(Foto: Gustavo Pimentel)
Será que ele é ignorante mesmo? Quem é de fato este “cabra macho”?
Por Osmar Rios
É difícil encontrar uma pessoa que goste de cordel ou piada e não conheça “Seu Lunga”. Pelo nome às vezes não lembra, mas quando se diz “o velho mais ignorante do mundo”, aí sim, não resta mais nenhuma dúvida. Porém muitos não sabem que esta pessoa existe, e o pior, não é tão semelhante ao personagem criado. Ele recebeu o apelido de uma senhora, que era vizinha, e passou a chamá-lo de Calunga, que mais adiante se reduziu para Lunga. Mito e realidade serão explicados a partir de agora.
Nascido em Caririaçu e atualmente morando em Juazeiro do Norte, a terra do Padre Cícero Romão Batista – ambas da Região Metropolitana do Cariri, no Ceará – ele é também uma das figuras mais conhecidas da região. Joaquim Santos Rodrigues – este é o verdadeiro nome da lenda “Seu Lunga” – hoje tem 82 anos, 13 filhos e muita história para contar. Na verdade, Joaquim é, até hoje, suplantado pela fama do mito. Ele pouco tem a ver com esse personagem folclórico. Este cidadão deve ter proferido uns quatro ou cinco impropérios e deve ter protagonizado, no máximo, uns dez por cento das anedotas que lhe são atribuídas através do personagem.
Apesar disso, tornou-se um elemento do folclore nordestino, porque como ele mesmo diz: “Quando a canalha ruim implica com um, é uma desgraça”. E assim é que “Seu Lunga” tornou-se, por meio de histórias que lhe são atribuídas, certamente com o reforço da sua personalidade forte, de homem rude e mal-humorado, um personagem tão folclórico que muita gente não acredita na sua real existência, mas ele existe.
Ele já teve vários trabalhos, atualmente tem um comércio de sucata. Entretanto, lá aparece mais gente para conhecê-lo, tirar foto e pedir autógrafo, do que para comprar alguma coisa. Inclusive já tentaram várias vezes comprar o “ponto” dele, porém não tem quem consiga tirá-lo dali. Seu comércio virou um ponto turístico da cidade. Vem gente do país inteiro para conhecer a famosa ignorância do “Seu Lunga”.
O jornalista Tarcísio Mattos afirmou que, em sua coluna domincal “Aos Vivos”, no jornal “O Povo”, após fazer exame genético em mais de 20 espécies, Joaquim descende do jumento e não do macaco, contrariando Darwin, pela similitude das orelhas. E, no caso do personagem, o grau de parentesco é ainda maior, já que ele gosta de distribuir “patadas”. Basta fazer-lhe uma pergunta besta para receber o “coice”.
Por um lado, há quem diga que toda essa “fama” tem que ser agradecida por Joaquim. Caso contrário, dificilmente ele seria tão reconhecido e se destacaria na vida. Por outro, podemos dizer que o problema não está em falar dele ou criar um personagem a partir dele, mas sim, inventar coisas sobre ele – e sem autorização – faz com que as pessoas já acreditem que foi realmente “Lunga” quem falou ou fez aquilo. Ele deu até entrevista a uma emissora de TV, afiliada da Globo, e disse que está processando todos aqueles que fazem cordéis sobre ele. “Tudo que tem aí é mentira, eu não fiz nada disso”, explica Joaquim.
Um exemplo recente, no início de maio, foi que a 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ/Ce) determinou que o cordelista Abraão Bezerra Batista (“Rouxinol do Rinaré”) não utilize mais a expressão “Seu Lunga” em publicações ou qualquer outra forma de divulgação. A decisão foi proferida em 09/05 e reformou sentença proferida pelo Juízo da 3ª Vara de Juazeiro do Norte.
Joaquim Santos Rodrigues afirma que teve a dignidade ferida, pois o cordelista fantasiou situações ao atribuir-lhe a prática de atos que nunca fez, contribuindo para consolidar a imagem negativa de “grosseirão dotado de incomum rudez” (Acompanhe na íntegra em: http://www.direitoce.com.br/noticias/49169/.html).
Ao final das contas, histórias pitorescas de “Seu Lunga”, como essas abaixo, correm o mundo. No nordeste brasileiro e em outras regiões do Brasil, surgem em torno do personagem os casos mais absurdos e mirabolantes – e todos são atribuídos a ele, como se de fato tivessem acontecido.
(Foto abaixo: culturanordestina.blogspot.com)
A Porca: Um sujeito foi até a loja do Seu Lunga e pediu uma porca sextavada de determinado tamanho e rosca, seu Lunga respondeu: - Procure naquela caixa. E o sujeito começou a procurar e no meio de tantas peças nada de ele conseguir achar a porca que ele queria; então exausto falou para Seu Lunga: - Seu Lunga, não consegui achar a porca... Indignado, Seu Lunga foi até a caixa, procurou a tal porca e a achou, então virou-se para o rapaz e respondeu: - Eu não te disse que a porca tava aqui, fi duma égua!!! E jogando a porca novamente na caixa e misturando com as outras peças diz: - Agora procura de novo direito que você acha!!!
Pescaria: Seu Lunga sai de casa com a vara de pescar e um cestinho em direção à lagoa quando seu vizinho passa e fala: - Indo pescar, Seu Lunga? E seu Lunga responde: - Não, tô indo jogar palitinhos (quebrando em palitinhos a vara de pescar).
A dor: Seu Lunga está preparado para dormir quando sua esposa, passando mal, reclamou: - Ô Lunga, meu véi, tá me dando uma coisa aqui...! - Então receba!!! - Mas... É uma coisa ruim!!! - Então devolva!!!
O filho: O filho do Seu Lunga jogava futebol em um clube local, e um dia Seu Lunga foi assistir a um jogo de seu filho no estádio, e o sujeito sentado ao lado pergunta: - Seu Lunga, qual dos jogadores ali é o seu filho. Seu Lunga aponta e diz: - é aquele ali... - Aquele qual? - Aquele ali!!!! - Não tô vendo... Então Seu Lunga "Puto da vida" pega uma pedra, joga em cima de seu filho e diz: - Pronto. É aquele ali que levou uma pedrada na cabeça!!!
O único que vi até hoje contar estórias de “Seu Lunga” e citar que nem tudo foi ele quem fez, mas diz que atribuem ele, é o humorista Adamastor Pitaco. Confira aqui algumas dessas histórias: http://www.youtube.com/watch?v=SyghSW7Oa5g&feature=related
No livro “Vaiando o Sol” – do jornalista Tarcísio Mattos – tem vários versinhos como esse abaixo, que ele afirma serem de autoria do próprio Joaquim.
Pescaria: Seu Lunga sai de casa com a vara de pescar e um cestinho em direção à lagoa quando seu vizinho passa e fala: - Indo pescar, Seu Lunga? E seu Lunga responde: - Não, tô indo jogar palitinhos (quebrando em palitinhos a vara de pescar).
A dor: Seu Lunga está preparado para dormir quando sua esposa, passando mal, reclamou: - Ô Lunga, meu véi, tá me dando uma coisa aqui...! - Então receba!!! - Mas... É uma coisa ruim!!! - Então devolva!!!
O filho: O filho do Seu Lunga jogava futebol em um clube local, e um dia Seu Lunga foi assistir a um jogo de seu filho no estádio, e o sujeito sentado ao lado pergunta: - Seu Lunga, qual dos jogadores ali é o seu filho. Seu Lunga aponta e diz: - é aquele ali... - Aquele qual? - Aquele ali!!!! - Não tô vendo... Então Seu Lunga "Puto da vida" pega uma pedra, joga em cima de seu filho e diz: - Pronto. É aquele ali que levou uma pedrada na cabeça!!!
O único que vi até hoje contar estórias de “Seu Lunga” e citar que nem tudo foi ele quem fez, mas diz que atribuem ele, é o humorista Adamastor Pitaco. Confira aqui algumas dessas histórias: http://www.youtube.com/watch?v=SyghSW7Oa5g&feature=related
No livro “Vaiando o Sol” – do jornalista Tarcísio Mattos – tem vários versinhos como esse abaixo, que ele afirma serem de autoria do próprio Joaquim.
“Cada cabeça tem um mundo,
Cada doido uma mania:
Me deito na terra quente,
Acordo na terra fria...
Peguei na perna da véia,
Pensando que era da fia.
Mas, perna de véia arranha,
E perna de moça é macia...”
Portanto, “Seu Lunga” existe, porém não com toda essa ignorância que lhe é atribuída. O apelido é até hoje usado por todos, porém Joaquim quer mesmo é ser visto como um grande poeta, pois disso ele se orgulha e muito. Ele faz poemas, discursos políticos, de aniversário e até de “uma criatura que morre”, como ele mesmo diz. Acompanhe neste vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=_4ZrPB0T5XM
Um comentário:
Se o tal Lunga descobrir que tu misturaste a anedota da porca com a da pescaria, ele te xinga todo (kkkkkkkkk)
Parabéns pelo cuidado na revisão do texto: dos que eu li até agora, talvez seja o mais bem-acabo em relação a coerência e respeito à concordância nominal e verbal. Tu és prenhe de talento, comentarista!
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