Eudália Covas (35), que se inscreveu no programa e está atuando na Clínica de Saúde da família Raimunda Ribeiro dos Santos, localizada em Macambira, agreste sergipano, a 58 Km da capital Aracaju. “Os pacientes entendem tudo o que eu falo, e pelo que vejo eles gostam da minha consulta. Não há dificuldade nenhuma na realização do meu trabalho porque a estrutura da clínica é boa e a prefeitura está arcando com todos os custos cabíveis a ela, está sendo uma experiência muito boa trabalhar aqui em Macambira.”

A paciente Josefa Alves (38), avalia o atendimento da seguinte forma: “O atendimento dela é muito bom, a presença dela aqui na clínica está sendo muito importante, além disso não houve nenhum problema com relação a língua. Eu entendo ela e ela me entende.”

Na cidade de Macambira foi criada uma comissão para receber e dar suporte aos dois médicos cubanos participantes do programa, esta comissão é coordenada por Joselice Batista (53), tem o apoio da Prefeitura municipal, tendo à frente o prefeito Ricardo Souza. Joselice afirmou que com a chegada dos médicos na clínica de saúde tudo melhorou: “Agora tem médico não só aqui na clínica, mas nos povoados também; os pacientes gostam das consultas deles, agora as coisas estão melhorando por aqui.”

Nossa Senhora do Socorro

Nossa Senhora do Socorro, na "Grande Aracaju", também foi um dos municípios que aderiram ao programa. De acordo com a diretora geral de saúde do município, Eliane Cristina, “Socorro tem uma grande dificuldade em ter profissionais médicos. Quando a gente aderiu ao Programa Mais Médicos, de 62 equipes, a gente tinha 19 sem médicos, então esse foi o grande motivo da gente ter feito essa adesão.”

O município conta na atualidade com seis médicos, todos cubanos. No bairro Taiçoca de Fora, a população tem contado com o atendimento do Dr. Yudelquis Rodrigues Hernándes, e no bairro Guajará, da Drª. Yudenia Montoya Martinez.

O médico Yudelquis afirma que a relação com os pacientes tem sido muito boa. “Nós estamos estudando português, e mesmo não falando muito bem, eles entendem tudo, eles estão gostando de nós.” A médica Yudenia também confirma a boa relação que tem tido com os pacientes do bairro Guajará: “A população é muito carente, as pessoas são muito sensíveis, nos tratam bem. A população tem gostado do nosso atendimento e nos entendem”.

Confirmamos isso com a paciente Iolanda Viana, que esperava consulta com o médico Yudelquis na Unidade Básica de Saúde Prefeito Luiz Pereira da Silva, no bairro Taiçoca de Fora, com o qual ela já havia se consultado uma vez: “Estamos tendo um atendimento ótimo, a chegada desse médico aqui foi uma maravilha. Não tenho o que reclamar. Não tenho tido problema em me comunicar com o médico. Sei que ele não fala bem a nossa língua, mas eu entendo.”

O atendimento médico em Socorro melhorou muito com a chegada dos médicos. Pessoas que antes tinham que ir de madrugada e dormir na fila para conseguir marcar uma ficha para ser consultado agora contam com médicos de segunda a sexta, trabalhando em tempo integral. É o que conta o paciente Wellington Batista, que já se consultou duas vezes com o médico cubano na Unidade de Saúde da Taiçoca de Fora: “Antes era terrível, a gente tinha que dormir aqui. Três ou duas horas da manhã a gente tinha que chegar aqui pra pegar uma ficha. Agora, a hora que vir, de manhã ou de tarde, tem atendimento.”

Pouco mais de três meses no país, os médicos afirmam que não receberam nenhuma espécie de oposição desde que chegaram e que foram recebidos bem. A médica Yudenia diz que pelo fato deles terem sido o segundo grupo de médicos eles não receberam críticas ou hostilizações. “O primeiro grupo foi o que apresentou problemas na recepção.”

Os médicos, que confirmaram ter recebido devidamente a ajuda de custo da Prefeitura de Socorro, como moradia, transporte e alimentação, relatam que uma das dificuldades que enfrentam quanto à realização do seu trabalho é a estrutura das equipes de saúde. A médica Yudenia relata que tem encontrado dificuldades em cobrir toda a população que corresponde ao seu atendimento. “Minha população é muito grande, cerca de mil famílias para atender. Só tenho uma agente de saúde trabalhando em minha equipe e muitas áreas descobertas, porque não tenho agentes de saúde para cobrir essas áreas”.

Além do atendimento no posto de saúde, os pacientes também contam com a consulta em suas próprias casas. A diretora geral de saúde de Socorro, Eliene Cristina, diz: “Tem profissionais médicos que não gostam de realizar visita domiciliar, já eles fazem questão de ir, de conhecer o ambiente em que a pessoa vive, pra poder tentar estudar o caso daquele paciente, que às vezes pode ser que só a medicação não vá dar conta”.

A paciente Iolanda Viana fala sobre quando precisou de atendimento domiciliar para sua mãe: “Minha mãe não ‘tá’ podendo vir ao posto, e ele, graças a Deus, consultou a minha mãe em casa. Eu sou muito grata.”

Os médicos cubanos que atendem em Socorro já têm experiência com programas parecidos com o Mais Médicos. Eles trabalharam por cinco anos na Venezuela, atendendo a população mais carente. Quando perguntados se tinham interesse em trabalhar mais tempo aqui, caso o programa fosse prorrogado, ambos negaram, pois deixaram familiares em Cuba e apesar de estarem gostando do trabalho aqui, eles têm interesse em voltar para terra natal para estarem próximos de suas famílias.

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