29 de nov. de 2011

O feitiço contra o feiticeiro

Usuários tratam mal acervo da Biblioteca Central da UFS, que demora a ser atualizado por alguns departamentos

Por Francielle Couto Santos e Isabelle Freire Viana

Livros riscados, capas soltas e páginas rasgadas. Esta é a situação de muitos livros da Biblioteca Central (Bicen) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O acervo, que conta com cerca de 150 mil exemplares, passa por uma situação visível de mau uso, cujas condições tornam-se mais complicadas a cada dia.
Anualmente, são destinados R$ 2 milhões para a aquisição de novos exemplares. A compra é realizada por meio do Programa Ensino de Qualidade (Proquali), criado para descentralizar as decisões acerca dos títulos selecionados. Cada departamento e núcleo de ensino recebe um valor fixo, que varia conforme os indicadores do número de alunos que ingressam e se formam por curso. Isso significa que a verba designada para o Proquali não é distribuída igualmente, e uns ganham mais que outros.

Feitas as solicitações, a partir de indicações dos professores, o processo de aquisição é então iniciado. Contudo, quanto ao aproveitamento do acervo, há uma distinção aparente entre os alunos das áreas de Humanas e Exatas. Enquanto estes últimos demonstram maior satisfação em relação aos livros, os de Humanas reclamam principalmente do estado em que o material se encontra.

“Pelo menos os livros que eu peguei estão em bom estado. Além disso, a linguagem é boa, e está dando para aproveitar muita coisa”, afirma Maiky dos Santos Silva, estudante do 1° período de Ciência da Computação. Silvana Maria dos Santos, caloura de Licenciatura em Matemática, também diz que o material é bom, “apesar de ser um pouco confuso encontrar alguns livros às vezes”.
Já na área de Letras, por exemplo, é fácil encontrar livros em condições lamentáveis que comprometem o manuseio. Muitos são tão antigos, que o mofo tomou conta. “Faltam páginas e são um pouco velhos, e eu tenho alergia, ou seja, isso só piora o meu problema”, afirma Mirthes Maria Silva Santos, do 4° período de Português-Inglês. Segundo ela, “alguns exemplares estão deploráveis”.

Desatualização
Segundo a diretora da Bicen, Rosa Gomes Vieira, a área de Humanas enfrenta problemas como esses porque não há listagens de substituições de livros. “Se o professor não pede, nós não temos condições de saber que aquele livro ainda é daquela bibliografia”, declara. “A gente não interfere nessa parte de material bibliográfico. Fica a cargo do professor solicitar ou não novos livros”, explica a diretora.

Isso torna o uso do acervo um tanto limitado para alguns, pois, além de poucos exemplares para a demanda existente de alunos, os que estão disponíveis encontram-se em estado de difícil uso. Para que essa situação fosse amenizada, seria necessário que um programa de restauração entrasse em ação. Mas acontece que não há no estado de Sergipe empresas capacitadas para um reparo de grande porte, além de ser um processo que custa caro. “A gente cogita a ideia da restauração, mas não encontra firmas que realizem este processo”, afirma a diretora.

Porém, os próprios estudantes contribuem para a deterioração do acervo da Biblioteca, que é de utilidade pública. Os calouros entrevistados disseram que encontrar os livros é o maior problema deles, já que os alunos mais antigos misturam os exemplares. Os veteranos, aliás, são os que mais depredam e desordenam o material, segundo Maralise Barreto da Rocha, uma das recepcionistas da Bicen. Para ela, a preservação dos livros da Biblioteca pelos estudantes, de modo geral, é péssima.

Rosa Vieira acrescenta: “O aluno, em vez de tirar cópia, corta as páginas que precisa. Assim, esse livro deve ser tirado do acervo, porque não vai mais servir”. O patrimônio cultural que deveria ser preservado possui hoje um alto índice de imprudência e mau uso, o que implica falta de comprometimento. “A gente tem algumas ideias para promover campanhas de preservação do material”, conta a diretora. Para ela, é incompreensível ver que o aluno do ensino público não consegue conservar o material que vem de gerações. A falta de consciência e o mau uso só prejudicam os próprios estudantes, mas parece que eles se recusam a compreender isso.

Como cuidar do que é de todos

  • Ao ler um livro, evite abri-lo totalmente, como por exemplo, em cima de uma mesa. Isto pode comprometer a estrutura de sua encadernação.
  • Quando tirar um livro da prateleira, não o puxe pela parte superior da lombada, pois isso danifica a encadernação. O certo é empurrar os volumes vizinhos para cada um dos lados e puxar o  livro desejado pelo meio da lombada.
  • Folheie o livro rapidamente, mas com cuidado, sempre que for colocá-lo de volta na prateleira. Isso vai arejá-lo.
  • Papéis avulsos não devem ser deixados no interior das páginas. Em alguns casos, a acidez de um pedaço de papel – um recorte de jornal, por exemplo – pode até inviabilizar a leitura.
  • Não consumir alimentos e bebidas durante a leitura. Derramamentos acidentais de líquidos e gordura podem causar sérios danos às obras. Alimentos também atraem baratas e outros insetos, conhecidos vilões do acervo.
  • Grifos e anotações são elementos estranhos à natureza do livro. Eles prejudicam a leitura de outros usuários, limitando o acesso ao conhecimento.
  • Não dobre as pontas nem vire as páginas com auxílio de saliva.

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