29 de nov. de 2011

Um dia no Campus

Nesta edição (novembro de 2011), a turma de Reportagem 1A0 recebeu como desafio revelar o que acontece em algumas áreas e certos setores do Campus de São Cristóvão da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ou seja, o relacionamento da cidade universitária com a sua população, e vice-versa. Com tema em mãos, os estreantes repórteres tiveram que “cavar” as pautas de interesse jornalístico de cada um, descobrir as fontes qualificadas e apurar as informações mais relevantes para o direcionamento escolhido. Alguns foram além e fizeram também registros fotográficos. As reportagens a seguir trazem algumas novidades, mas também reiteradas questões que ainda precisam ser enfrentadas pela comunidade universitária. Boa leitura!
Sonia Aguiar
Professora do Departamento de Comunicação Social da UFS responsável pela disciplina em 2011.2

UFS traça novos caminhos para o futuro

Após 40 anos de existência, a Universidade Federal de Sergipe passa por um projeto de reforma que inclui anel viário e ampliação das instalações

Por: Caio Rodrigues e Roseli Silva

Quem frequenta a Universidade Federal de Sergipe (UFS) já deve ter percebido que muitas obras estão sendo feitas em todo o Campus de São Cristovão, mas poucos sabem no que elas consistem e quem realmente será beneficiado no final desse projeto.
No decorrer de seus mais de 40 anos, a UFS nunca tinha passado por um grande processo de ampliação ou reforma de sua infraestrutura. Com a criação de novos cursos e a explosão demográfica do próprio Campus, a estrutura existente  tornou-se inviável.
Em entrevista ao Contexto Repórter, o engenheiro do projeto Fernando Albuquerque, também professor doutor do Departamento de Engenharia Civil da UFS, informa que as reformas incluem: reestruturação dos estacionamentos; recuperação e ampliação da rede de drenagem; ajuste no traçado das vias de tráfego; e implantação de completa sinalização viária.
Para promover a acessibilidade dos “habitantes” da Cidade Universitária, serão recuperados e criados novos passeios (calçadas) para pedestres, com área aproximada de 20.000m2, incluindo passagens de níveis, onde o cadeirante poderá cruzar as vias no mesmo nível da calçada. O custo do anel viário estava orçado, até o momento desta reportagem, em mais de R$ 8 milhões, dinheiro que para alguns alunos poderia ser investido em outros setores, como a construção de novos departamentos e contratação de mais professores. Mas para o engenheiro Albuquerque os gastos são justificáveis.
C.R. Qual o motivo para a realização dessas obras?
F.A. A Cidade Universitária conta com uma rede viária de mais de 30 anos, o que resultou em um estado de deterioração avançado. O asfalto apresentava trincamentos e muitas das vias possuíam buracos ou então eram remendadas. A rede foi avaliada pelo Manual de Restauração de Pavimentos Asfálticos do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes) como ruim, muito ruim e péssimo. Sendo assim, vimos que era grande a necessidade de refazer as vias internas do Campus, de modo que possamos trazer mais segurança tanto para motoristas como para pedestres.
C.R. Como foi feita essa avaliação do Manual do DNIT?
F.A. Os testes foram feitos da seguinte maneira: durante uma semana do período letivo foram feitos levantamentos de tráfego, que consistem em calcular o movimento de carros e pedestres sobre as vias, feitos no período das 6h da manhã às 21 horas. Levamos em consideração que a velocidade nas vias dentro do Campus deve ser inferior a 40 km/h. Vale ressaltar que também foram realizados estudos por parte da área de Transportes e Geotécnica do curso de Graduação em Engenharia Civil da UFS.
C.R. As obras do anel viário fazem parte do projeto de reforma na infraestrutura de todo o Campus. Quais as outras obras inclusas neste projeto? Algum prédio poderá ser ampliado?
F.A. Realmente serão feitos investimentos em vários outros setores, inclusive na ampliação de prédios, como é o caso do Resun, na construção da Didática VII, que irá comportar cerca de três mil alunos, no novo prédio do Cesad (Centro de Educação a Distância), o prédio do Nupeg (Núcleo de Petróleo e Gás), construção e sinalização de todas as vias, ampliação dos estacionamentos, além do plantio de novas árvores.
C.R. As obras do anel viário estavam com o término previsto para o dia 11 de novembro deste ano, porém ainda nem chegaram até a metade.  Qual o motivo do atraso?
F.A. O motivo é o clima, questão bastante atípica na nossa região. No período chuvoso era praticamente impossível dar continuidade às obras, porém as mesmas já estão sendo realizadas.  Até o momento não se estabeleceu uma nova data para o término das obras, a cargo da empresa Bracom Construtora Ltda, mediante um contrato assinado com a UFS, em 2010, no valor de R$ de 8.275.956,98. Enquanto as obras prosseguem, alguns pedestres reclamam da falta de sinalização, de motociclistas que transitam sobre as calçadas, dificultando o tráfego de pessoas, e da iluminação precária, que causa insegurança no Campus. Segundo Jorge Antonio Vieira Gonçalves, jornalista da Assessoria de Comunicação da Universidade, a sinalização só será colocada após o término das obras. Já o projeto de iluminação e segurança não fazem parte dessa etapa.

Comunidade aguarda Centro de Vivências há quase 4 anos

Iniciado em 2008, previsão é que o local só esteja em pleno funcionamento em 2012

Por Allan Jonnes e Rodrigo Macedo

Uma área de 3.530m² foi destinada pela Reitoria da UFS - Universidade Federal de Sergipe -, no Campus de São Cristóvão, para a construção de um espaço multifuncional, onde a comunidade acadêmica e visitantes poderão usufruir de alguns serviços e participar de eventos. Segundo o engenheiro Ubirajara da Silva Santos, responsável pelo departamento de obras da Universidade, o Centro de Vivência faz parte do Projeto de Expansão da UFS, iniciado em 2005, e foi viabilizado por um convênio com o Banco do Brasil (BB).

De acordo com Manoel Cabral, engenheiro-chefe da Divisão de Construção e Fiscalização (Dicof), o projeto foi iniciado em 2008 e dividido em quatro etapas, das quais três já foram concluídas. O BB ficou responsável pela primeira etapa, orçada em pouco mais de R$ 391 mil. A obra, que entrará em seu quarto ano de execução, custará, ao todo, cerca de R$ 2,7 milhões.

Se não houver mais nenhum entrave, a previsão é que o Centro esteja em pleno funcionamento no primeiro semestre de 2012. Porém, mesmo não finalizado, o espaço já dispõe de alguns serviços. Entre estes, a agência do Banco do Brasil, a Pró-reitoria de Pós-graduação, uma copiadora, a Ouvidoria da universidade e um prédio multi-departamental. Também estão previstos para o local lanchonetes, cafeteria, bancas de revista e uma livraria – cujos processos licitatórios para seleção já foram concluídos e os respectivos proprietários aguardam a entrega dos espaços. O Centro ainda abrigará salas para alguns departamentos do pólo de novas tecnologias, um palco multi-eventos e uma praça.

Sinalização e segurança

O Centro de Vivências está localizado entre os fundos dos prédios da Didática IV e do Fórum, mas o acesso à sua entrada principal fica logo à direita do portal da UFS, embora não haja nenhuma sinalização que auxilie na identificação do local. Desde o ano passado o espaço recebe também alguns eventos como fóruns, encontros, formaturas, seminários, colóquios, etc.

De acordo com Lindomar Silva Conceição, diretor do Departamento de Serviços Gerais (DSG), a utilização do espaço está sob a gestão do setor de cerimonial da UFS, mas os eventos foram temporariamente suspensos para a conclusão da obra. A estudante Raiane Djanira Cardoso, do curso de Geografia, afirma ter participado do fórum “Estado, Capital e Trabalho” no local e não ter encontrado dificuldade para chegar até lá, embora não exista nenhuma sinalização pelos corredores da universidade. “Eu fui perguntando, é meio distante, mas não foi difícil achar”, ratifica a estudante.

Por ser um espaço comercial afastado da região central do Campus, o lugar pode estar vulnerável a eventuais investidas criminosas. Quando perguntado pelo Contexto Repórter A sobre a segurança no local, tanto da comunidade quanto do patrimônio,  o diretor do DSG responde que as empresas assumem a responsabilidade sobre as próprias, a exemplo do Banco do Brasil, que possui seguranças no local. Além disso, alguns guardas da Universidade também permanecem no espaço a fim de garantir que o patrimônio público seja preservado. Silva Conceição afirma ainda que o lugar será contemplado com o projeto de segurança eletrônica da UFS, que está em fase de licitação. “O projeto contará com o monitoramento – por meio de câmeras – dos principais pontos da cidade universitária durante as 24h do dia”, afirma.

Estudantes lideram queixas à Ouvidoria

Em 15 meses, serviço de mediação de conflitos da UFS recebeu 1.220 registros, dos quais 11% são de caráter sigiloso

Por Roberto Aguiar e Suzanmelila Matos

Os alunos, professores e funcionários da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e a sociedade sergipana tiveram que esperar 21 anos para usufruir de um direito garantido pela Constituição Federal do País, em 1988: o de ter acesso a formas de participação na administração pública e a mecanismos para controle dos serviços públicos. “A UFS foi a 16ª universidade federal brasileira a dispor de um mecanismo que tem como principal competência receber, encaminhar e acompanhar, junto às unidades competentes, todas as demandas e sugestões que sejam de interesse da comunidade”, revelou o Ouvidor Geral, professor Marcionilo Neto.

O serviço de Ouvidoria da UFS foi instituído em 24 de agosto de 2009, conforme resolução do Conselho Superior Universitário (Consu), após quatro anos de debates e tramitação, “com a finalidade de defender os direitos individuais e coletivos da sociedade civil e da comunidade universitária em prol da melhoria na prestação do serviço público”.

De acordo com o Relatório da 1ª Gestão da Ovidoria (2009/2011), desde o inicio das atividades de atendimento ao público, em março de 2010, até junho de 2011 foram recebidas 1.220 manifestações. Dessas, 1.084 foram de caráter não sigiloso e 136 de caráter sigiloso.

Gráfico 1
Quanto à natureza das manifestações, quase 50% são reclamações (Gráfico 2), a maioria relacionada à Prefeitura do Campus e à Diretoria de Administração Acadêmica (DAA). Segundo o Ouvidor Geral, banheiros sujos, buracos nas vias, ventiladores quebrados, falta de professor em sala de aula, metodologia de ensino precária, demora excessiva nos julgamentos de processos de equivalência pelos colegiados são as principais queixas recebidas.
Para Lindomar Silva, do Departamento de Serviços Gerais da Prefeitura do Campus, “a demanda é muito grande, e por mais que exista planejamento não é suficiente. Os problemas existem pela falta de conscientização do coletivo para cuidar do espaço público. Muitas vezes a Prefeitura deixa de fazer a manutenção preventiva para fazer manutenção corretiva pelo mau uso. Muitas mesas estão quebradas por sentarem sobre elas; as pessoas fazem suas necessidades fisiológicas fora do vaso sanitário; deixam os ventiladores ligados depois das aulas. A Prefeitura está fazendo a sua parte, mas a comunidade universitária precisa contribuir”.
Gráfico 2
Segundo, Lucymar de Souza, diretora substituta do DAA, 95% das reclamações acontecem porque as pessoas não conhecem os procedimentos e não sabem os prazos. “Muitos problemas devem ser resolvidos em outros setores, mas por falta de informação são encaminhados para o DAA.
Para sanar esses problemas, estamos tomando algumas medidas, como colocar informações no site, enviar por e-mail datas e prazos e tentado fazer um atendimento pessoal mais completo”, afirmou. A diretora ressaltou que as medidas tomadas estão trazendo melhorias. “Há dois meses não recebemos nenhuma reclamação e pela primeira vez recebemos um elogio”, disse.
Mais da metade das manifestações encaminhadas à Ouvidoria foram feitas por estudantes, seguidos pela comunidade externa, em sua maioria pais de alunos. Juntas, essas duas categorias representam quase 89% dos registros efetuados. O correio eletrônico foi o meio de comunicação mais usado para manifestação, seguido pelos contatos pessoais. Cartas e aberturas de processo tiveram preferência irrisória.

Gráfico 3: 
O Contexto Repórter conversou com alguns estudantes na fila do Restaurante Universitário (Resun), e vários não sabiam da existência da Ouvidoria. “Eu soube que tem a Ouvidoria porque vi o outdoor na entrada da universidade”, disse Paula Juliana, estudante de Pedagogia.
A aluna de Ciências Sociais Vera Silva  contou que em sua turma ocorreu um problema com um professor. Os alunos encaminharam a reclamação à Ouvidoria e a situação foi resolvida. “É importante existir esse canal de diálogo para resolver problemas que acontecem no dia-a-dia da universidade”, disse a estudante. Já Camila Roberta, estudante de Jornalismo, está pessimista. “Nada na UFS funciona. Se eu for reclamar quem garante que irão fazer alguma coisa? Quem garante que serei atendida? Se for igual a call Center, ficarão empurrando os problemas para um e para outro”, argumentou.

Funcionamento
Questionado sobre o pouco conhecimento da existência do serviço, o Ouvidor Geral informou que está sendo elaborada uma cartilha de divulgação com os objetivos, competência e funcionamento da ouvidoria para ser distribuída para a comunidade universitária. O site da UFS também é utilizado para divulgar as ações da Ouvidoria. Marcionilo Neto frisou que a Ouvidoria é um setor de natureza mediadora na busca de soluções de conflitos. “Nossa competência é sugerir às instâncias competentes ações corretivas aos problemas apontados. Recebemos as manifestações, analisamos, encaminhamos às unidades reclamadas, recebemos as providências enviadas por estas unidades e enviamos a resposta ao reclamante”, disse.

As demandas podem ser enviadas para a Ouvidoria através de e-mails (ouvidoria@ufs.br), formulário de atendimento, urnas, telefone (0800 0 360 000), cartas ou através de contato pessoal, nas salas 1 e 2 do Centro de Vivência do Campus São Cristóvão. O funcionamento vai das 8h às 12h e das 14h às 18h. Está sendo estudada a possibilidade de funcionamento até 21h, a partir do primeiro semestre de 2012. Além do Ouvidor Geral, a equipe de atendimento é formada pela Vice-ouvidora, a assistente social Rose Ferreira; pelo secretário, José Almeida; e pelas bolsistas Anne Clécia dos Santos e Andréa Modesto dos Santos.

O que faz a prefeitura do Campus?

Por Leila Renata 

Responsável pela maioria das reclamações recebidas pela Ouvidoria da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a Prefeitura da Cidade Universitária (Prefcamp) é responsável pelo funcionamento e expansão de todas as instalações do Campus de São Cristóvão, e existe desde a sua construção, na década de 1970.
O cargo de prefeito é exercido, atualmente, por Djalma Arruda Câmara, que durante suas férias foi substituído pelo diretor do Departamento de Obras e Fiscalização (Dofis), Ubirajara da Silva Santos. “Antigamente o prefeito era eleito e qualquer um poderia se candidatar, mas com o tempo isso foi mudando. Hoje o prefeito é nomeado pelo reitor, que juntos escolhem os diretores e chefes dos departamentos responsáveis pelo funcionamento da Prefcamp e da universidade”, explicou Santos.

A Prefeitura é dividida em três departamentos: de Serviços Gerais (DSG), de Obras e Fiscalização (Dofis) e de Manutenção (Deman). O primeiro possui quatro divisões e é responsável pelos serviços de vigilância (Divig), transportes (Ditran), limpeza (Serlim) e pela arborização e jardinagem (Horto) do Campus. Segundo Lindomar Silva da Conceição, diretor do DSG, “frequentemente é solicitado transporte para locomoção de alunos e professores para dentro e fora do estado”.

Já a Serlim deve supervisionar o trabalho das equipes de limpeza (terceirizadas) em todas as dependências da Universidade, e controlar o consumo de material utilizado nesses serviços. O Horto, que serve de laboratório para o Departamento de Engenharia Florestal, é responsável pela criação de jardins, pela dopagem, plantio e replantio da vegetação no entorno do Campus, e pelo reflorestamento, objetivando a preservação do meio ambiente.

Todas as obras realizadas no Campus estão a cargo do Dofis, desde a elaboração de projetos arquitetônicos, urbanísticos, estruturais e de instalações pela Divisão de Projetos (Dipro), que também deve classificar, catalogar e arquivar originais e cópias de desenhos, projetos, especificações, orçamentos, contratos, catálogos de produtos, documentos de concorrência etc, até as construções e sua fiscalização pela Dicof.

Fiscalização

Luciana Neves, funcionária terceirizada que exerce a função de fiscal de obras, explica que para cada projeto é aberta uma licitação, com a participação de várias empresas privadas, entre as quais é contratada a que oferecer menor preço. Mas, segundo o engenheiro civil Manoel Fernando Freire Cabral, chefe da Dicof, “as empresas têm que comprovar que são habilitadas para fazer a obra, segundo os requisitos do edital de contratação”.

Cabe à Divisão fiscalizar as partes elétrica, mecânica e hidráulica da construção, bem como os materiais, equipamentos, aparelhos utilizados em todo o processo da obra, além da documentação orçamentária e faturas. Em relação aos projetos inacabados, Manoel Cabral diz que “muitas vezes a obra não termina por motivo financeiro, contudo, a empresa é penalizada ou multada por atraso e o  contrato é rescindido.

O Departamento de Manutenção possui duas divisões: uma para máquinas e equipamentos (Dimeq), que também abrange aparelhos, utensílios e móveis, outra para administração de imóveis (Divai). Segundo o diretor, Rodrigo Melo Nunes, o trabalho do Demam está mais direcionado aos serviços de eletricidade, refrigeração e serralheria (exemplo: troca de torneiras, conserto de portas, colocação de rejunte, troca de lâmpadas).

Mas em algumas tarefas é necessário a colaboração de outros setores, como exemplificou o auxiliar técnico operacional Nilson Ramalho de Oliveira: “Se for instalar um ar-condicionado, é acionado o pessoal do departamento para calcular a carga térmica e qual aparelho é adequado ao local”. À Divai compete manter sob sua guarda cópias de documentos referentes a escrituras e demais documentos referentes aos bens imóveis, das instalações hidráulicas, de alvenaria e sanitárias da UFS, através da criação de um sistema preventivo e corretivo de manutenção.

Universidade abre portas para a mobilidade estudantil

Novos horizontes, experiências e conceitos podem ser conquistados em um pequeno setor dentro da UFS por quem procura ampliar o conhecimento e abrir a mente para o mundo

Por: Keizer Santos e Luciana Maria Nascimento Santos

A mobilidade acadêmica internacional já é realidade na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Há alguns anos a procura por esta modalidade vem crescendo em razão do aumento da oferta de projetos de intercâmbio intermediados pela Coordenação de Assuntos Internacionais e de Capacitação Docente e Técnica (Cicadt). No entanto, apesar de existir há mais de dez anos, o setor ainda é pouco conhecido entre os estudantes de graduação, lamenta a coordenadora, Renata Mann, pós-doutora em Agronomia e professora adjunta da Universidade.

A Cicadt é um setor subordinado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Posgrap), que foca o seu trabalho em assuntos internacionais (mobilidade, intercâmbio e convênios) e na capacitação de docentes e técnicos. O setor utiliza  o portal da UFS para divulgar todos os eventos e programas que engloba. Também solicita divulgação dos programas, junto com seus respectivos editais, à Assessoria de Comunicação (Ascom) e ao Departamento de Administração Acadêmica (DAA). Todos os anos são divulgados editais para bolsas em projetos internacionais, mas não existe periodicidade para o lançamento dessas seleções.

A procura por intercâmbios quase dobrou em Sergipe nos últimos dois anos. Mas é elevado o número de estudantes que esbarram na prova de proficiência de língua estrangeira, um dos problemas que fazem com que o  índice de contemplados no estado ainda seja tímido.  A procura pela mobilidade de alunos dos cursos da área tecnológica também aumentou, segundo Renata Mann. A coordenadora acredita que a demanda cresceu por conta de incentivos do governo federal em fomentar o campo da pesquisa em tecnologia.

Para os estudantes de graduação, a possibilidade de conseguir um intercâmbio não é árdua. Os pré-requisitos são um bom índice de rendimento (a média ponderada  não pode ser inferior a sete) e um comprovante de proficiência da língua do país ao qual se deseja estudar. Na UFS, não há entrevista. Os estudantes que almejam fazer intercâmbio e apresentam esses requisitos com a documentação requerida nas datas previstas têm altas chances de obter aprovação na UFS. Contudo, caso seja um programa maior ou aberto a todo Brasil, posteriormente deverá competir com os demais estudantes concorrentes a vagas em uma universidade no exterior.

Uma experiência para a vida
Os programas de intercâmbio, além de promover um crescimento profissional, proporcionam uma experiência para toda a vida. Segundo a professora Renata Mann, na maioria dos casos, o contato com outras culturas provoca mudanças positivas no estudante, que vão além da aquisição de novos conhecimentos.

 “Só em sair daquele lugar em que você está acostumado para morar em outro, seja uma nova cidade, um novo estado ou um novo país, a gente sempre ganha. Então, dentro do próprio país você já abre a mente, o que dirá se você sair do seu país e viver em outro, tendo acesso a outra cultura, a outro modo de viver, outro modo de lidar com coisas cotidianas? Tem coisas que são boas e  outras que são ruins, mas você abre a sua mente, os seus horizontes. A sua capacidade de percepção se amplia, muda. Então isso é uma experiência que não dá para medir.”

A coordenadora acredita que todo estudante de graduação deveria viver isso. De preferência no começo da graduação, quando há um aproveitamento muito melhor do que no final do curso. O estudante que consegue a chance de estudar fora não ficará sozinho longe de casa por um ano, tempo do intercâmbio. A Cicadt realiza o acompanhamento dos estudantes que estão no exterior através de relatórios. As redes sociais também contribuem para a troca de experiências entre estudantes envolvidos, direta ou indiretamente, no intercâmbio.

Programas Erasmus e Brafitec
A CICADT não dá oportunidades apenas aos estudantes de graduação, mas também aos formados que desejam ter títulos de mestre e doutor. O Programa Erasmus Mundus, existente desde 2004, consiste numa cooperação em educação superior entre países da Europa e de outros continentes. O programa oferece bolsas para estudantes e docentes que visam obter titulação de mestrado ou doutorado em uma das instituições vinculadas ao programa.
A Universidade também possui convênio com o Brafitec (Brasil/França Ingénieur Technologie), principal programa de mobilidade acadêmica internacional na UFS. Seu principal objetivo é a cooperação bilateral em estudos dentro das especialidades das engenharias. O projeto é consolidado pelos ministérios da Educação da França e do Brasil; pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); e pelas universidades francesas de Marseille, Lille e Orleans.

Para o estudante de Engenharia Mecânica Henrique Prado Santos, estudar na França foi a maior e mais enriquecedora experiência da sua vida: “Sair de casa para ficar um ano fora era uma ideia louca pra mim, eu não me via longe de meus pais. Lá cheguei e me deparei com a França. Tudo era absolutamente novo. A cada dia tinha uma coisa nova: amigos, aulas, estrangeiros, outros brasileiros, etc. Foi fantástico! Na minha vida tudo mudou, como mudamos normalmente na verdade, só que lá, o ritmo de mudanças era mais acelerado! Não tinha muito que pensar, era fazer!”.

Outro estudante de Engenharia Mecânica da UFS que foi a França, Vinícius Salomão também afirma que foi uma experiência fantástica. “Tudo era novidade, das pessoas à modernidade que o país demonstrava.” Ele acredita que o intercâmbio lhe proporcionou uma grande mudança, pois fez com que repensasse seus conceitos e o modo como lida com a vida. Vinícius ressaltou que voltou mais motivado para alcançar seus objetivos e com muitos planos para o futuro.

Por conta dessas experiências que proporciona, Henrique Prado define a Cicadt como um setor de extrema importância na UFS, pois faz com que os alunos não fiquem presos à realidade do estado e descubram o novo.

Convênios internacionais
A UFS mantém convênios com dezenas de instituições internacionais. São universidades situadas no Canadá, Espanha, México, Argentina, Peru, França e Portugal. Os dois últimos detêm o maior número de convênios. Também possui convênio com universidades brasileiras como as federais de Goiás (UFG), Piauí (UFPI) e Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul.

Segundo a coordenadora Renata Mann, os estudantes da Universidade Federal de Sergipe, em sua maioria, procuram por países de língua oficial espanhola ou portuguesa. Também houve um crescimento na procura de estudantes estrangeiros pela UFS, sobretudo franceses e portugueses. Entre as razões que os estrangeiros alegam para optarem pela instituição é por estar localizada no Nordeste, região diferente do Sul e Sudeste, que têm uma grande descendência de países europeus. Além disso, o clima é muito mais aceitável, pois a maioria não gosta do clima frio do país em que vive, por estar localizada na litoral e por ter uma cultura muito diversificada e interessante.

Para saber mais: A Cicadt funciona no Centro de Vivência da Universidade e pode ser contatada pelo e-mail cicadt@ufs.br ou pelo telefone (79) 2105-6495.

Quatro continentes em sala de aula

Professores estrangeiros vencem os choques culturais e constroem carreiras em Sergipe 

Por: Gabriela de la Vega e Maria Beatriz Campos

A Universidade Federal de Sergipe (UFS) conta, atualmente, com 1060 professores efetivos, dos quais 40 são estrangeiros, segundo dados da Coordenação de Planejamento Acadêmico (Copac), distribuídos por diferentes cursos. "Acho que a experiência de ter um professor estrangeiro foi muito enriquecedora, por acrescentar informações e pontos de vista diferentes", disse Thiago Bomfim, estudante de Odontologia que já teve dois professores estrangeiros.

A curiosidade em relação a esses professores é natural. Por isso o Contexto Repórter traz a história de quatro professores vindos de diferentes continentes: Farshad Yazdani, asiático; Carlos Villacorta, sulamericano; Mélanie Letocart, europeia e Hippolyte Brice, africano. Eles contam um pouquinho das suas vidas e de como vieram parar aqui.

Farshad Yazdani, iraniano
O professor Farshad Yazdani, natural de Shiraz, no Irã, reside no Brasil há 12 anos. Recebeu um convite para fazer seu doutorado na Universidade de Brasília (UNB), depois esteve no Rio de Janeiro trabalhando em um projeto; em Recife, onde fez o seu pós-doutorado; e por fim em Aracaju, após a aprovação no concurso para professor visitante na UFS. Farshad afirma que não tem interesse em voltar para o Irã por questões financeiras. "Por enquanto estou mais resolvido aqui do que lá."
Ele, que aprendeu a língua informalmente, fala que às vezes sente dificuldade para ensinar. "Tem palavras que, no momento, a gente esquece, não lembra como fala, e gasta muita energia no momento que começa a falar." As diferenças culturais, para ele, são enormes. "Essa questão de, por exemplo, liberdade, que tem aqui, lá não tem. Algumas pessoas querem liberar toda a energia, ter uma vida selvagem, mas lá é impossível fazer isso. Primeiro, a sociedade não permite; segundo, a lei não permite, e em terceiro lugar, o governo não permite."
Há também a diferença entre os alunos. "Lá o aluno entra para estudar mesmo, não entra para namorar, não pensa em fazer farra no final de semana, essas coisas." Para Farshad, as pessoas no Irã já têm em mente o caminho que querem tomar após a graduação, no Brasil, os estudantes pensam que ter o diploma basta.

Carlos Villacorta, peruano
Carlos Alberto Villacorta Cardoso é peruano, nascido em Lima, mas criado na cidade de Trujillo. Está no Brasil desde 1986. Formou-se em Engenharia Elétrica no Peru, mas não estava satisfeito com as poucas oportunidades que a universidade oferecia após a graduação. "Como engenheiro, eu sentia falta de um conhecimento a mais. A minha ideia não era só pegar sistemas que vêm de fora, instalar e por para funcionar. Isso não me satisfazia muito."
Conseguiu ser aprovado para fazer mestrado na Escola Politécnica da USP - Universidade de São Paulo, e posteriormente o doutorado. Envolveu-se em vários projetos, mas depois "chegava um momento em que a gente tinha que abrir as asas", afirmou Carlos Alberto. Então ele fez um concurso para professor visitante na UFS e passou. Está satisfeito com sua vida no Brasil e não pretende voltar. "Voltar para o país seria como se um estrangeiro estivesse indo para o Peru de novo."
Carlos aprendeu o português rapidamente através do convívio com os colegas da USP. Para ele, as diferenças culturais nunca foram um problema, pois a adaptação é parte do processo de mudança de um país para outro. "Pouco a pouco a gente vai aprendendo e se adaptando e, sobretudo, entendendo." O professor considera a USP como uma das melhores universidades do Brasil e do mundo, mas diz que os alunos pouco diferem dos da aqui. "A diferença entre os alunos é nenhuma, já tive alunos muito bons que não deixam nada a desejar a nenhum outro."

Hippolyte Brice, beniniano
O professor de Antropologia Hippolyte Brice Sogbossi é natural da República do Benin e está no Brasil há 15 anos. Veio para cursar mestrado e doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, antes de passar em um concurso na UFS, esteve em Cuba, na Bahia e no Maranhão. Não precisou fazer curso para aprender português, pois familiarizou-se com o idioma durante as aulas da pós-graduação. Brice afirma que há poucas diferenças culturais entre Benin, Cuba e Brasil, mas que aqui ele nota traços de racismo. Quanto às diferenças entre as universidades em que esteve, ele conta que eram bem maiores que a UFS e que as notas de aprovação eram mais altas. Por enquanto, não tem planos de voltar para o seu país. "Gosto do Brasil, mas pretendo voltar para o cheiro da terra de origem, o Benin, após vários anos de trabalho no Brasil."

Mélanie Letocart, francesa
A professora Mélanie Letocart Araujo, natural de Lille, na França, veio para o Brasil há 11 anos, junto com seu ex-companheiro. "Vim direto para Aracaju porque ele tinha família aqui." A professora escolheu lecionar na UFS por ser o único lugar em que ela poderia ensinar Literatura Espanhola em Sergipe. "Fui a primeira graduada em Espanhol do estado. Cheguei na hora certa, pois o curso era novo  e eles precisavam de professores." Mélanie não pretende sair de Aracaju, já que ela e seus filhos estão bem acomodados aqui.
A professora explica que, por falar fluentemente espanhol e francês, o aprendizado da língua foi fácil. "A lógica gramatical no português, no espanhol e no francês são parecidas." Por essa razão, ela também não sente dificuldade para se expressar quando leciona. Vinda de outro continente, considera que as diferenças culturais são grandes. "No Brasil, o povo é mais caloroso do que na França, tem relações mais diretas. Quando vou para lá ou venho para cá, tenho um choque."
Na universidade, há diferenças também. "Na França, o professor universitário é sagrado. Aqui no Brasil as pessoas têm mais abertura com o professor, mais diálogo. Os alunos daqui têm que entender que os estudos são por mérito. Há uma frase, ʻcorrija a minha prova com carinhoʼ, que eles sempre dizem. E, na França, somos mais motivados pelas questões estudantis."


O CASO DO ESTUDANTE “PERUANO”

Na última semana, um estudante com forte sotaque latino-americano saiu de sala em sala na UFS, contando que viera para a Universidade estudar, mas que seu país de origem havia cortado as verbas e que ele precisava de dinheiro para comprar a passagem de volta, segundo relatos de estudantes que presenciaram o fato. Adson Vinícius, estudante de Jornalismo, conta que "ele disse que veio fazer intercâmbio no Brasil e, como o país de origem dele não custeou o intercâmbio, está sem dinheiro para voltar". Sua colega Luciana Maria completou: "Ele disse que estudava na UFS. O nome ele não disse, mas disse que era do Peru." Indagado pela nossa equipe, ele afirmou que estudava Direito, marcamos uma entrevista, mas ele não compareceu. De acordo com a Pró-reitoria de Graduação, a UFS tem, ao todo, 22 alunos de intercâmbio, porém a professora Renata Mann, coordenadora de Assuntos Internacionais e Capacitação Docente e Técnica, informou que não há nenhum registro de estudante peruano atualmente na UFS.

O feitiço contra o feiticeiro

Usuários tratam mal acervo da Biblioteca Central da UFS, que demora a ser atualizado por alguns departamentos

Por Francielle Couto Santos e Isabelle Freire Viana

Livros riscados, capas soltas e páginas rasgadas. Esta é a situação de muitos livros da Biblioteca Central (Bicen) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O acervo, que conta com cerca de 150 mil exemplares, passa por uma situação visível de mau uso, cujas condições tornam-se mais complicadas a cada dia.
Anualmente, são destinados R$ 2 milhões para a aquisição de novos exemplares. A compra é realizada por meio do Programa Ensino de Qualidade (Proquali), criado para descentralizar as decisões acerca dos títulos selecionados. Cada departamento e núcleo de ensino recebe um valor fixo, que varia conforme os indicadores do número de alunos que ingressam e se formam por curso. Isso significa que a verba designada para o Proquali não é distribuída igualmente, e uns ganham mais que outros.

Feitas as solicitações, a partir de indicações dos professores, o processo de aquisição é então iniciado. Contudo, quanto ao aproveitamento do acervo, há uma distinção aparente entre os alunos das áreas de Humanas e Exatas. Enquanto estes últimos demonstram maior satisfação em relação aos livros, os de Humanas reclamam principalmente do estado em que o material se encontra.

“Pelo menos os livros que eu peguei estão em bom estado. Além disso, a linguagem é boa, e está dando para aproveitar muita coisa”, afirma Maiky dos Santos Silva, estudante do 1° período de Ciência da Computação. Silvana Maria dos Santos, caloura de Licenciatura em Matemática, também diz que o material é bom, “apesar de ser um pouco confuso encontrar alguns livros às vezes”.
Já na área de Letras, por exemplo, é fácil encontrar livros em condições lamentáveis que comprometem o manuseio. Muitos são tão antigos, que o mofo tomou conta. “Faltam páginas e são um pouco velhos, e eu tenho alergia, ou seja, isso só piora o meu problema”, afirma Mirthes Maria Silva Santos, do 4° período de Português-Inglês. Segundo ela, “alguns exemplares estão deploráveis”.

Desatualização
Segundo a diretora da Bicen, Rosa Gomes Vieira, a área de Humanas enfrenta problemas como esses porque não há listagens de substituições de livros. “Se o professor não pede, nós não temos condições de saber que aquele livro ainda é daquela bibliografia”, declara. “A gente não interfere nessa parte de material bibliográfico. Fica a cargo do professor solicitar ou não novos livros”, explica a diretora.

Isso torna o uso do acervo um tanto limitado para alguns, pois, além de poucos exemplares para a demanda existente de alunos, os que estão disponíveis encontram-se em estado de difícil uso. Para que essa situação fosse amenizada, seria necessário que um programa de restauração entrasse em ação. Mas acontece que não há no estado de Sergipe empresas capacitadas para um reparo de grande porte, além de ser um processo que custa caro. “A gente cogita a ideia da restauração, mas não encontra firmas que realizem este processo”, afirma a diretora.

Porém, os próprios estudantes contribuem para a deterioração do acervo da Biblioteca, que é de utilidade pública. Os calouros entrevistados disseram que encontrar os livros é o maior problema deles, já que os alunos mais antigos misturam os exemplares. Os veteranos, aliás, são os que mais depredam e desordenam o material, segundo Maralise Barreto da Rocha, uma das recepcionistas da Bicen. Para ela, a preservação dos livros da Biblioteca pelos estudantes, de modo geral, é péssima.

Rosa Vieira acrescenta: “O aluno, em vez de tirar cópia, corta as páginas que precisa. Assim, esse livro deve ser tirado do acervo, porque não vai mais servir”. O patrimônio cultural que deveria ser preservado possui hoje um alto índice de imprudência e mau uso, o que implica falta de comprometimento. “A gente tem algumas ideias para promover campanhas de preservação do material”, conta a diretora. Para ela, é incompreensível ver que o aluno do ensino público não consegue conservar o material que vem de gerações. A falta de consciência e o mau uso só prejudicam os próprios estudantes, mas parece que eles se recusam a compreender isso.

Como cuidar do que é de todos

  • Ao ler um livro, evite abri-lo totalmente, como por exemplo, em cima de uma mesa. Isto pode comprometer a estrutura de sua encadernação.
  • Quando tirar um livro da prateleira, não o puxe pela parte superior da lombada, pois isso danifica a encadernação. O certo é empurrar os volumes vizinhos para cada um dos lados e puxar o  livro desejado pelo meio da lombada.
  • Folheie o livro rapidamente, mas com cuidado, sempre que for colocá-lo de volta na prateleira. Isso vai arejá-lo.
  • Papéis avulsos não devem ser deixados no interior das páginas. Em alguns casos, a acidez de um pedaço de papel – um recorte de jornal, por exemplo – pode até inviabilizar a leitura.
  • Não consumir alimentos e bebidas durante a leitura. Derramamentos acidentais de líquidos e gordura podem causar sérios danos às obras. Alimentos também atraem baratas e outros insetos, conhecidos vilões do acervo.
  • Grifos e anotações são elementos estranhos à natureza do livro. Eles prejudicam a leitura de outros usuários, limitando o acesso ao conhecimento.
  • Não dobre as pontas nem vire as páginas com auxílio de saliva.

Em busca dos laboratórios de excelência

Poucos espaços de pesquisa, experimentação e prática acadêmica da UFS são considerados candidatos à certificação de qualidade

Por Adson Santana e Ruhan Oliveira

Uma boa formação acadêmica ultrapassa o limite das salas de aulas, no que se refere ao espaço físico. Além das teorias, é indispensável dar ao aluno a possibilidade de contato com as realidades que vivenciarão no exercício da futura profissão. É nesse contexto que se traduz a importância dos laboratórios de ensino e pesquisa, ambientes de experimentação, criação e conformação de conceitos.

A Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) concede aos ambientes laboratoriais que possuem equipamentos de exata apuração um selo de qualidade. A concessão do selo objetiva incentivar o alcance e a manutenção de padrões elevados de qualidade e de resultados positivos. Até o momento, a Universidade Federal de Sergipe (UFS) não possui laboratórios acreditados como excelentes, mas caminha nesta direção.

A instituição dispõe de aproximadamente 50 laboratórios de pesquisa e prática acadêmica, direcionados a cursos diversos. Não é possível, no entanto, apontar a quantidade exata de tais ambientes pelo simples fato de não existir um mapeamento das unidades, segundo a Coordenação de Pesquisa (Copes). Deste total, apenas os dos departamentos de Física e os do Núcleo de Estudos de Recursos Naturais (Neren) se aproximam do que se pode considerar de excelência.

À espera da qualificação 
No Departamento de Física, existem dez laboratórios de pesquisa equipados com aparelhagem específica, que beneficiam o entendimento da prática nesta área de conhecimento. “Eles servem como referência de pesquisa. Existe uma comparação entre universidades que reafirma o padrão apurado dos nossos equipamentos”, afirma Divanízia Nascimento Souza, coordenadora da unidade. Para ela, eles já podem ser acreditados como execelentes.
Embora a declaração da coordenadora dê ênfase ao caráter de excelência dos laboratórios de Física, nunca houve uma acreditação qualitativa por parte da ABNT. “Os laboratórios são bons mas não chegam ser ótimos, precisam de reformas e de aparelhos bem mais modernos”, afirma a estudante do  6º período Maria Aparecida, 21 anos. Já para a mestranda em Física Caroline Moura, 24 anos, a infraestrutura está melhorando, mas não é suficiente para a quantidade de alunos. “Apesar das dificuldades, no que se refere à aquisição de equipamentos há um esforço dos professores e do CCET - Centro de Ciência Exatas e Tecnológicas - por melhorias”, observa.

No Núcleo de Estudos de Recursos Naturais (Neren), que cedem laboratórios da pós-graduação em Agroecossistemas para cursos de graduação como os de Agronomia, Zootecnia, e as Engenharias de Pesca e Ambiental, , o caminho para a qualificação parece iminente. Segundo a coordenadora Maria de Fátima Arrigani Blank, o Núcleo conta com oito laboratórios que oferecem as condições necessárias para o corpo discente. “Não passamos por nenhuma avaliação, porém com o alto número de produção e especialização no que fazemos, o nosso reconhecimento não deve estár longe”, acredita.
Heyde Vanessa Souza Santos, 29 anos, mestranda em Agroecossistemas, corrobora, afirmando: “Os laboratórios são bem equipados, atendem à demanda da minha pesquisa, o meu acesso é sempre permitido e estou bem servida”. Hécules Rosário Santos, 19 anos, aluno do curso de Agronomia, completa afirmando que, apesar de seu curso não possuir laboratório próprio, consegue efetuar o seu projeto de pesquisa com precisão considerável nos laboratórios cedidos pelo núcleo.

Investimentos nos laboratórios
Os recursos que financiam as pesquisas, principal motivo da existência dos laboratórios, são de origens diversas, como CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Observa-se, também, a participação da iniciativa privada, como Petrobrás e Energisa. “Em troca das concessões cedidas pelo Governo Federal, empresas privadas são levadas a investir em fundos setoriais em diversas áreas de pesquisa”, afirma André Mauricio Conceição de Souza, diretor no CCET. Para ele, as empresas procuram as melhores linhas de pesquisa e pesquisadores de ponta e investem o seu capital.
Enquanto os laboratórios de Física recebem apoio de diversas frentes, outras unidades são relegadas ao descaso e a falta de investimento. É o caso dos de Engenharia Ambiental, Agronomia, Nutrição dentre outros, cujos estudantes são obrigados a utilizar laboratórios de outros departamentos para suas práticas.

Exemplos de excelência
Apesar da divulgação incipiente, existem, no Brasil, laboratórios tidos como referência nacional pela exatidão de resultados e credibilidade construída. Um exemplo é o dos laboratórios contemplados pelo Programa Laboratórios de Experimentação e Pesquisa em Tecnologias Audiovisuais – XPTA.LAB, lançado em 2009 pelo Ministério da Cultura, através da Secretaria do Audiovisual: Natalnet, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Wikinarua, da Universidade Federal de Brasília; Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (Lavid), da Universidade Federal da Paraíba, e Laboratório de Computação da Universidade Federal de São Carlos. Outro exemplo é o Laboratório de Experimentação e Análise de Alimentos (LEAAL), ligado ao Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco.

Agronomia planta casas de vegetação no Campus

Por Silas Brito Silva e Pedro Henrique

Desde o ano passado começaram a aparecer, nos fundos do Campus de São Cristóvão da UFS, coberturas “estranhas”. Mas para alunos e professores de Engenharia Agronômica trata-se, apenas, de cinco novas estufas, de diferentes gêneros, que estão substituindo as antigas, cujas estruturas inadequadas  já não comportavam as demandas do curso.
As também chamadas “casas de vegetação” foram construídas em 2010 e são equipadas com sistemas de irrigação, nebulização, termômetros, além de programas de computador que a cada meia hora analisam todas as operações, propiciando melhor desempenho aos trabalhos de pesquisa dos alunos do curso de Agronomia e outros. Essas pesquisas fazem parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e de projetos que trazem recursos para Universidade, e são divididas por gêneros: plantas orgânicas: (helicônicas/ antúrio/ bastão do imperador/ copo de leite/  orquídeas); plantas medicinais e aromáticas  (vetiver/ paticholi/ sambacaitá/ manjericão/ gerânio/ erva cidreira); e agricultura: (cana-de-açúcar/ pinhão manso).

Compartilhamento
As estufas são usadas apenas para fins acadêmicos, em projetos, pesquisas e experimentos. Não há nenhum prestação de serviço à comunidade, segundo Bruno Santos Nascimento, do oitavo período de Agronomia, para quem os alunos poderiam fornecer alimentos para o Restaurante Universitário (Resun). “Além de ser uma fonte de conhecimento prático, também iria incentivar os estudantes a terem melhor alimentação, sem falar nos gastos que seriam cortados ao substituírem alguns alimentos que são comprados e enviados pelo governo”, ponderou.
Não há uma grande produção nessas casas de vegetação devido aos limites da estrutura que a Universidade proporciona. Segundo o chefe do departamento de Agronomia, Laerte Marques da Silva, no ano passado foram montadas duas estufas climatizadas, que custam em média R$ 80 mil cada. “Com elas, realizamos um trabalho controlado. Como algumas culturas não suportam altas temperaturas de certo período do ano, podemos trabalhar com experimentações agrícolas nessas condições o ano todo.” O professor ressaltou a importância das estufas para diversos cursos. “Nós temos um problema de estrutura na Universidade, e sabemos que há outros departamentos em que falta estrutura, então a gente tem uma colaboração com outros cursos, como Zootecnia, Engenharia Florestal, Engenharia Agrícola.”

Controvérsia
No entanto, apenas alguns alunos do curso de Engenharia Agrícola disseram estar satisfeitos com o uso e as condições das estufas. Dois alunos do último período de Zootecnia afirmaram nunca terem usado as estufas e a estudante de Engenharia Florestal Sheila Patrícia Santos Feitosa, do 6° período, disse que seus colegas só utilizam as estufas se quiserem pesquisar alguma planta específica de outros cursos.

“Não há nenhuma prestação de serviços à comunidade, o que é produzido lá não é fornecido a ninguém. Falta manutenção, pois faltam pessoas para cuidar e encarregados pela limpeza. Lá é tudo desorganizado”, criticou. Outros alunos questionaram que, se a demanda vai aumentar, será preciso mais estufas e melhorar as condições das que já existem, pois a universidade está se expandido.

Laboratórios de informática geram conflitos

Departamento de Comunicação conquista e organiza espaços informatizados, mas demanda ainda é maior

Por Marília Santos e Taiene Rodrigues

Nos últimos dois anos, alunos e professores do Departamento de Comunicação Social (DCOS) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) têm se mobilizado, de diversas formas, pela melhoria das condições de ensino e trabalho nas três habilitações do curso: Jornalismo, Publicidade Propaganda, e Audiovisual. Em quase todas as manifestações, o principal alvo das reclamações tem sido as precárias condições dos laboratórios de ensino, especialmente os de informática. No entanto, também há queixas de maus tratos dos equipamentos e instalações existentes pelos alunos. Afinal, quem tem razão?

Atualmente o Departamento conta com três espaços laboratoriais informatizados: dois situados na Rádio UFS e a Sala 16 do prédio do CEAV - Centro de Estudos Áudio Visuais (sic). Ao todo são 52 computadores em funcionamento, utilizados em disciplinas laboratoriais como Planejamento Visual em Jornalismo, Laboratório de Jornalismo Impresso, Laboratório em Mídia Digital, Fotojornalismo, Fotografia Digital, Criação Publicitária, entre outras. Além disso, as aulas práticas são fundamentais para a garantia de uma boa formação superior dos discentes de Comunicação Social.

“Labinfos”
De acordo com a política de utilização dos laboratórios de informática (“labinfos”) do DCOS, somente têm acesso alunos que estão matriculados em disciplinas de professores que solicitam as salas para suas aulas, já que estas são dedicadas exclusivamente às disciplinas que precisam fazer uso da conexão com a internet ou de programas específicos, como editores de imagem e de páginas. Mas tanto professores quanto alunos se queixam de que os espaços são pequenos e das condições precárias de funcionamento dos equipamentos.

Segundo o técnico de informática responsável pela manutenção dos “Labinfos” (que pediu para não ter seu nome citado), todos os computadores estão funcionando normalmente e a grande maioria  está conectada à Internet. Além disso, segundo ele, a completa interligação dos computadores à rede está em processo de finalização. O técnico diz que existem algumas necessidades em termos de equipamentos para os laboratórios que já foram identificadas e solicitadas. Ele aponta que as solicitações feitas com mais frequência pelos professores são: reparo e/ou substituição de computador que parou de funcionar, instalação de aplicativos e falha no acesso à Internet.

Na prática, as atribuições de um técnico de laboratório de informática envolvem manter os computadores e seus sistemas funcionando, bem como a instalação de softwares e hardwares. Os princípios dessa rotina seriam instalar e manter os sistemas operacionais e programas nos computadores em perfeitas condições de uso, dar suporte técnico aos professores, zelar pela conservação e manutenção dos equipamentos e verificar com antecedência o funcionamento dos equipamentos que serão utilizados em aula pelos professores e usuários. Quando não for possível resolver eventuais problemas, o técnico deve encaminhá-los para o CPD - Centro de Processamento de Dados.

O funcionário técnico do DCOS garante que faz manutenção dos computadores dos laboratórios de informática diariamente. No entanto, há vários problemas que escapam a essa rotina. É visível o déficit de equipamentos em relação ao tamanho das turmas, e de componentes e suprimentos como adaptadores de tomadas três pinos e cabo de rede para conectar computadores à internet. CPUs com pouco tempo de uso (compradas em licitações pelo preço mais baixo) estão com a entrada USB queimadas e cadeiras que estão danificadas. Faltam também fones de ouvido e caixas de som, instalação de novos sistemas operacionais, que estão defasados, além de antivírus atualizado e alguns programas específicos.

Faltam fiscalização e manutenção preventiva

Dafnne Victoria do Nascimento, estudante do 4º período de Jornalismo, acredita que tanto a Universidade  quanto os alunos têm culpa pela situação dos laboratórios. A UFS, porque “não fiscaliza seu patrimônio, que tem sido covardemente deturpado, de forma a prejudicar muitos estudantes”. Os alunos, “porque não se conscientizam da importância de cuidar e preservar um patrimônio que é todos”. Dafnne considera necessário haver uma fiscalização frequente e também que a Universidade atue de forma enérgica, “punindo severamente o responsável pela destruição do patrimônio”.

Carlos Eduardo Franciscato, professor que utiliza a Sala 16 nas aulas de Laboratório em Jornalismo On-line, reclama da pouca eficiência da UFS para gerir sua infraestrutura de rede, mas ressalta que os problemas estão nos serviços de apoio do Centro de Processamento de Dados (CPD), que é muito fraco, demora para resolver qualquer problema e quando vai não resolve, dizendo que está faltando cabo de rede, material que é de consumo próprio para a prestação de suporte à Universidade. No entanto, Franciscato reconhece que é difícil um CPD eficiente, que dê suporte de qualidade a toda a universidade.

O CPD é responsável pela implementação da política de tecnologia da informação e comunicação da UFS, prestando suporte às atividades acadêmicas e administrativas, criação e adaptação de sistemas, distribuição e manutenção de equipamentos. Para um usuário ser atendido pelo CPD é necessário a abertura de um SOS (solicitação de ordem de serviço) de manutenção, disponível no portal da Universidade, no qual o solicitante descreve o problema do equipamento que está apresentando defeito. Depois do chamado aberto, a logística de trânsito com os equipamentos danificados fica a cargo do departamento solicitante. Só depois disso é que os técnicos de rede avaliam as peças para o concerto.

Rádio UFS diversifica programação

Após dois anos no ar, emissora planeja ampliar potência de transmissão

Por Camila Ramos e Regiane Sá

Estúdio de produção e ensino (foto: Daniel Damasio)
A Rádio UFS FM, sintonizada através da frequência 92,1MHz, surgiu de um convênio realizado em 2004 com a Radiobras (hoje Empresa Brasil de Comunicação – EBC), que cedeu a concessão para a Universidade Federal de Sergipe. Mas a construção do prédio da emissora e a montagem das instalações prolongaram-se por quatro anos. Por isso, a Rádio só começou a funcionar, ainda em caráter experimental, no segundo semestre de 2008, e entrou oficialmente no ar em agosto do ano seguinte.

Segundo a professora Messiluce Hansen, chefe da Assessoria de Comunicação da Universidade (Ascom) e coordenadora geral da Rádio UFS, os dois órgãos são independentes, embora atualmente a emissora utilize parte do conteúdo jornalístico produzido pela Ascom. Assim, as informações sobre as atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade alcançam um novo público, e não apenas os leitores do portal da UFS.

(foto: Daniel Damasio)
Com potência de 130W, o alcance geográfico da Rádio UFS não é de grande extensão. Ainda assim, ela é ouvida não somente pela comunidade acadêmica, mas também por moradores de São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro e de algumas áreas de Aracaju. No entanto, o índice de audiência é desconhecido, pois a UFS não contratou um serviço de medição, de acordo com outro produtor da Rádio, Dudu Oliveira. A professora Messiluce Hansen diz que já foram iniciados estudos para a ampliação do sinal da Rádio, mas ressalva que este é um projeto para médio e longo prazos, pois envolve uma série de ações conjuntas com a EBC e a Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações.

Questionamentos
Mesmo com o seu pouco tempo de existência oficial, a utilização da Rádio foi questionada pelos estudantes dos cursos de Comunicação da Universidade Federal de Sergipe, durante a ocupação da Reitoria que ocorreu entre maio e junho deste ano. Segundo o aluno do 6º período de Jornalismo Geilson dos Santos, que participou deste movimento, eles reivindicaram a democratização da Rádio, pois consideravam o acesso muito restrito, não funcionando de fato como meio laboratorial de ensino.

Em contraponto, a coordenadora geral da Rádio, Messiluce Hansen, afirmou que a Rádio UFS é e sempre foi aberta à participação dos estudantes dos cursos de Comunicação. Segundo ela, a programação da emissora conta hoje com a participação fundamental de estagiários bolsistas e voluntários, selecionados através de editais públicos.
Atualmente são veiculados 19 programas regulares, distribuídos por todos os dias da semana. Em relação à escolha das músicas, Igor Mangueira diz que “a gente trabalha com músicas que façam o ouvinte pensar, temos uma programação alternativa, diferente das outras rádios comerciais”. O produtor diz ainda que o contato com os ouvintes ocorre através da Internet (via Twitter ou Facebook), pois isso facilita o trabalho, já que a equipe é reduzida. A Rádio também está disponível através do site: www.infonet.com.br/radioufsfm