Banco de Alimentos em
Sergipe combate o desperdício de alimentos e beneficia mais de 334 mil pessoas.
Por Aline Wilma Santos e David Rodrigues
Alimentos selecionados para doação na Paróquia Nossa Senhora da Conceição. (Foto: David Rodrigues) |
A
Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas lançou, no final do mês passado,
um guia prático com diretrizes para que empresas do setor alimentício e da
agricultura adotem modelos de produção sustentáveis. A cartilha dos
Princípios Empresariais para Alimentos e Agricultura (PEAA) relata que cerca de
um terço dos alimentos produzidos para consumo humano no mundo, por volta de
1,3 bilhões de toneladas, é perdido ou desperdiçado todos os anos.
De
acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
(FAO), 54% desse desperdício se dá nas fases iniciais de produção (manipulação,
pós-colheita e armazenagem), enquanto que os outros 46% ocorrem nas etapas de
processamento, distribuição e consumo. No Brasil cerca 41 mil toneladas de
alimentos são desperdiçadas anualmente, o que o deixa na décima posição no
ranking dos países que mais desperdiçam alimentos no mundo.
Alimentos
são desperdiçados de várias formas: pela produção em excesso, durante o
transporte, na estocagem, no preparo e no descarte. São alimentos que podem ser
usados em diversas receitas, mas possuem uma aparência que não agrada os
consumidores. A alimentação sustentável combate este processo de desperdício e
incentiva o aproveitamento integral dos alimentos.
Arrecadação e
distribuição
Para
garantir o acesso físico e econômico a alimentos seguros, nutritivos e em
quantidade suficiente para atender às necessidades e preferências de todos, as
empresas fazem parceria com Bancos de Alimentos, instituições que coletam e
distribuem produtos não comercializados pelos atacadistas e produtores rurais,
contribuindo com o abastecimento e segurança alimentar e funciona através da
coleta dos produtos não comercializados pelos atacadistas e produtores rurais.
Segundo
o Coleta de Alimentos, no ano
passado, 39 Bancos conseguiram arrecadar 162.167,63 quilos de alimentos em 51
cidades, com doações de 253 supermercados parceiros, o que beneficiou 358.045
pessoas. Em Sergipe, onde há apenas um Banco de Alimentos, o Programa Mesa
Brasil Sesc - Serviço Social do Comércio, foram coletados 3.190 quilos em nove
supermercados da capital.
O
Programa do Sesc atua desde 2003 no combate às condições de insegurança
alimentar em dois polos, Aracaju e Itabaiana, desenvolvendo ações educativas
nas áreas de nutrição e serviço social com o objetivo de promover a alimentação
adequada e a reeducação alimentar, além de fortalecer as instituições
assistidas. O Programa atua na modalidade colheita urbana, por meio da qual os
alimentos são coletados no doador e entregues diretamente as entidades
beneficiadas, sem formação de estoque.
Joyce
Pimentel, nutricionista do Programa há seis anos, explica como é feita a
capacitação dos profissionais responsáveis pelo recolhimento desses alimentos.
“Nós treinamos com frequência essa equipe operacional, que são os motoristas e
ajudantes. Sob nossa orientação, são eles que avaliam esses produtos. Quando
ficam na dúvida, ligam e eu vou lá olhar. Ou então, eles trazem aqui para que
eu possa ver. Os treinamentos têm o objetivo de capacitá-los para que
identifiquem quais alimentos estão próprios para o consumo”.
A
sede do Mesa Brasil em Sergipe possui 497 doadores cadastrados, entre eles,
indústrias de alimentos, centrais de distribuição, supermercados, associações
de produtores rurais e outros. A doadora Telma Moura, feirante há 18 anos, na
Central de Abastecimento de Aracaju (Ceasa), contribui à cerca de 5 anos com
doações de frutas ao programa. “Tem muita gente que passa necessidade. Não é
porque você está com a barriga cheia que vai esquecer de quem está com fome. É
muito triste chegar a hora de comer e você não ter. Se eu pudesse doava mais”,
diz emocionada, ao explicar o motivo de sua contribuição. Também doadora, a
feirante Marineuza dos Santos, contribui a mais de 5 anos e relata que antes de
conhecer as ações do programa, uma parte das frutas que comercializa tinha como
destino o lixo. “O que sobrava quando não tinha a quem doar, a gente jogava no
lixo”.
Quem
recebe?
Uma
das 366 instituições beneficiadas pelo Programa Mesa Brasil é a Paróquia Nossa
Senhora da Conceição, localizada no bairro Mosqueiro, a 22 quilômetros da
capital sergipana. A paróquia participa do programa desde 2010 e hoje beneficia
120 famílias, representando uma média mensal de 300 pessoas. Toda
sexta-feira a instituição é responsável pela distribuição desses alimentos à
população da comunidade que é cadastrada. Na mesma hora que o alimento chega,
as nove voluntárias fazem a separação e higienização desses alimentos e em
seguida realizam uma oração em agradecimento aos doadores.
A
aposentada Maria de Lourdes, que é voluntária e responsável pela paróquia, diz
ser gratificante o trabalho que realiza. “É muito gratificante quando vejo a
satisfação no rosto do irmão que recebe. Às vezes alguns vêm nos dizer que este
alimento é o que tem para aquele dia. É alegria compartilhada”, explica.
A
diarista Liana dos Santos, beneficiada há dois anos pelo projeto voluntário
desenvolvido na Paróquia, afirma que às vezes não tem condições de realizar a
compra de certos alimentos, e tem semana que a doação acaba ajudando muito no
orçamento. “Essas frutas e verduras quebram muito o galho”.
De
janeiro a agosto deste ano, o Programa Mesa Brasil arrecadou e distribuiu
599.306 quilos de alimentos e atendeu 334.183 pessoas. A meta para 2016 é
arrecadar um milhão de alimentos.
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