8 de jun. de 2011

Pés sem unha



Há 25 anos não é “só mais um São João”


Por Maíra Araújo


Em meados dos anos 50 foram surgindo nas ruas, tanto de Aracaju quanto do interior, os “arraiás”. A palavra “arraiá” pode não existir em nenhum dicionário. No lugar dela está arraial, que significa festa campestre. Mas se alguém perguntar a qualquer nordestino o que vem a ser um arraiá ele com certeza irá definir como uma festa típica do mês de Junho em que há muito forró, trajes coloridos, comidas especiais para a época, fogueira, alegria e diversão. Assim essas festas foram crescendo.


FAZENDO HISTÓRIA

Foi a partir da ideia de um líder comunitário que o Arraiá do Arranca Unha surgiu. Organizado por Seu João da Cruz, até então era uma simples festa de rua no bairro Getúlio Vargas que tinha como objetivo reunir e entreter os moradores. De simples festa passou à grande evento. Um ano após a criação do Centro de Criatividade, que aconteceu em 1985, o governo estadual teve a iniciativa de incorporar como programação da unidade cultural o Arraiá do Arranca Unha. Desde então todos esses anos o evento foi realizado e em 2011 será a sua 25º apresentação. Além de ser um concurso no qual quadrilhas de todo o estado disputam entre si, ele carrega o que há de mais tradicional quando o assunto é São João. Roupas, comidas típicas, fogos, músicas, rituais relacionados à religião, tudo isso vem sendo conservado em sua integridade, mesmo depois de passados vinte e cinco anos. O concurso virou uma verdadeira celebração. Logo de cara é visto o envolvimento da comunidade próxima, das mais distantes, dos dançarinos e dos familiares.

“É um concurso muito tradicional. A gente percebe que toda quadrilha tem o maior prazer de dançar aqui na concha acústica, pois ela tem um formato parecido com uma arena teatral ou uma espécie de teatro grego. E eles têm uma vitalidade e uma força que é de dar inveja.” diz o diretor do Centro de Criatividade, Isaac Galvão.

Muitos artistas sergipanos já marcaram presença por lá. Cantores como Jorge de Altinho, Tânia Maria e Paulo Lobo e também nomes importantes do teatro como a atriz Dinha Barreto. Na área de artes plásticas os troféus são feitos, na maioria das vezes, por Andrerson Dias e Lânia Duarte.

O nome dado ao concurso não tem uma história específica. É provavelmente uma forma metafórica de associar o gosto pelo que faz com a empolgação da festividade: “vamos dançar até cair a unha do pé”. Com esse nome mais que original dado por Seu João da Cruz o Arranca Unha fez e ainda promete fazer muita história em Sergipe.


A REGIÃO E O PERÍODO

A região onde o arraiá cresceu é marcada pela parte alta da cidade, onde há muitos morros, vilas, ruelas e becos. Alguns desses becos com nomes bastante interessantes como Arrepiada e Maloca. Este último é o segundo espaço quilombola urbano reconhecido no país e o primeiro em Sergipe. O bairro Getúlio Vargas além de ser reduto negro é também um espaço artístico, então muitos artistas da região, principalmente músicos, marcam ou já marcaram presença no evento. Nota-se então que é muito ativa e pulsante a relação entre o Centro, o bairro e suas áreas circunvizinhas.

Além do histórico da região, a força do período junino tem um significado extremo. Essa força é vista desde o plantio dos alimentos. O homem, no começo do ano, vai plantar em sua terra o milho que depois de três ou quatro meses será colhido e dará origem a tantas outras comidas. Como forma de agradecimento a esse ciclo ele vai pegar seus instrumentos, juntar os amigos e rezar, comer, cantar e dançar.


MEMÓRIA

“É importante que a gente se preocupe com a preservação da história. Não é que ela tenha que ser guardada pra ninguém ver, muito pelo contrário, é uma história preparada, pronta pra ser exposta constantemente, pesquisada e usada no sentido de informar às futuras gerações e também às atuais. O Arraiá do Arranca Unha com certeza nunca vai acabar.”, relata Isaac.


Em 2011

Os festejos juninos do Arraiá do Arranca Unha este ano começam no dia 11 de junho e terá duração de 12 dias, acontecendo sempre nos finais de semana e entre os dias 24 e 30 do mesmo mês. Como todos os anos anteriores o Centro de Criatividade vai ser decorado tematicamente. Para que ganhem uma renda extra, os moradores da comunidade foram cadastrados para que possam vender comidas e produtos típicos nas barracas, de modo que o lucro vai todo para os vendedores. O evento conta com a participação de trios pé-de-serra, um para cada noite. E será dado um prêmio em dinheiro para a quadrilha vencedora.

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