Por Julia Freitas e Yasmin de Freitas
Longas filas, demora no atendimento e na realização de exames, ausência de médicos e medicamentos. A situação da saúde em nosso país pode ser definida em uma palavra: precária. Buscando uma melhoria no atendimento dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), o Governo Federal conseguiu aprovar a medida provisória MP 621/2013, que criou o programa Mais Médicos, em outubro de 2013. O Programa terá uma duração de três anos, podendo ser prorrogada por mais três, e, durante esse período os médicos participantes receberão uma bolsa-formação no valor de R$ 10 mil.
Passados seis meses, o Nordeste foi a região que recebeu o maior número de médicos, 2967. Os quais foram distribuídos em 1156 municípios. Sergipe recebeu 78 médicos inscritos no programa – 67 cubanos, 11 brasileiros – que foram alocados em 32 municípios do estado.
Mais Médicos em Sergipe
O município de Nossa Senhora do Socorro, localizado na região metropolitana de Aracaju, que tinha um déficit de 13 médicos, recebeu seis médicos cubanos que foram distribuídos nos postos Muciano Cabral, no bairro Guajará; José Alves dos Santos, no bairro Taiçoca de Dentro; e no posto Prefeito Luiz Pereira da Silva, no bairro Taiçoca de Fora. E, segundo Yonara Santa Rosa, assessora técnica da Secretária de Saúde do município, a Prefeitura aguarda uma resposta do Ministério da Saúde sobre a solicitação de novos médicos já para a próxima convocação, prevista para fevereiro.
Questionados sobre os motivos que os levaram a se inscrever no Programa, as respostas dos profissionais foram semelhantes. Todos demonstraram preocupação com a assistência médica de nosso país e interesse em melhorar indicadores e resultados da saúde no país. Alguns deles já haviam vivido experiências semelhantes em outros países, como por exemplo o médico Yrelio Lugo Perez, que trabalhou por 4 anos na Venezuela.
Inicialmente, o Programa Mais Médicos não foi bem recebido pela população. Segundo pesquisas da Datafolha, em junho de 2013, a porcentagem da população que era contrária ao programa (48%), superava por apenas um por cento a dos indivíduos que eram favoráveis. Porém os números das pesquisas feitas em meses seguintes e depoimentos de usuários dos postos de saúde com estes profissionais mostram que, apesar das dificuldades linguísticas, o Programa está conseguindo atingir parte do seu objetivo.
Um exemplo dos resultados positivos do Programa é o Posto de Saúde Muciano Cabral, localizado no povoado Guajará (Nossa Senhora do Socorro/SE), que passou por uma grande reforma no fim de 2013, sendo entregue novamente à população dos bairros Guajará e Palestina em dezembro do mesmo ano, totalmente climatizado e com duas médicas cubanas participantes do Programa do Governo Federal.
Especialista em saúde básica da família, a médica cubana Yudith Corte (40), que atende na unidade de saúde há quatro meses, conta que nos primeiros dias sentia muita dificuldade para atender os pacientes por causa da língua, mas que isso mudou graças ao curso de português, custeado pelo Ministério da Saúde. Após realizar todas as consultas da manhã, a médica contou como era a sua rotina semanal na unidade de saúde: “Nós planejamos o nosso trabalho de segunda a sexta-feira, 8 horas por dia, de manhã e de tarde. Fazemos consultas planejadas para doentes ou grupos de risco, para grávidas, em outro dia para crianças, e também para pacientes com doenças crônicas, como hipertensos, diabéticos e asmáticos. Também fazemos planejamento familiar e atendemos a demanda espontânea, independente das doenças da comunidade”.
Segundo Jane Gledja Santos, paciente cadastrada no posto, um dos pontos positivos é que, graças ao Programa, a população conta agora com uma quantidade maior de profissionais que os atendem com pontualidade. “Melhorou a quantidade de médicos, porque antes aqui só tinha uma de manhã e outra a tarde, e agora são duas de manhã e duas à tarde.”, comenta a moradora. Segundo ela, a médica que antes atendia no posto, apesar de ter bom atendimento, sempre estava atrasada.
Médico há 20 anos, Yrelio Lugo Perez, que atende no Posto de Saúde José Alves dos Santos, no bairro Taiçoca de Dentro, se mostrou surpreso com a facilidade com que as crianças atendidas no posto entendem o espanhol. “Me chama muito a atenção como as crianças compreendem muito melhor [o espanhol]. Inclusive eu falo para eles em espanhol e eles repetem. É incrível!”, conta o médico.
Porém, apesar das reformas nos postos de saúde e da vinda de novos médicos, algumas coisas ainda continuam as mesmas. A médica Yudith Corte conta que apesar de terem medicamentos, a diversidade é pequena. “Temos que tratar de ampliar mais a variedade”, conta ela. Já o médico Yrelio Perez aponto outro problema para os atendimentos. “Temos medicações para doenças crônicas, anti-inflamatórios, antibióticos. Talvez o problema maior que eu vejo são os exames. Os pacientes têm que pegar [os exames] pela internet e às vezes demora”.
O Programa
Os Ministérios da Educação e da Saúde são os responsáveis por esse programa, pois, além de levar médicos especialistas em saúde básica para as áreas mais carentes do interior do Brasil e para as periferias das grandes cidades, ele prevê investimento em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde, e fará com que, a partir de 1º janeiro de 2015, os alunos que ingressarem na graduação de Medicina atuem por um período de dois anos em unidades básicas e na urgência e emergência do SUS. Outro objetivo do Programa é mudar a média nacional do número de médicos por mil habitantes, que antes do início do Programa estava em 1,8, e a média dos estados, já que, dos 26 estados e mais o Distrito Federal, 23 estão abaixo da média nacional, enquanto que no Rio de Janeiro e no Distrito Federal essa média chega a 3,46.
Porém, antes mesmo de ser aprovado, o Programa já recebia duras críticas de médicos e acadêmicos de Medicina brasileiros. Segundo a classe, o problema da saúde não está somente na quantidade de médicos, mas nas condições que são dadas para que eles exerçam a profissão.
Carla Maria Valadares, estudante do nono período de Medicina na Universidade Federal de Sergipe, apesar de reconhecer a importância do Programa, acredita que ele não poderá ser apontado como uma solução para o problema da saúde no país. “Acho que o programa podia funcionar como medida rápida e temporária, com o governo investindo também em gestão e estrutura para melhorar o atendimento à população nesses locais.”, afirma a estudante, que aponta a falta de estrutura como um dos fatores que desmotivam a ida de profissionais para regiões que receberam os médicos participantes do Programa.
Segundo informações da Agência Brasil, no último dia 17, o Ministério da Saúde lançou o quarto edital do Programa Mais Médicos tornando público a convocação de profissionais formados em instituições de ensino superior brasileiras e estrangeiras (com diploma revalidado no Brasil) e definindo as regras para a transferência de médicos do Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab) para o Mais Médicos. O profissional que deseja fazer a migração deve permanecer no município em que trabalha e estar em dia com todas as atividades de ensino e serviço, incluindo a frequência obrigatória na especialização.
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