Depois
de seis meses, o programa "Mais Médicos" continua sendo um
assunto muito polêmico, com embates entre o governo federal e
entidades médicas. Lançado por medida provisória em julho de 2013,
suas atividades no estado de Sergipe tiveram início em outubro do
mesmo ano. O estado recebeu ao todo 78 profissionais, entre eles nove
brasileiros e 69 estrangeiros. As cidades para onde os médicos foram
enviados são escolhidas com base no número de médicos per capta
e pelo índice de desenvolvimento humano. Foram priorizadas as
cidades com mais de 20% da sua população abaixo da linha da
pobreza.
Formação
dos médicos estrangeiros e revalida
Segundo
o chefe de convênio e gestão do Ministério da Saúde em Sergipe,
Anderson Faria, todos os médicos são formados e com experiência de
trabalho no seu país de origem e em outros países. Ele cita
exemplos de médicos que já trabalharam no continente europeu e
africano, como o Dr. Rodolfo Garcia, representante dos médicos
cubanos no estado. É formado pela universidade de Havana e já
trabalhou no continente africano, em Burquina Faso. Ainda segundo
Anderson, o Revalida se faz necessário no caso dos médicos quererem
permanecer no país após expirado o seu contrato com o programa. O
médico fecha um contrato de 3 anos que pode ser renovado ou não, e
ao fim de 6 anos, caso haja renovação, o profissional precisará
fazer o Revalida para trabalhar no país.
Concorrência
com os médicos brasileiros
Os
médicos brasileiros possuem preferência entre as vagas ofertadas
pelo governo e está proibido a demissão dos profissionais do país,
a menos que seja por justa causa, para que o substituam por um
estrangeiro. Nas palavras do chefe de convênio e gestão do
ministério da saúde em Sergipe: “Os médicos estrangeiros estão
trabalhando onde os brasileiros não querem trabalhar”, disse
Anderson Faria. Segundo ele, os profissionais de medicina estão
acostumados com altos salários por conta da pouca concorrência
profissional, o que faz com que eles não aceitem trabalho nos
lugares mais afastados. Os médicos estrangeiros também não podem
trabalhar no setor privado da saúde no país.
Infraestrutura
da rede de saúde no estado
Segundo
o Ministério da Saúde, o Programa Mais Médicos inclui o
investimento de aproximadamente R$15 bilhões na infraestrutura dos
hospitais e unidades de saúde e novas contratações direcionadas
para regiões que sofrem com a escassez de profissionais da saúde. A
meta do governo é aumentar a proporção de médicos por
habitante. No estado de Sergipe, segundo o diretor de atenção
integral à saúde João Lima Júnior, já foram investidos R$ 42
milhões desde o começo do programa. A falta de estrutura é um
problema apontado tanto pelos estrangeiros quanto pelos médicos
brasileiros. O Dr. Rodolfo afirma que enfrenta problemas em algumas
localidades, sobretudo, nas regiões mais afastadas como nos povoados
da cidade de Nossa Senhora das Dores e de Capela, onde em algumas
ocasiões é preciso deslocar os equipamentos entre as cidades, mas
salienta que esta dificuldade não impede o bom atendimento à
população. Não é o que pensa a Dra. Alannys Almeida, médica
formada na UFS- Universidade Federal de Sergipe, ela ironiza que:
“Acontece um faz de conta no interior, por falta de equipamentos”.
Segundo ela o que se faz é dar um atendimento superficial aos
doentes. Ela dá como exemplo o posto de saúde em que trabalha como
urgentista, no bairro Roza Elze, em São Cristóvão, cidade que faz
parte da grande Aracaju, onde faltam equipamentos e os que existem
não funcionam. Brinca também com o fato dos médicos do programa
receberem tablets: “é engraçado os médicos receberem tablets
para atuar em postos sem internet sem fio”.
O
atendimento
O
atendimento é um ponto que recebeu muitos elogios por parte dos
pacientes. A senhora Jucileide Sousa, que mora em Nossa Senhora das
Dores deixa isso claro: “o atendimento foi ótimo, o médico toca
na gente”. A consulta de dona Jucileide demorou cerca de 15 minutos
e ela diz ter entendido o que o médico disse. Os
médicos estrangeiros passam por um curso de língua portuguesa em
Brasília que dura 3 semanas, e terminado este são liberados para
trabalhar. Eles também fazem um curso online de saúde da família,
ministrado por professores da UFRGS- Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Em relação ao entendimento da língua as opiniões
são controversas a senhora Jucileide que foi atendida pelo Dr.
Rodolfo diz ter entendido bem o que ele havia dito, no entanto pesa a
favor do médico em questão o fato de ele já ter passado dois anos
no Brasil antes do programa. O senhor José Maria, morador de Capela,
relata que teve dificuldades de entender o que a Dra. Lilian Rivero,
médica cubana formada em Matanzas e que já trabalhou na Venezuela,
teria dito.
Perguntado
sobre a diferença entre o médico cubano e o brasileiro o Dr.
Rodolfo Garcia foi enfático “A medicina cubana é mais humanizada”
e mais “Nós estamos acostumados a trabalhar na comunidade”. O
médico dá um ótimo exemplo do que diz, ele realiza um programa de
educação sanitária e exercícios físicos para os idosos de Gado
Bravo do Sul, um povoado de Nossa Senhora das Dores. Esse programa
acontece de terça à quinta, das 6:00 às 7:00 da manhã.
Condições
de vida em Sergipe
Os
municípios que receberam os médicos têm de arcar com as despesas
de moradia e alimentação dos profissionais. Cada moradia bancada
pelo município é dividida por dois médicos. Dr. Rodolfo afirma:
“Nós não nos importamos em dividir a casa, nós somos irmãos.”
Ele divide uma casa no centro de Dores com o Dr. Rolando Mustelier
que também é cubano, formado na Universidade de Oriente. Também
dividem a demanda de atendimento nos povoados da cidade, onde Dr.
Rodolfo atende os povoados do sul e Dr. Rolando os povoados do norte
da cidade.
Repasse
salarial
O
repasse salarial é feito através de um convênio fechado entre o
Brasil, a Organização Pan-Americana de Saúde - (OPAS e Cuba). O
governo brasileiro passa pra organização $10 mil reais líquidos, a
organização passa esse dinheiro para o governo cubano, que fica com
uma parte, transfere uma outra para a família dos médicos e manda o
resto para os integrante do programa. Perguntado a respeito da
quantia que fica com os cubanos que trabalham aqui, Anderson Faria, o
chefe de convênio e gestão do Ministério da Saúde em Sergipe,
declarou: “Eles escolhem o quanto querem receber”. Já o Dr.
Rodolfo Garcia foi enfático: “Para nós o dinheiro não é o mais
importante” e ainda “Não comentamos o repasse entre Cuba e nós”.
Já a Dra. Alanny Almeida diz que existe um motivo para não se falar
do assunto “Isso é jogo político, os médicos cubanos recebem uma
miséria”.
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