Por Illton Bispo
Maria Ruth Wynne Cardoso, hoje mais conhecida por Tia Ruth, nasceu em 1930, em Aracaju. De família simples, aprendeu com seus pais, Eduardo e Débora Wynne Cardoso, o sentido da vida. Dona de um sorriso meigo e de um olhar penetrante que cativa qualquer um, principalmente pela sua humildade, tem a força da mulher brasileira e as mãos sempre prontas para servir.
A luta de Tia Ruth na oncologia teve início com as visitas diárias que realizava aos pacientes internados no Hospital Cirurgia, levada pelo compromisso de servir ao próximo. Nestas visitas ela percebeu a carência tanto de recursos hospitalares, quanto de apoio humano. Doceira de mão cheia foi através de um simples bolo que começou seus primeiros contatos junto aos pacientes. Com o trabalho voluntário de distribuir seus bolos, Tia Ruth foi ganhando a confiança dessas pessoas que já notavam algo diferente naquela senhora, pois quando algum paciente não podia mastigar, ela molhava o bolo em um suco e oferecia, com a mesma calma e sorriso de sempre. Levada pela necessidade, além do bolo, Tia Ruth começou a distribuir lanches, agasalhos e palavras de conforto.
Em um gesto de bondade, abriu as portas da sua própria casa para acolher pacientes que ficavam nas calçadas do hospital, alguns chegavam a pernoitar à espera de um leito, ou até mesmo de uma sessão de quimioterapia: avia ainda os que recebiam alta, mas não tinham para onde ir.Até o transporte chegar; muitas dessas pessoas acabavam se instalando na casa de Tia Ruth. Depois de alguém tempo, sua casa passou a ser frequentada pelos pacientes que vinham do interior de Sergipe e dos estados da Bahia e de Alagoas. Ela repartia seu alimento com seus hóspedes e quando acabava, o que era comum, saia pedindo aos vizinhos. Assim mesmo, sem saber, estava transformando sua casa em casa de apoio, funcionando informalmente, que ela mesma chamava de “A casa do Caminho”.
Essa aracajuana de 81 anos, mãe de três filhos, sensibilizou outras pessoas que se uniram a ela na luta pelos pacientes portadores de câncer. O grupo de voluntários cresceu e passou a ter reconhecimento junto à comunidade, recebendo doações e mantimentos. Houve então a necessidade de maior organização no trabalho e em 24 de julho de 1987, foi fundada legalmente a Associação dos Voluntários a Serviço da Oncologia em Sergipe (Avosos), instituição filantrópica e sem fins lucrativos. No ano seguinte, foi instalada a primeira sede oficial da Avosos.
Tia Ruth optou pelos pacientes de câncer pela carência e a descriminação que existia tempos atrás. Na época nem a palavra “câncer” podia ser pronunciada. Alguns enfermos chegavam a ser renegados pela própria família, o que a tocava muito e a motivava cada vez mais. Para diminuir a distância entre os pacientes e seus familiares, ela passava horas escrevendo cartas, pois a maioria deles não sabia ler nem escrever. Eram pequenos gestos que significavam muito para eles.
Ao longo dos anos ,Sergipe não desenvolveu uma política de tratamento do câncer e por isso não possui um hospital específico para o tratamento do câncer. O estado tem apenas dois centros de oncologia que funcionam em hospitais da capital, mas os serviços não são ofertados satisfatoriamente. O HUSE - (Hospital de Urgências de Sergipe) possui apenas dois aparelhos de radioterapia, quando na verdade são necessário mais dois. Cada aparelho comporta somente 75 procedimentos por dia, mas atualmente faz mais de 110 e durante todos os dias da semana. A consequência disso é a quebra constante do aparelho prejudicando todo o procedimento terapêutico nos pacientes, piorando uma doença que já é grave.
E em virtude das deficiências do HUSE, a Avosos sofreu a perda de muitas crianças e adolescentes, fato triste que marcou profundamente a vida de Tia Ruth e fez com que a instituição implementasse em suas campanhas a compra de medicamentos oncológicos para suprir a deficiência hospitalar. Em 1992 nasceu a Casa de Apoio à Criança com Câncer Tia Ruth, que faz parte do Avosos e contribui para suprir as limitações do HUSE, realizando o tratamento de câncer em nível ambulatorial através de convênios.
Os números de pacientes com câncer em Sergipe são altos.Segundo o especialista Dr Petrônio Gomes, para 2011 são estimados mais de 4 mil novos casos de câncer dos quais mais de 1.600 em homens e 2.000 em mulheres. O câncer de próstata será o mais devastador, atingindo mais de 520 casos e os de mama e de colo de útero atingirão mais de 600 mulheres. Desses casos, 50% necessitarão de radioterapia, cirurgia oncológica e quimioterapia. Sem falar nas crianças e nos adolescentes, que não estão inclusos nessa estatística. A cada o sofrimento e a mortalidade dos pacientes aumenta no HUSE e fora dele. São crianças, adolescentes e adultos que necessitam não só de meios médicos, mas também de um ombro amigo e de uma palavra de conforto.
É nesse cenário que Tia Ruth surge mais uma vez, realizando suas tradicionais visitas, levando lanches,cuja distribuição se tornou sua marca registrada. Ela não se cansa de ser voluntária e de se doar, pois acredita que o trabalho voluntário é uma das formas mais generosas de contribuir para um mundo melhor, mais justo e sem disparidades. É difícil encontrar alguém, pelos corredores dos hospitais, que não fale da sua luta. Todos a admiram pela coragem, força de vontade e generosidade. Tinha Ruth é o exemplo que todos querem seguir.
Foi em virtude da importância e necessidade de se obter um hospital especializado para tratar pacientes que sofrem com o câncer que o senador Eduardo Amorim (PSC) lançou, neste ano,uma campanha para construção de um hospital do câncer em Sergipe. A sociedade sergipana está se mobilizando para conseguir, através de abaixo-assinado, as assinaturas necessárias para mostrar ao governo federal a necessidade de enviar os recursos para a construção do hospital.
Essa construção é esperada com muita expectativa por Tia Ruth, que acredita e torce por essa campanha. Ainda assim ela prefere manter os pés no chão, pois, segundo ela, já houve outras iniciativas semelhantes que, apesar de serem louváveis, não se concretizaram, por algum motivo. Enquanto o sonho de Tia Ruth não se realiza, a Avosos vai realizando sua missão junto aos pacientes. Criando e articulando soluções de forma integral para a melhoria do tratamento e da qualidade de vida de crianças e adolescentes com câncer e doenças hematológicas crônicas.
Hoje Tia Ruth é presidente da ONG que se transformou no Complexo Avosos, formado por duas unidades, a Casa de Apoio à Criança com Câncer Tia Ruth e o Centro de Oncologia Dr. José Geraldo Dantas Bezerra. Atualmente mais de 350 crianças e adolescentes com câncer e hemopatias são assistidas pela Avosos. As atividades da instituição são elaboradas visando elevar a qualidade de vida dos assistidos e de seus familiares.
Hoje Tia Ruth é presidente da ONG que se transformou no Complexo Avosos, formado por duas unidades, a Casa de Apoio à Criança com Câncer Tia Ruth e o Centro de Oncologia Dr. José Geraldo Dantas Bezerra. Atualmente mais de 350 crianças e adolescentes com câncer e hemopatias são assistidas pela Avosos. As atividades da instituição são elaboradas visando elevar a qualidade de vida dos assistidos e de seus familiares.
Todos dizem que o xodó de Tia Ruth é sua filha biológica e especial, conhecida como “Jéjé,” que se tornou especial devido à demora da realização do parto. Extremamente religiosa, não desanimou e acreditou que tudo poderia ser superado pela força da oração. Cuidar de sua filha, segundo ela, é uma aprendizagem mesmo em meio às limitações. Um dos medos de Tia Ruth é morrer e ter que deixar sua filha , por isso desde já começa a se disciplinar. Como todo brasileiro, gosta de música a predileta de Tia Ruth é o Hino da Avosos, música de melodia doce que toca profundamente o seu coração. Mas o que ela realmente gosta de fazer é ser voluntária. Em 2005 foi condecorada em Brasília, com a medalha do “Mérito Legislativo Câmara dos Deputados”, pelos serviços prestados a sociedade sergipana e ao Brasil através da Avosos, conquistas como esta são atribuídas por ela a Deus.
A campanha para o hospital do câncer em Sergipe tem apoio de Tia Ruth, e está a todo vapor, as assinaturas com abaixo assinado em apoio à construção do Hospital do Câncer de Sergipe será entregue ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ainda este mês em Brasília/DF. As pessoas que se identificam com a causa da Tia Ruth podem procurar a instituição, para realizar um cadastro de voluntário, qualquer pessoa pode ajudar, basta se dirigir a sede da Avosos onde Tia Ruth e o seu grupo lutam, até hoje, para provar que o “amor cura.”
Avosos
Endereço: Rua Leonel Curvelo, 55, bairro Suissa, os telefones são 321
Endereço: Rua Leonel Curvelo, 55, bairro Suissa, os telefones são 321
Créditos fotográficos: atalaiaagora.com. br, portal da saúde, emsergipe.com
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