28 de jan. de 2014

Programa Mais Médicos atua há 4 meses no estado de Sergipe

Por : Grace Carvalho e Monalisa Melo
Presente em 32 municípios, o Programa ainda divide opiniões.Confira abaixo um balanço.

Lançado no início de julho de 2013 como parte da melhoria do atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o Programa Mais Médicos (PMM) do governo federal pretende enviar mais médicos para o interior e periferias do Brasil onde faltam profissionais, como também pretende viabilizar mais investimentos na infraestrutura de unidades básicas de saúde e em hospitais do país. Alvo de muitas polêmicas, o programa desde sua implantação recebeu muitas críticas da categoria médica como também de estudantes de medicina.
Ao chegar ao país, o médico estrangeiro participa de um curso de português com duração de três semanas. Já ao se fixar em uma cidade, ele começa a trabalhar, porém continua fazendo cursos, como, por exemplo, de aprofundamento sobre o SUS e sobre saúde familiar. As atividades no estado de Sergipe começaram no mês de outubro de 2013. Já estão espalhados por 32 municípios, 78 profissionais. Deste quantitativo, 69 são médicos estrangeiros. A previsão é que sejam construídas cerca de 40 unidades de saúde, de acordo com Anderson Faria, chefe de convênio e gestão do ministério da saúde em Sergipe, e que mais municípios façam parte do PMM.Ao chegar ao país, o médico estrangeiro participa de um curso de português com duração de três semanas. Já ao se fixar em uma cidade, ele começa a trabalhar, porém continua fazendo cursos, como, por exemplo, de aprofundamento sobre o SUS e sobre saúde familiar

A realidade dos médicos estrangeiros em território sergipano
“Para ajudar a vocês que precisam de médicos”, respondeu a médica cubana Yaremis Isquierdo, 31, sobre o motivo pelo qual aderiu ao programa. A médica, que já trabalhou quatro anos na Venezuela, chegou ao Brasil em novembro passado, e passou por um curso de português antes de chegar à cidade de Lagarto, interior sergipano. Yaremis diz que gosta muito das pessoas, dos pacientes e que os compreende bem. Para ela, o idioma é fácil; sua maior dificuldade tem sido a saudade que sente da família, mas certifica que o trabalho recompensa. A médica não pretende renovar o contrato depois dos três anos, já que anseia em ser mãe.  Sobre a medicina de seu país e a opinião dos cubanos sobre a vinda dos médicos, Yoledyz afirma: “A medicina em Cuba é maravilhosa, tanto para estudar, como para as pessoas. É de graça, por isso eu fico aqui no Brasil tranquila, porque minha família fica lá com a medicina e com a educação de graça”. “Com nossa ajuda aqui no Brasil, estamos ajudando também nosso país”, finaliza.

Opinião dos médicos brasileiros
Como os profissionais estrangeiros não precisam revalidar o diploma assim que chegam ao país, torna-se preocupante a ausência de regras claras, o que pode colocar em risco a saúde da população. Outro argumento muito utilizado pela categoria é o fato de que um dos problemas da saúde do país é a falta de estrutura e que a vinda de médicos de fora não vai melhorar o atendimento. Mesmo que esteja proibida a demissão de médicos do país para que sejam substituídos por um estrangeiro, contanto que seja por justa causa, omedo de perder espaço de trabalho e de ser substituído preocupa não só o médico que já atua como também estudantes de medicina.
Atuando na medicina há 14 anos, o médico brasileiro Paulo Gonzaga sustenta: “Eu acredito que nenhum médico de bom senso no Brasil seja contrário ao profissional médico ser regimentado para trabalhar em locais que há carência de médicos. Não faz o menor sentido ser contra isso”, afirmando logo em seguida: “A bandeira que é defendida por grande parte dos médicos é a que eu defendo. Deveria haver ajustes no programa”. De acordo com Paulo, a grande questão é o formato do PMM que foi feito para prover médicos para áreas carentes do país só que em um modelo que inviabilizou com que os médicos nacionais aderissem e permanecessem no programa.
Trabalhando há aproximadamente sete anos no Programa de Saúde da Família, o médico brasileiro Paulo Nunes, que atualmente trabalha no Hospital Regional de Lagarto, chegou a pensar em se inscrever para o Programa Mais Médicos, mas desistiu ao analisar melhor o projeto e perceber as falhas.

E o que acham os estudantes de medicina?
“A ideia é boa, só não sei se na prática vai funcionar”, opina o estudante de medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Marvim Machado. Ele ainda declara que acha válida a contratação de médicos estrangeiros, já que as vagas são ofertadas preferencialmente aos brasileiros e ofertadas aos outros no caso de não preenchimento.
Uma das propostas do Programa Mais Médicos é a residência obrigatória com treinamento no SUS. Marvim diz ter um interesse particular na área de atenção básica, mas vê a proposta um pouco incisiva por parte do governo em tentar mostrar a realidade ao estudante a fim de motivá-lo a trabalhar neste setor. “Eu acho interessante, dinâmico, muita coisa acontecendo”, explica.
Guilherme Camargo, estudante do 2º período do curso de medicina, aponta que o erro está em passar para a sociedade que não há profissionais dispostos a enfrentar essas áreas mais distantes; na verdade, segundo o estudante, não existe uma infraestrutura adequada nesses lugares, que já são mais afastados, o que limita a ida do profissional até esses espaços. O universitário concorda com o programa, mas faz grandes ressalvas acerca do projeto e de como ele vem sendo realizado.  “Deve-se sempre pensar primeiro na população”, reconhece. Questionado sobre qual a opinião que prevalece entre os estudantes de medicina, o jovem revela que grande parte dos universitários que ele convive, como também a nível Brasil, não concordam com o Programa Mais Médicos da maneira como ele vem sendo implementado.

A voz dos pacientes
Moradora de Lagarto e usuária do SUS, Josefa Ernestina, 53, relata que não percebeu melhora no atendimento desde a chegada dos médicos do PMM. Nos últimos seis meses, não conseguiu marcar consultas. Ela explica que apesar de passar horas em filas não conseguiu marcar os exames que precisava. Segundo Josefa, os problemas encontrados por ela e outros pacientes são relacionados à administração das clínicas. A falta de agentes de saúde é outro agravante; a última consulta marcada por Josefa foi através de um agente, o que agora não é possível, pois faltam esses profissionais que façam visitas frequentes para agendamento.
“Enquanto o brasileiro atende quatro, eles atendem um”, alega Maria Alice, 67, moradora de Lagarto. A paciente se revela satisfeita com o atendimento dos médicos do programa. “Eles são mais atenciosos”, continua. Ela afirma ter compreendido bem o que os médicos falaram e explica que seu único contratempo foi em relação aos medicamentos que faltam nas clínicas e com os agentes de saúde que nunca passam pelo seu bairro.

Aracaju, 20 de janeiro de 2014


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