Cerca de 13 milhões
de pessoas ainda são analfabetas no Brasil
Por: Ana Lúcia
Andrade e Evandro Santos
“Educação 2030:
Declaração de Incheon e Marco de Ação; rumo a uma educação de qualidade
inclusiva e equitativa e à educação ao longo da vida para todos”.
O título do documento aprovado no último Fórum Mundial de Educação (FME 2015),
ocorrido em maio de 2015, em Incheon, na Coreia do Sul, reitera uma utopia que
vem sendo recorrentemente subscrita por mais de uma centena de países desde a
segunda metade do século passado. Ele foi endossado por 184 Estados-membros da
Unesco – a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura. No entanto, uma condição básica para o sucesso de qualquer programa
educacional – a erradicação do analfabetismo no mundo – permanece como uma das
resistências utopias, de acordo com os dados da própria Unesco. Cerca de 775 milhões
de pessoas não sabem ler e escrever, dos quais 75% estão concentrados em dez países
(em ordem decrescente: Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia,
Egito, Brasil, Indonésia e a República Democrática do Congo).
Ou seja, o Brasil é o oitavo país
com mais alta taxa de analfabetismo e responde por 38,5% dos adultos
analfabetos na América Latina, segundo a Unesco. Isso corresponde a
aproximadamente 13 milhões de pessoas, de acordo com levantamento feito entre
2005 e 2011 para o Relatório de
Monitoramento Global de Educação Para Todos 2000-2015: progressos e desafios.
A maior parte desses analfabetos vive na região Nordeste, em municípios com até
50 mil habitantes, quando se considera a população com mais de 15 anos, e entre
eles predominam negros e pardos e moradores da zona rural, ou seja, a população
historicamente marginalizada.
Em 2003, o governo brasileiro
lançou o Brasil Alfabetizado (PBA),voltado para a alfabetização de jovens,
adultos e idosos, principalmente em municípios com taxas de analfabetismo
superiores a 25%. O programa ganhou força com a Lei n° 10.880, de
9 de junho de 2004, que estabeleceu ajuda financeira oriunda
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Porém, em
agosto deste ano o governo do presidente interino Michel Temer suspendeu o
programa em todo o País, o que ocasionou redução e até paralisação nas ações de
combate ao analfabetismo nos estados e municípios. Dias depois, em nota, o
Ministério da Educação afirmou que o PBA não está suspenso e encontra-se em
execução, e que as turmas do programa Brasil Alfabetizado para 2016 foram
abertas em outubro de 2015, para execução este ano. Por isso, o novo ciclo 2017
do Brasil Alfabetizado será aberto até novembro de 2016.
Por: Ana Lúcia
Andrade e Evandro Santos
“Educação 2030:
Declaração de Incheon e Marco de Ação; rumo a uma educação de qualidade
inclusiva e equitativa e à educação ao longo da vida para todos”.
O título do documento aprovado no último Fórum Mundial de Educação (FME 2015),
ocorrido em maio de 2015, em Incheon, na Coreia do Sul, reitera uma utopia que
vem sendo recorrentemente subscrita por mais de uma centena de países desde a
segunda metade do século passado. Ele foi endossado por 184 Estados-membros da
Unesco – a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura. No entanto, uma condição básica para o sucesso de qualquer programa
educacional – a erradicação do analfabetismo no mundo – permanece como uma das
resistências utopias, de acordo com os dados da própria Unesco. Cerca de 775 milhões
de pessoas não sabem ler e escrever, dos quais 75% estão concentrados em dez países
(em ordem decrescente: Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia,
Egito, Brasil, Indonésia e a República Democrática do Congo).
Ou seja, o Brasil é o oitavo país
com mais alta taxa de analfabetismo e responde por 38,5% dos adultos
analfabetos na América Latina, segundo a Unesco. Isso corresponde a
aproximadamente 13 milhões de pessoas, de acordo com levantamento feito entre
2005 e 2011 para o Relatório de
Monitoramento Global de Educação Para Todos 2000-2015: progressos e desafios.
A maior parte desses analfabetos vive na região Nordeste, em municípios com até
50 mil habitantes, quando se considera a população com mais de 15 anos, e entre
eles predominam negros e pardos e moradores da zona rural, ou seja, a população
historicamente marginalizada.
Em 2003, o governo brasileiro
lançou o Brasil Alfabetizado (PBA),voltado para a alfabetização de jovens,
adultos e idosos, principalmente em municípios com taxas de analfabetismo
superiores a 25%. O programa ganhou força com a Lei n° 10.880, de
9 de junho de 2004, que estabeleceu ajuda financeira oriunda
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Analfabetismo em Sergipe
Fonte: IBGE/PNAD - Observatório do PNE |
Os dados do Censo Demográfico
realizado pelo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE),
em 2010, revelam que a taxa de analfabetismo em Sergipe ainda é considerada elevada.
Segundo o IBGE, o percentual de jovens acima de 15 anos, adultos e idosos
considerados analfabetos absolutos, no Estado de Sergipe, era de 18,4%. Em
2013, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo
IBGE, apresentou uma redução na taxa de analfabetos para 16,9%. Este percentual
é aproximadamente o dobro da taxa de analfabetismo no Brasil (8,3%) e pouco
maior que a do Nordeste (16,6%), segundo dados da PNAD 2013. Esses números
revelam que Sergipe se aproxima do Estado do Maranhão, que tem a terceira maior
taxa de analfabetismo do Brasil, com 17,9%.
Para reduzir as alarmantes taxas
de analfabetismo, o Estado de Sergipe criou o Programa Sergipe Alfabetizado, em
consonância com o Programa Brasil Alfabetizado tem com objetivo iniciar o
processo de alfabetização de jovens e adultos para erradicar o analfabetismo no
Estado, com a participação das secretarias municipais de educação e diversas
representações da sociedade civil organizada.
Sergipe alfabetizado
Professora Rosidete Maia (Foto: Arquivo pessoal) |
“Uma das principais características que me leva a ensinar e está nos
projetos do analfabetismo foi o meu gosto pela leitura, e a facilidade na
escrita e na comunicação com as pessoas, onde posso contribuir para o
desenvolvimento na alfabetização de cada indivíduo”, enfatizou a professora.
Reunião do EJA. ( Foto: Rosidete Maia) |
O EJA é uma modalidade de ensino que tem como
finalidade erradicar o analfabetismo no país, e para isso estabelece parcerias
para utilizar os espaços ociosos existentes nas diversas comunidades.
Rosidete descreve os alunos do EJA como os menos
favorecidos. “Com algumas exceções, mas no geral eles são pessoas que não
tiveram acesso à alfabetização no tempo normal, ou seja, na idade correta.
Muitos já são pais de família e fazem um esforço enorme para conciliar o
trabalho com as aulas”, relata a professora.
De acordo com a coordenadora do Programa Sergipe
Alfabetizado no município de Lagarto, interior sergipano, Claudemira Santos, o
programa atua como porta de acesso à cidadania ao despertar o interesse pela
elevação da escolaridade da população. Além de incentivar a todos que já
concluíram essa etapa de alfabetização a continuidade de estudos através do
ingresso no Ensino Fundamental na modalidade EJA, evitando assim a regressão da
aprendizagem.
Entre 2007 e 2013 foram atendidos 215.823 mil
jovens, adultos e idosos que iniciaram seu processo de alfabetização em
Sergipe, de acordo com o Sistema Brasil Alfabetizado. “O EJA promove o retorno
dos jovens e adultos defasados no processo de escolaridade, satisfazendo as
necessidades básicas de aprendizagem dos mesmos, provendo-lhes as competências
fundamentais requeridas para plena participação na vida econômica, social e
cultural”, afirma a coordenadora.
Em Lagarto a taxa de analfabetismo chega ao entorno
de 24,5%, segundo dados do IBGE, em 2010. Um índice cerca de 7% maior em
comparação ao Estado. “Vários fatores contribuem para o alto índice, como o
cansaço decorrente de longa jornada de trabalho, o desemprego, a violência, a
falta de autoestima dos alunos, que diante das dificuldades financeiras deixam
a escola, além da grande evasão escolar, principalmente a população adulta e
idosa que começa e abandona com o tempo o programa”, relatou Claudemira.
Analfabetismo funcional
Fonte: IBGE/PNAD |
Segundo a coordenadora do EJA, a principal causa
desse fato está na descontinuidade dos estudos por parte dos jovens, adultos e
idosos que frequentam os programas ou ações de alfabetização. Por outro lado, a
professora Rosidete afirma que não há interesse do governo em ver as pessoas
alfabetizadas: “eles lançam os programas, mas só têm interesse político, para
dizer que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)
melhorou, que cresceu, mas, no fundo, não existe interesse de governo nenhum,
pois quanto mais analfabeto for o povo eles utilizam como massa de manobra”,
finaliza a professora.
Alguns países da América Latina conseguiram
diminuir ou até mesmo erradicar o analfabetismo. Por exemplo, Cuba que
conseguiu eliminar de seu território o analfabetismo por meio de politicas
educacionais eficientes, e Bolívia e Venezuela, que têm conseguido reduzir
drasticamente seus números, segundo seus censos nacionais divulgados pelos
respectivos governos. “No Brasil faltam soluções eficientes que possa combater
essa Utopia, com a suspensão do Programa Brasil Alfabetizado vai contribuir no
acréscimo dos índices de analfabetismo no País”, avalia a coordenadora.
Embora o número de analfabetos
tenha diminuído na última década em 150 países, 774 milhões de adultos –
pessoas com mais de 15 anos – continuam sem saber ler. Desse total, 64% são
mulheres. Entre os 123 milhões de analfabetos de 15 a 24 anos, 76 milhões são
do sexo feminino. As mulheres representam dois-terços de todos os analfabetos
adultos no mundo.
Em 8 de setembro é comemorado o dia Mundial da
alfabetização, com o objetivo de discutir questões relacionadas com a
alfabetização em todo o mundo a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Unesco
instituíram essa data, que propõe a discussão de alternativas para solucionar os
altos índices de analfabetismo no mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário