6 de jun. de 2011

Os Roberts

Por: Larissa Ferreira.


Uma família unida pelo coração de uma mãe.

A família Roberts, ficou conhecida nacionalmente em 2009 através do programa Caldeirão do Huck, onde fizeram parte do quadro A Festa é Sua, que é a junção de três outros quadros do programa: Lata Velha, Agora ou Nunca e Lar Doce Lar. Três anos se passaram de lá pra cá e as mudanças feitas pelo programa na vida da família ainda permanecem conservadas pela família e pela organização da “grande mãe” e seu fiel companheiro Roberto.
Conhecida em sua comunidade como “mãe de todos”, Dona Etani, matriarca da família Roberts é casada com o policial civil José Roberto com o qual tem 2 filhos biológicos e 51 adotados, tem amor que dá e sobra para todos e seus filhos, e ainda dá auxilio a pessoas da comunidade onde vive. Batalhadora, amorosa, rígida e muito feliz, Dona Etani é um exemplo para todas as mães e seres humanos. Nessa entrevista ela nos conta desde quando surgiram os seus instintos maternos, passando pelas dificuldades e chegando felicidade de ter um trabalho realizado como mãe e com a comunidade onde vive.

Quando começou a surgir esse grande instinto materno?
Começou na minha infância, por que sempre sonhei assim: casar, ter filhos, que eram 13 e foram 10, e depois de criar os meus filhos eu criar os filhos dos outros. A minha família me achava louca. Bom, casei e tive dez filhos, dos dez criei cinco, por que os outros eu perdi. Quando o meu caçula tinha 14 anos, apareceu meu primeiro filho do coração que foi Paulo Roberto, que vai fazer 20 anos agora em junho. E ai houve um grande equívoco nessa história, que não existe filho dos outros, é meu filho mesmo, eu sou a mãe, não tive a gestação e não tive o ato de parir, mas é meu filho mesmo, só não tem a consanguinidade. E depois de Paulo Roberto veio três meses depois Barbara, três meses depois veio Luis e ai ate hoje.
O que passou por sua cabeça quando você encontrou seu primeiro filho do coração?
Eu fiquei parecendo doida, como se eu nunca tivesse tido filho. Sabe como a mulher tem seu primeiro filho, aquela alegria? Foi o mesmo sentimento, só que eu não achava que ia ter tantos depois dele ‘Paulo Roberto’, eu achei que ia ter um, mais um ou mais dois.
Seu marido esteve sempre ao seu lado ou em algum momento ele foi contra as adoções?
Meu marido foi assim, com a adoção de Paulo Roberto, meu marido é medroso “Não, não que a gente não pode” então eu disse a ele “Eu posso, por que eu sou rica, você é pobre” (risos). Nós somos o oposto, ele é o meu freio, tudo meu é pra ontem, é pra fazer logo e ele é mais ponderado, mas ele nunca foi contra, ele é receoso, temerário, mas ser contra ele nunca foi.
Os seus filhos mais velhos te ajudam? Estão sempre presentes?
Vestem a camisa. Estão sempre presentes na hora da necessidade e dificuldade, nesse caso eu falando de doença, por exemplo, quando tem virose, não são um ou dois que tem, são 22 ou 25. Já teve caso de ter 27 com catapora, tudo de uma vez. Então, um vai pra um hospital e o outro vai para outro. Quando tem alguma reunião e eu não posso ir, eles vão me representando. Para levar no colégio ou ir buscar, eles estão presentes. Eles são parceiros, nunca fizeram objeção.
Seu marido é policial civil. A educação dos seus filhos é rígida?
Na base da rigidez, disciplina de exercito. O mundo lá fora não alisa. Eu estou com 59 anos, eu tenho limite, como é que uma criança em formação não vai ter? Aqui em casa existe uma enorme balança de um lado a disciplina, do outro o amor. E é assim que a gente vive. Ninguém tem o direito de molestar ninguém, e ninguém tem o direito de molestar ele, que eu corro atrás do prejuízo. Uma coisa que eu fico maravilhada com eles é a falta de egoísmo, se chegar alguém aqui precisando de algo eles disponibilizam o que tem. Isso pra mim é um grande prêmio. Por que hoje as pessoas andam olhando apenas para o seu umbigo, se nós todos nos uníssemos e cada um fizesse um pouquinho não existiria a miséria que existe lá fora.
Passaram por muitas dificuldades depois da adoção dos novos filhos?
Dificuldades diversas. Dificuldade financeira foi grande, mas não a maior. A maior dificuldade que nós enfrentamos na nossa vida foi uma perseguição de uma representante do ministério público, por que ela achou que nós éramos pobres, e se tem uma coisa que eu não sou é pobre, para mim eu sou a mulher mais rica do mundo: saúde, força, dignidade, linda, eu me acho, me acho não, eu sou linda, por que se eu não me achar, quem vai achar? Se eu não me valorizar, quem vai me valorizar? Então eu nunca me achei pobre. Um requisito que ela achou para eu não ter meus filhos do coração foi que eu era pobre, então começou a colocar empecilho. Como eu não sou de correr quando alguém bate o pé, e você sabe que as autoridades não estão acostumadas a serem enfrentadas. Dai, começou uma perseguição. Chegaram ao ponto de dizer que iam pegar os nossos filhos para colocar em um orfanato. E eu briguei, por que eu sou leoa mesmo, filho é filho, e acho que uma mãe tem de lutar pelos filhos. Pra mim a maior dificuldade que eu já passei foi vê uma representante do ministério público ao invés de nos ajudar, ela poderia ate não confiar no meu trabalho, ela podia fiscalizar, é o direito que ela tem, mas não
puxar o meu tapete. Eu não abrir mão, e não abro mesmo. Eu estando certa eu não abro mão dos meus objetivos. E graças a Deus estamos aqui.
Quando o empresário Luciano Barreto começou a ajudar a sua família?
Foi em decorrência a essa perseguição. Quando nós morávamos na outra casa passou a ser visitada. Você veja como as pessoas infringem a lei. Se nós moramos em São Cristóvão nossa jurisdição é em São Cristóvão. Então só o conselho tutelar, só a justiça daqui que deveria meter a mão. No entanto a justiça de Aracaju quis se meter. Então teve promotor, teve juiz, sem se identificar e eu também não quis saber que era. Por que na nossa casa é assim, qualquer um pode entrar. Eu não tenho o que esconder então qualquer pessoa pode entrar, se alguém quiser vim nos conhecer pode vim é só eu ter disponibilidade. Então aconteceu de todo mundo querer arrancar um pedacinho. Foi quando uma procuradora do estado foi também uma dessas visitas que eles faziam e disse “Existe um grande equivoco aqui. Por que a senhora não esta fazendo nada de errado. Por que a perseguição?”, ela que usou essa palavra, e falou que só voltaria quando pudesse me ajudar. Quinze dias depois ela voltou com Dr. Luciano e Dona Maria Celi para conhecer a nossa casa. Eu tinha uma casa de 8x18m². O primeiro andar foi construído com todo mundo dentro de casa, comendo areia, comendo cimento, mas todo mundo dentro de casa, com muito amor, respeito e disciplina. Quando ele chegou lá e viu a casa fico surpreso em ver as condições da casa e de como eu conseguia viver com meus filhos ali, daí ele nos deu o terreno e disse que dava o material de construção, mas não dava a mão de obra, nesse momento, a promotora começou a chorar, pois não sabia como iríamos construir a casa e eu disse a ela ”O Deus que deu o material e deu o terreno é o mesmo Deus que vai dá a mão de obra”. Quinze dias depois em um jantar, ele estava lá e disse que daria a casa dos meninos pronta em nove meses. Ele deu o terreno, o material, mão de obra e fez a inauguração. No dia da inauguração a casa tava cheia de tubarão, piaba que tinha era só a gente, todas as autoridades do estado estavam aqui dentro, todo meios de comunicação tava aqui dentro. O que se pode imaginar de autoridade tinha aqui. Nós não pedimos nada a ele, foi ele quem quis nos ajudar, nos acompanha ate hoje. Não recebemos subvenção nenhuma do estado, do município, ou da federação. Não temos verba de nada, a não ser do papai do céu.
A comunidade te ajuda de alguma forma?
Não é ao contrario, eu que ajudo a comunidade. Me sinto feliz por isso. Qualquer pessoa que bater aqui tem apoio seja lá qual for. Se eu não puder resolver hoje, amanhã papai do céu ajuda.
A sua família participou do quadro “A festa é sua” do programa Caldeirão do Huck, que une três quadros do programa, um deles é o Lar Doce Lar. Quem teve a idéia de mandar a carta para o programa?
Foi uma amiga minha de Curitiba, que veio morar aqui e na época a nossa Kombi tava caindo aos pedaços, literalmente. Ela me perguntou o porquê de não concerta a Kombi, eu não podia pegar um empréstimo, pois se me endividasse não teria dinheiro nem para fazer a feira. Então, ela resolveu mandar uma carta para o Lata Velha do programa do Luciano Huck. Eu pedi para ela não enviar por que eu não queria pagar mico, mesmo assim ela pegou as fotos e enviou, eu ainda disse a ela “Mulher, não mande lá é sudeste, do sudeste para o nordeste é muito longe e ele não vem”, mas mesmo assim ela mandou. Isso foi em 2007.
Quando foi em meados de novembro de 2009, chegou aqui um carrão, com várias pessoas com maquinas fotográficas, coisas pra medir e filmando, e disse comigo mesma “Meu Deus do céu, que povo mal educado é esse que vem invadindo a casa?”. Eles invadiram a casa. Uma das produtoras conversou comigo na sala, mil perguntas ela me fez, só que eles já estavam aqui há quinze dias, já haviam vasculhado a minha vida inteira, até na boca de fumo eles procurar saber quem eu era, e as pessoas que usam drogas disseram “Não, ali é a mãe de todo mundo. A gente chega na casa dela e tem comida, sabonete, lençol, remédio.”, só eu que não sabia o que tava acontecendo. Me fizeram um monte de pergunta, mediram tudo, fotografaram e a produtora me disse que era uma ONG da Argentina que ligou aqui pra TV Sergipe, e que falaram do nosso trabalho e de Almir do Picolé, eu disse a ela para procurar Almir, por que ele precisa mais do que eu e ela olhou para mim assusta e eu expliquei “Almir precisa mais do que eu. Por que Almir pedi ajuda, eu não. Me viro, faço artesanato, torta, bolo, tenho meu salário, tenho amigos que ajudam, por exemplo, Dr. Luciano paga a energia, dá carne do mês inteiro, que já ajuda. E ele que tem de pedir?”, eles estranharam por que eu disse isso e o outro produtor disse que era melhor fazer com Almir mesmo por ele pedir e eu não. Eu não tenho que pedir, só tenho de agradecer a Deus.
No inicio de dezembro, a TV Sergipe entrou em contato com a gente dizendo que queria fazer o encerramento da programação do ano e que queria fazer aqui em casa, e eu cai como um patinho e achei que era, mas não, era o sujeito narigudo ‘Luciano Huck’ que já tava aqui para fazer a gravação do programa. Então nos entramos no Lata Velha, no Agora ou Nunca e no Lar Doce Lar, quer dizer, o programa todo foi a gente. E graças a Deus não teve mico, a prova que teve foi o coral dos meninos. Foi tudo muito bonito. Jóia mesmo.
Depois de participa do programa, outras famílias assim como a sua, perderam algumas das ajudas que recebiam. Aconteceu algo parecido? Mudou alguma coisa na vida de sua família?
Olha, aqui não aconteceu por que a gente não tem dessa “muito ajuda”. Aqui a gente tem ajuda de pessoas amigas, como é o caso do Dr. Luciano, que é certo, e outros amigos é quando o papai do céu manda. O que ocorreu muito aqui foi que teve caravanas do país inteiro para vim conhecer aqui, gente do Mato Grosso veio de ônibus para conhecer a casa. Mas nesse lado não me abalou. Não vejo diferença.

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