29 de set. de 2016

Como a alimentação sustentável contribui para a segurança alimentar?


Banco de Alimentos em Sergipe combate o desperdício de alimentos e beneficia mais de 334 mil pessoas.

Por Aline Wilma Santos e David Rodrigues


Alimentos selecionados para doação na Paróquia Nossa Senhora da Conceição. (Foto: David Rodrigues)


A Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas lançou, no final do mês passado, um guia prático com diretrizes para que empresas do setor alimentício e da agricultura adotem modelos de produção sustentáveis. A cartilha dos Princípios Empresariais para Alimentos e Agricultura (PEAA) relata que cerca de um terço dos alimentos produzidos para consumo humano no mundo, por volta de 1,3 bilhões de toneladas, é perdido ou desperdiçado todos os anos.
                                              
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), 54% desse desperdício se dá nas fases iniciais de produção (manipulação, pós-colheita e armazenagem), enquanto que os outros 46% ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo. No Brasil cerca 41 mil toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente, o que o deixa na décima posição no ranking dos países que mais desperdiçam alimentos no mundo.

Alimentos são desperdiçados de várias formas: pela produção em excesso, durante o transporte, na estocagem, no preparo e no descarte. São alimentos que podem ser usados em diversas receitas, mas possuem uma aparência que não agrada os consumidores. A alimentação sustentável combate este processo de desperdício e incentiva o aproveitamento integral dos alimentos.

Arrecadação e distribuição

Para garantir o acesso físico e econômico a alimentos seguros, nutritivos e em quantidade suficiente para atender às necessidades e preferências de todos, as empresas fazem parceria com Bancos de Alimentos, instituições que coletam e distribuem produtos não comercializados pelos atacadistas e produtores rurais, contribuindo com o abastecimento e segurança alimentar e funciona através da coleta dos produtos não comercializados pelos atacadistas e produtores rurais.

Segundo o Coleta de Alimentos, no ano passado, 39 Bancos conseguiram arrecadar 162.167,63 quilos de alimentos em 51 cidades, com doações de 253 supermercados parceiros, o que beneficiou 358.045 pessoas. Em Sergipe, onde há apenas um Banco de Alimentos, o Programa Mesa Brasil Sesc - Serviço Social do Comércio, foram coletados 3.190 quilos em nove supermercados da capital.

O Programa do Sesc atua desde 2003 no combate às condições de insegurança alimentar em dois polos, Aracaju e Itabaiana, desenvolvendo ações educativas nas áreas de nutrição e serviço social com o objetivo de promover a alimentação adequada e a reeducação alimentar, além de fortalecer as instituições assistidas. O Programa atua na modalidade colheita urbana, por meio da qual os alimentos são coletados no doador e entregues diretamente as entidades beneficiadas, sem formação de estoque. 

Joyce Pimentel, nutricionista do Programa há seis anos, explica como é feita a capacitação dos profissionais responsáveis pelo recolhimento desses alimentos. “Nós treinamos com frequência essa equipe operacional, que são os motoristas e ajudantes. Sob nossa orientação, são eles que avaliam esses produtos. Quando ficam na dúvida, ligam e eu vou lá olhar. Ou então, eles trazem aqui para que eu possa ver. Os treinamentos têm o objetivo de capacitá-los para que identifiquem quais alimentos estão próprios para o consumo”.

A sede do Mesa Brasil em Sergipe possui 497 doadores cadastrados, entre eles, indústrias de alimentos, centrais de distribuição, supermercados, associações de produtores rurais e outros. A doadora Telma Moura, feirante há 18 anos, na Central de Abastecimento de Aracaju (Ceasa), contribui à cerca de 5 anos com doações de frutas ao programa. “Tem muita gente que passa necessidade. Não é porque você está com a barriga cheia que vai esquecer de quem está com fome. É muito triste chegar a hora de comer e você não ter. Se eu pudesse doava mais”, diz emocionada, ao explicar o motivo de sua contribuição. Também doadora, a feirante Marineuza dos Santos, contribui a mais de 5 anos e relata que antes de conhecer as ações do programa, uma parte das frutas que comercializa tinha como destino o lixo. “O que sobrava quando não tinha a quem doar, a gente jogava no lixo”.
 
Quem recebe?                                 

Uma das 366 instituições beneficiadas pelo Programa Mesa Brasil é a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, localizada no bairro Mosqueiro, a 22 quilômetros da capital sergipana. A paróquia participa do programa desde 2010 e hoje beneficia 120 famílias, representando uma média mensal de 300 pessoas. Toda sexta-feira a instituição é responsável pela distribuição desses alimentos à população da comunidade que é cadastrada. Na mesma hora que o alimento chega, as nove voluntárias fazem a separação e higienização desses alimentos e em seguida realizam uma oração em agradecimento aos doadores.

A aposentada Maria de Lourdes, que é voluntária e responsável pela paróquia, diz ser gratificante o trabalho que realiza. “É muito gratificante quando vejo a satisfação no rosto do irmão que recebe. Às vezes alguns vêm nos dizer que este alimento é o que tem para aquele dia. É alegria compartilhada”, explica.

A diarista Liana dos Santos, beneficiada há dois anos pelo projeto voluntário desenvolvido na Paróquia, afirma que às vezes não tem condições de realizar a compra de certos alimentos, e tem semana que a doação acaba ajudando muito no orçamento. “Essas frutas e verduras quebram muito o galho”.

De janeiro a agosto deste ano, o Programa Mesa Brasil arrecadou e distribuiu 599.306 quilos de alimentos e atendeu 334.183 pessoas. A meta para 2016 é arrecadar um milhão de alimentos.

Nenhum comentário: