27 de jan. de 2014

Mais médicos: Programa completa 6 meses.

Por: Alisson Castro e Amanda Santos

Depois de seis meses, o programa "Mais Médicos" continua sendo um assunto muito polêmico, com embates entre o governo federal e entidades médicas. Lançado por medida provisória em julho de 2013, suas atividades no estado de Sergipe tiveram início em outubro do mesmo ano. O estado recebeu ao todo 78 profissionais, entre eles nove brasileiros e 69 estrangeiros. As cidades para onde os médicos foram enviados são escolhidas com base no número de médicos per capta e pelo índice de desenvolvimento humano. Foram priorizadas as cidades com mais de 20% da sua população abaixo da linha da pobreza.


Formação dos médicos estrangeiros e revalida

Segundo o chefe de convênio e gestão do Ministério da Saúde em Sergipe, Anderson Faria, todos os médicos são formados e com experiência de trabalho no seu país de origem e em outros países. Ele cita exemplos de médicos que já trabalharam no continente europeu e africano, como o Dr. Rodolfo Garcia, representante dos médicos cubanos no estado. É formado pela universidade de Havana e já trabalhou no continente africano, em Burquina Faso. Ainda segundo Anderson, o Revalida se faz necessário no caso dos médicos quererem permanecer no país após expirado o seu contrato com o programa. O médico fecha um contrato de 3 anos que pode ser renovado ou não, e ao fim de 6 anos, caso haja renovação, o profissional precisará fazer o Revalida para trabalhar no país.

Concorrência com os médicos brasileiros

Os médicos brasileiros possuem preferência entre as vagas ofertadas pelo governo e está proibido a demissão dos profissionais do país, a menos que seja por justa causa, para que o substituam por um estrangeiro. Nas palavras do chefe de convênio e gestão do ministério da saúde em Sergipe: “Os médicos estrangeiros estão trabalhando onde os brasileiros não querem trabalhar”, disse Anderson Faria. Segundo ele, os profissionais de medicina estão acostumados com altos salários por conta da pouca concorrência profissional, o que faz com que eles não aceitem trabalho nos lugares mais afastados. Os médicos estrangeiros também não podem trabalhar no setor privado da saúde no país.

Infraestrutura da rede de saúde no estado

Segundo o Ministério da Saúde, o Programa Mais Médicos inclui o investimento de aproximadamente R$15 bilhões na infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde e novas contratações direcionadas para regiões que sofrem com a escassez de profissionais da saúde. A meta do governo é aumentar a proporção de médicos por habitante. No estado de Sergipe, segundo o diretor de atenção integral à saúde João Lima Júnior, já foram investidos R$ 42 milhões desde o começo do programa. A falta de estrutura é um problema apontado tanto pelos estrangeiros quanto pelos médicos brasileiros. O Dr. Rodolfo afirma que enfrenta problemas em algumas localidades, sobretudo, nas regiões mais afastadas como nos povoados da cidade de Nossa Senhora das Dores e de Capela, onde em algumas ocasiões é preciso deslocar os equipamentos entre as cidades, mas salienta que esta dificuldade não impede o bom atendimento à população. Não é o que pensa a Dra. Alannys Almeida, médica formada na UFS- Universidade Federal de Sergipe, ela ironiza que: “Acontece um faz de conta no interior, por falta de equipamentos”. Segundo ela o que se faz é dar um atendimento superficial aos doentes. Ela dá como exemplo o posto de saúde em que trabalha como urgentista, no bairro Roza Elze, em São Cristóvão, cidade que faz parte da grande Aracaju, onde faltam equipamentos e os que existem não funcionam. Brinca também com o fato dos médicos do programa receberem tablets: “é engraçado os médicos receberem tablets para atuar em postos sem internet sem fio”. 

O atendimento

O atendimento é um ponto que recebeu muitos elogios por parte dos pacientes. A senhora Jucileide Sousa, que mora em Nossa Senhora das Dores deixa isso claro: “o atendimento foi ótimo, o médico toca na gente”. A consulta de dona Jucileide demorou cerca de 15 minutos e ela diz ter entendido o que o médico disse. Os médicos estrangeiros passam por um curso de língua portuguesa em Brasília que dura 3 semanas, e terminado este são liberados para trabalhar. Eles também fazem um curso online de saúde da família, ministrado por professores da UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em relação ao entendimento da língua as opiniões são controversas a senhora Jucileide que foi atendida pelo Dr. Rodolfo diz ter entendido bem o que ele havia dito, no entanto pesa a favor do médico em questão o fato de ele já ter passado dois anos no Brasil antes do programa. O senhor José Maria, morador de Capela, relata que teve dificuldades de entender o que a Dra. Lilian Rivero, médica cubana formada em Matanzas e que já trabalhou na Venezuela, teria dito.

Perguntado sobre a diferença entre o médico cubano e o brasileiro o Dr. Rodolfo Garcia foi enfático “A medicina cubana é mais humanizada” e mais “Nós estamos acostumados a trabalhar na comunidade”. O médico dá um ótimo exemplo do que diz, ele realiza um programa de educação sanitária e exercícios físicos para os idosos de Gado Bravo do Sul, um povoado de Nossa Senhora das Dores. Esse programa acontece de terça à quinta, das 6:00 às 7:00 da manhã.

Condições de vida em Sergipe

Os municípios que receberam os médicos têm de arcar com as despesas de moradia e alimentação dos profissionais. Cada moradia bancada pelo município é dividida por dois médicos. Dr. Rodolfo afirma: “Nós não nos importamos em dividir a casa, nós somos irmãos.” Ele divide uma casa no centro de Dores com o Dr. Rolando Mustelier que também é cubano, formado na Universidade de Oriente. Também dividem a demanda de atendimento nos povoados da cidade, onde Dr. Rodolfo atende os povoados do sul e Dr. Rolando os povoados do norte da cidade.

Repasse salarial

O repasse salarial é feito através de um convênio fechado entre o Brasil, a Organização Pan-Americana de Saúde - (OPAS e Cuba). O governo brasileiro passa pra organização $10 mil reais líquidos, a organização passa esse dinheiro para o governo cubano, que fica com uma parte, transfere uma outra para a família dos médicos e manda o resto para os integrante do programa. Perguntado a respeito da quantia que fica com os cubanos que trabalham aqui, Anderson Faria, o chefe de convênio e gestão do Ministério da Saúde em Sergipe, declarou: “Eles escolhem o quanto querem receber”. Já o Dr. Rodolfo Garcia foi enfático: “Para nós o dinheiro não é o mais importante” e ainda “Não comentamos o repasse entre Cuba e nós”. Já a Dra. Alanny Almeida diz que existe um motivo para não se falar do assunto “Isso é jogo político, os médicos cubanos recebem uma miséria”.





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