Com
quatro meses em pleno funcionamento, o Programa mostra resultados
significativos para a população sergipana
Por:
Flavio Henrique Ferreira e Iris Brito Lopes
De acordo com dados da Demografia Médica Brasileira de fevereiro de 2013, o Nordeste tinha a segunda menor razão médicos/habitantes do país. Em Sergipe, a capital, Aracaju, possuía uma média de 4,95 profissionais para cada 1.000 habitantes. Nas cidades interioranas a taxa era de 0,09 e a média do Estado era 1,42. Atualmente, segundo o Governo Federal, essa média é de 1,3.
O Programa Mais Médicos (PMM), implantado pela Presidenta Dilma Rousseff em julho do ano passado e em funcionamento nas unidades de saúde há quatro meses, tem como principal objetivo sanar a desigualdade na distribuição do atendimento à saúde, levando médicos para as regiões mais afastadas e carentes do país.
Nos dois primeiros ciclos do Programa, Sergipe recebeu 78 médicos, entre brasileiros e estrangeiros. Nossa Senhora do Socorro foi contemplada com seis profissionais cubanos, distribuídos igualmente entre os povoados de Taiçoca de Fora, Taiçoca de Dentro e Guajará.
O médico Yudelquis Rodriguez, formado há 11 anos e desde então atuante na assistência básica, foi escalado para atender pacientes de uma área da Taiçoca de Fora que estava sem médico há mais de um ano, na Unidade Prefeito Luiz Pereira da Silva. “Eu vim para ajudar o povo brasileiro que precisava de médico”, diz Yudelquis, justificando sua vinda espontânea ao Brasil. Nesse tempo de experiência ele diz não ter encontrado muitas dificuldades, apesar do processo de adaptação: “As doenças, seus sintomas e tratamentos são os mesmos tanto aqui, como em Cuba, como em qualquer lugar”, afirma. Ele diz ainda que foi o povo sergipano que lhe deu estímulo. “A recepção em Brasília foi muito boa, mas quando cheguei aqui [aeroporto de Aracaju] e vi todas aquelas pessoas me esperando e dizendo aquelas palavras tive vontade de continuar”, conclui.
“Antigamente tinha que vir de madrugada pegar ficha. Tinha gente que vinha pegar pra vender de manhã. Hoje a gente pode vir qualquer horário”, disse a dona de casa Iara Rodrigues Santos, que chegou à Unidade às 11 horas. Para Iara, o grande problema do posto é o horário de funcionamento – das 8h às 18h de segunda a sexta – “O bom seria se funcionasse direto”. Além disso, os médicos não ficam no posto até o fim do expediente. Depois que o último paciente marcado é atendido eles se retiram.
A situação em São Cristóvão
A cidade de São Cristóvão, distante 26 km a leste de Aracaju, recebeu três médicos provenientes do PMM que atuam em três unidades básicas de saúde. Um atende na sede da cidade, outro no conjunto Eduardo Gomes e outro no povoado Cabrita (que atende também o povoado Várzea Grande). Nossa equipe ouviu a avaliação feita por pacientes que esperavam por atendimento em duas dessas unidades. Na unidade Gov. Valadares, situada na sede, um senhor de nome José Pedro reclamou que o atendimento ficou mais demorado desde que a médica do Programa passou a atender naquela localidade. Neste momento, a dona de casa Ângela Sousa, 51, rebateu a acusação, argumentando que as consultas ficaram mais demoradas porque a doutora examina o paciente com mais cuidado, e que agora não é mais como antes quando “o médico nem olhava para a cara da gente”. A profissional em questão é a Dr.ª Sandra Glaucia da Conceição, 33, sergipana graduada na Escola Latino Americana de Medicina em Cuba e que, apesar de ser brasileira, tem uma visão cubana da prática médica, pois dos sete anos de profissão, seis foram exercidos na Ilha. Ela assumiu uma equipe de saúde da família que estava sem médico há mais de um ano, pondo fim ao remanejamento de usuários para outras equipes.
No posto do Eduardo Gomes, o Maria José Figueiroa, encontramos opiniões divergentes sobre o Programa. A dona de casa Rose Mary, 47, disse ser a favor da vinda dos médicos estrangeiros, pois sente neles uma grande vontade de trabalhar em localidades onde muitos médicos brasileiros não querem. Já Isabel Cristina, 34, moradora do Conjunto desde sua fundação, disse que “os médicos não quiseram ir para áreas carentes porque estão cansados de não ter como trabalhar”. Ana Gabriela de Santana, 28, sergipana graduada em Tocantins há seis meses, é a médica que chegou ao Estado por meio do Programa e atua na unidade em questão. Sua atual equipe estava há um ano e meio sem médico e também passava pelo processo de remanejamento dos pacientes, segundo o que revelou a enfermeira da equipe, Andrea Gois, de 31 anos, e que trabalha no posto há sete. Para ela, a chegada da Dr.ª Gabriela melhorou a situação dos atendimentos, mas não foi suficiente para solucionar todos os problemas existentes na Unidade.
Irregularidades e velhos problemas
Durante a apuração do andamento do Programa Mais Médicos no município de São Cristóvão, nossa equipe se deparou com algumas irregularidades. O Governo Federal, através do Ministério da Saúde, paga um salário líquido de R$ 10 mil ao médico participante do Programa. Além disso, determina que a prefeitura de cada município arque com as despesas de moradia, transporte e alimentação. A Dr.ª Sandra Glaucia, bem como a Dr.ª Ana Gabriela, afirmam que ainda não receberam os auxílios desde que iniciaram as atividades na cidade. O Ministério Público já está ciente da situação e exigiu a correção do problema, sob pena de retirada do Programa do município inadimplente.
O secretário interino da cidade, Júlio César Cardoso, que assumiu o cargo há menos de duas semanas, reconhece a irregularidade quanto à alimentação e promete corrigi-la o mais rápido possível. Quanto à moradia, disse que acha justo o profissional residir na cidade onde trabalha e caso isso seja coberto pelo programa, pretende exigir comprovante de residência em São Cristóvão para só então quitar o débito.
Observando a estrutura do posto médico do Eduardo Gomes, notamos o nome de Ana Gabriela nas tabelas de plantão da urgência e do ambulatório da unidade, o que poderia caracterizar uma dualidade de vínculos profissionais. Ela defende que seu nome está na tabela da urgência porque a repartição tem um déficit de profissionais, e sempre que pode cobre as duas divisões, apesar de só manter vínculo empregatício com o ambulatório, como exige o PMM. Segundo ela, não faltam medicamentos nem materiais necessários para a realização do seu trabalho. Porém, numa passagem pela farmácia, entre muitas outras pessoas, a paciente Francisca Geni, 51, não conseguiu o remédio para verme do qual precisava. De acordo com uma das responsáveis pela farmácia, que pediu para não ser identificada, na unidade falta “uma boa quantidade de remédios básicos, e sempre falta para diabetes, colesterol e para pressão arterial.”, afirmou.
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