28 de set. de 2016

Novas alternativas de consumo: consciência e sustentabilidade

Por Beatrize Farias e Carluz Lima

Vida saudável, equilibrada e sustentável é um dos “sonhos de consumo” da vida contemporânea, que ironicamente envolve mudanças de comportamento no modo de consumir. Utopia?

De acordo com o documento da agenda 21 Global, assinado na Rio 92 pelos 179 países participantes, a ideia de Consumo Sustentável envolve a escolha de produtos que utilizem menos recursos em sua produção, que garantiram o emprego decente aos que os produziram, e sejam facilmente reaproveitados ou reciclados. Significa comprar aquilo que é realmente necessário, estendendo a vida útil dos produtos tanto quanto possível. Consumimos de maneira sustentável quando nossas escolhas de compra são conscientes, responsáveis, com a compreensão de que terão consequências ambientais e sociais – positivas ou negativas.

O dilema contemporâneo se dá porque, de um lado, desejamos consumir todo tipo de produto, bem ou serviço, e de outro, queremos ter um ambiente saudável e preservado. Embora essa lógica por vezes pareça perversa e difícil de ser alterada, podemos encontrar a solução se olharmos para o padrão de consumo e pensarmos no uso racional daquilo que possuímos. A sustentabilidade permite um estilo de vida mais simples, mais próximo da natureza, com menos consumo e mais consciência pessoal, social e ambiental. 

É pensando nesse viés que nos deparamos com novas formas de compra e venda sustentáveis e conscientes. Métodos alternativos de consumo como feiras de troca, brechós e feiras de artesanato tem ganhado cada vez mais espaço no cotidiano das pessoas. Como exemplo de consumo sustentável há a prática do locavorismo, que se caracteriza como o consumo de produtos locais, dando vez aos pequenos produtores e artesãos, ao invés de comprar produtos industrializados e de fora, que muitas vezes viajam quilômetros até chegar ao destino.

A vantagem é que, além do incentivo ao comércio local, a viagem que muitos produtos fazem quando vem de outras localidades prejudica o meio ambiente, devido à emissão de gases poluentes dos veículos sem contar que os alimentos que viajam até a nossa mesa tendem a perder parte dos seus nutrientes. Além disso, os produtos locais, muitas vezes, são produzidos por pequenos produtores que utilizam menos adubos químicos. É mais saudável para quem consome, menos prejudicial ao meio ambiente e ainda estimula a economia local. 

Em Aracaju o locavorismo tem ganhado cada dia mais espaço, construindo um novo cenário comercial, com mais pessoas pensando, produzindo e consumindo de forma sustentável. Conheça abaixo alguns desses projetos. 


DO CAMPO DIRETO PARA A MESA
1. Ônibus onde são vendidos alimentos; 2. Logotipo do projeto (Fotos:Página da 'Feira Sobre Rodas' no Facebook)

O projeto Feira sobre Rodas conta com a participação de 20 agricultores do município de Malhador, localizado no centro do Estado de Sergipe, e tem como objetivo a comercialização de produtos 100% orgânicos dentro de um ônibus, que já tem parada obrigatória no estacionamento do Shopping Riomar, na zona sul da capital. Idealizado pelo senhor José Luiz dos Santos, organizador e associado do APM Orgânico - Associação dos Pequenos e Médios Empreendedores Rurais de Produção Orgânica e Comercialização do Município de Malhador-SE, o projeto já tem cerca de 15 anos, e o ônibus roda vários municípios sergipanos. Em Aracaju, pode ser encontrado às sextas-feiras no estacionamento do Shopping Riomar, e também possui um box fixo no mercado do Augusto Franco.

“Apesar dos custos dos alimentos serem um pouco mais altos que os da agricultura convencional, a aceitação dos clientes está sendo ótima, acho que estamos ganhando espaço porque as pessoas entendem os benefícios dos produtos orgânicos, a qualidade do produto, a riqueza de nutrientes, a durabilidade do produto, além de saber que estão sendo cultivados aqui em Sergipe mesmo”, conta José Luiz.


GASTRONOMIA E SUSTENTABILIDADE: SERVIDOS?

Timoteo brinca com um dos ingredientes
do Gastrotinga, o xique-xique
(Foto: Revista Explêndida)
O que acha de comer palma, xique-xique e cabeça-de-frade? As plantas típicas do sertão utilizadas principalmente na alimentação de bovinos e outros animais em períodos de pouca chuva tornaram-se motivação para a criação do conceito Gastrotinga, que como o criador diz é “a gastronomia da caatinga”. Curioso para saber mais sobre isto? Bem, a ideia é do jovem Timoteo Domingos, de 20 anos, e tem ganhado um espaço importante no mundo da gastronomia.

Timoteo utiliza plantas da caatinga para dar cor e sabor a receitas como brigadeiro de casca de melancia, mousse de cacto, cocada com cactos e outras tantas receitas. “A ideia é transformar um item que é abundante no sertão e transformá-lo em renda para os moradores da região, reaproveitando inclusive o que antes iria para o lixo ou sequer era consumido”, explica o jovem culinarista. A ideia tem chamado tanto a atenção que Timoteo já esteve no Programa Mais Você (Rede Globo), Programa da Sabrina (Rede Record) e outras emissoras de TV, além de sites e revistas. 

“Estamos agora conversando com agricultores para começarem a cultivar estas plantas para que possamos produzir as receitas em maior quantidade. Estamos aproveitando algo que cresce com facilidade em nossa região e que pode ser útil para alimentar nossa gente de maneira barata e saborosa, além de ser uma alternativa para geração de renda”, disse Timoteo que já possui um restaurante na cidade de Canindé de São Francisco, 180 km de Aracaju.



MODA SUSTENTÁVEL: MAIOR DURABILIDADE PARA CONSUMIR MENOS

Lucas exibe alguns de seus trabalhos em couro (Foto: Arquivo pessoal)

Cores forte marcam as peças da Tsuru
(Foto: Tsuru Arts/Instagram)
Aproveitando as tendências da moda, o estudante do curso de Engenharia de Petróleo da UFS Lucas Lemos criou a Tsuru Arts e Estilo, uma loja online de peças criadas a partir do couro, como bolsas, calçados e pulseiras. O estudante, que também faz os desenhos das peças, aproveita o couro animal para a sua confecção, investindo em conceitos que unem a moda e o reaproveitamento de vários objetos. Para divulgar suas criações, Lucas participa de feiras itinerantes, exposições e feirinhas de rua.

Para Lucas, como o couro é uma matéria-prima duradoura, as peças podem ser utilizadas por muito mais tempo, dificultando a necessidade de adquirir novas peças ou descartá-las. “Nosso objetivo é reinserir o couro no mercado com um novo conceito, trabalhando cores e formas de agregar valor a esse material que carrega em si uma história peculiar”, declara o estudante, que conta ainda com ajuda de outros artesãos na confecção das peças.



MÚSICA, DIVERSÃO E ECONOMIA CRIATIVA

Entrada da Feirinha da Gambiarra na área externa da biblioteca pública Epifânio Dórea (Foto: Marcia Jamyle)

Sessões da feirinha da gambiarra (Foto: Melissa Warwick)
A primeira feira criativa de rua em Sergipe atrai pessoas de todas as idades e tribos, em uma mistura que envolve música, arte, comida, barracas dos mais diversos produtos e muita diversão. Assim é a Feirinha da Gambiarra, que teve sua primeira edição em 2012, e tem feito bastante sucesso desde então.

“O intuito é dar espaço pra tanta criatividade que Sergipe guarda, seja na música, na gastronomia ou na moda. Além de gerar essa sensação de pertencimento, sabe? Sentir orgulho de morar aqui e dizer que tem projetos que incentivam a economia criativa”, conta Isabele Ribeiro, que juntamente com seu noivo Alisson Coutto organizam a feirinha. Alisson, além de idealizador do projeto, é integrante da banda aracajuana Coutto Orchestra, que é presença confirmada em todas as edições, atraindo ainda mais o público. A feirinha é realizada na área externa da biblioteca pública Epifânio Dórea, que fica localizada no bairro 13 de Julho, zona sul de Aracaju, e sua próxima edição ocorrerá no mês de novembro. A feira é composta por vários expositores, e é dividida por sessões, que separam as barracas de gastronomia, livros, discos, moda e acessórios.

“Eu percebo que o sergipano tem uma auto estima baixa em relação ao que é feito aqui, e tende sempre a achar que o que vem de fora é melhor. Então a feirinha surge pra dar esse empurrãozinho, reunir gente que tá produzindo coisa legal, e dizer ‘ei seu produto é muito bom, as pessoas precisam conhecer!’, pra pessoas sentirem orgulho disso. Nosso projeto é esse, mostrar que não precisamos procurar por tudo lá fora, temos muita coisa boa aqui”, diz Isabele..

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