Por: John Soares e Ícaro Novaes
Na semana em que o programa do governo federal completa 6 meses, balanços apontam resultados satisfatórios.
O programa Mais Médicos, do governo federal do Brasil, foi instituído pela Presidenta da República, Dilma Roussef, no dia 8 de julho de 2013. Trata-se de uma medida provisória visando os municípios do interior dos estados e periferias das grandes cidades carentes de médicos no Sistema Único de Saúde (SUS).
O Ministério da Saúde pretende atingir o número de 13 mil médicos espalhados por todo o Brasil, porém apenas 6.658 chegaram em território brasileiro até o momento. A alocação dos primeiros que chegaram foram prioritariamente para 1.551 municípios de maior vulnerabilidade social, sendo 1.042 no Nordeste e 78 em Sergipe atualmente. O Ministério da Saúde paga aos médicos uma bolsa de R$ 10 mil acompanhada de um auxílio de custo, e o município que o alocou fica responsável pela moradia e alimentação.
Em um cenário maior, o Ministério da Saúde propõe somado a esse projeto, uma aceleração nos investimentos para se ter mais e melhores hospitais e unidades de saúde, fazendo parte também de um amplo pacto para melhorar o atendimento aos usuários do SUS.
A terceira remessa de médicos está agendada para fevereiro com os médicos brasileiros e março para os estrangeiros.
Entrevistas
Macambira – Vladimir Pelegrin
Na cidade de Macambira, 74 km da capital, falamos com o prefeito da cidade, Ricardo Souza, PSD, que começa dizendo que inscreveu o município no programa e recebeu um médico, devido a desistência de outras cidades, ele conseguiu mais um médico, totalizando dois. Depois informa que antes dos cubanos, o local já tinha a disposição da população local médicos como geriatra, clínico geral, cardiologista, pediatra, entre outros.
Em relação aos dois médicos cubanos da cidade, todas as despesas de responsabilidade do município são arcadas, como moradia e ajuda de custo que segundo o prefeito é num valor de 350,00 reais. Em seguida o prefeito dispara: “É um investimento pouco para o resultado que vai dar, um resultado grande.”
Perguntado se houve melhoria na saúde após a chegada dos médicos cubanos o prefeito diz: “melhorou na questão do atendimento, no contato com a população. Por eles morarem no próprio município, eles não se incomodam de atender à noite, então, isso tudo facilita.”
Sobre recepção dos médicos cubanos no município, por parte dos médicos brasileiros que trabalham na clínica, o prefeito logo diz: “não cumprimentaram nem os coitados quando chegaram, eu tive foi que intervir.” O problema foi apenas com um médico, com isso, Ricardo foi obrigado a fazer uma reunião, onde falou que dentro do local de trabalho deveria haver respeito, caso contrário, medidas seriam tomadas. Agora garante que está tudo normalizado.
Sobre os médicos, o prefeito finaliza “o povo de Macambira gostou muito!”
Ao final da entrevista, o prefeito nos levou até a clínica de saúde, Raimunda Ribeiro “Dona Caçula”, que fica próximo ao centro da cidade. Chegando lá, ele teve uma conversa prévia com o médico de aproximadamente dez minutos. Logo depois disso, o médico Vladimir Pelegrin, nos atendeu em sua sala, com a Maria de Lurdes, 58 anos, que consultaria seu neto e que mostrou-se muito satisfeita com o atendimento. Logo em seguida, começamos nossa conversa.
Vladimir Pelegrin, tem 38 anos, católico, considera-se humanista e revolucionário. Tem 11 anos de profissão na especialidade de clínico geral, formado na Universidade de Pinar Del Rio, na província de Pinar Del Rio no oeste de Cuba, onde residia com seu filho de 4 anos.
Perguntamos para ele, o que o motivou vim para o Brasil junto ao programa Mais Médicos e ele responde que foi por solidariedade, que o povo cubano é muito solidário. Diz que veio ao Brasil para ajudar as pessoas que mais precisam.
Em relação as condições de trabalho que o município dispõe, ele diz que se tratando de saúde, as pessoas merecem sempre mais, mas segundo ele, o município dispõe das condições básicas para que ele exerça sua profissão dignamente.
Em relação a questão financeira do programa, quando perguntado sobre o repasse de verba do governo federal ao governo cubano, Pelegrin disse que não sabia desse repasse, que não se interessava por essa questão burocrática. O médico recebe seu salário, sua família em Cuba recebe um auxílio do governo e para ele está suficiente.
O médico acha o programa uma boa iniciativa pois vai ajudar diretamente pessoas que necessitam de um maior apoio na área da saúde.
Sobre algum tipo de hostilização, Vladimir disse que isso não aconteceu com ele, indo contra ao que o prefeito disse.
Finalizando a entrevista, o médico diz que está onde queria, fazendo aquilo que ama, que é ajudar as pessoas mais carentes, respeitando a todos e respeitando também a cultura brasileira.
Taiçoca de Dentro – Yudeles Peña e Yrelio Lugo
O Posto Médico da Taiçoca de Dentro, município de Nossa Senhora do Socorro na grande Aracaju recebeu dois médicos cubanos, Yudeles Peña e Yrelio Lugo.
Cubana, 36 anos, casada e mãe de um filho de 4 anos, Yudeles Peña se formou na Universidade da província de Las Tunas, região no oriente de Cuba. Chegou em Socorro no final de novembro do ano passado e por enquanto está hospedada em Aracaju, no hotel Jacques, enquanto aguarda o local que foi prometido pela prefeitura em N. S. do Socorro.
Abordada acerca da estrutura do seu local de trabalho, a médica afirma que há carência de materiais essenciais como pinças, ataduras, medicamentos intravenosos e outros equipamentos básicos, e que já haviam solicitados a Secretaria de Saúde. Yrelio, 47 anos nos informa que a unidade de saúde será reformada. Um outro problema citado por Yudeles é a falta de funcionários dentro do posto de saúde e de serviços de facilitação no atendimento, como agendamento de consultas online, falta essa sentida também por Yurelio.
Yudeles, assim como os outros médicos cubanos, cita também a solidariedade com um dos motivos de ter vindo ao Brasil. Afirma que gostaria de manter contato profissional com médicos brasileiros, para que houvesse uma boa relação entre eles.
Sobre a questão financeira, ela se mostra mais entendida que os demais médicos entrevistados, explicando que ela recebe seu salário, uma ajuda de custo, sua família em Cuba recebe outra quantia e disse ainda que tem uma conta bancária pessoal em seu país, explicando que o acordo rende benefícios para ela, Cuba, e para sua família que lá reside.
Por fim, a médica se diz adaptada e satisfeita com o lugar e o que move essa satisfação é o prazer em ajudar as pessoas dessas localidades carentes de saúde pública, o que de fato, vale até o esforço de ficar longe da família, segundo ela.
Novos investimentos
Com 6 meses após o lançamento do Mais Médicos, ainda há muito para se fazer. E em paralelo não se pode esquecer dos investimentos nas estruturas da saúde pública programadas para este ano. De acordo com o Ministério de saúde, os investimentos devem chegar a R$ 15 milhões, em melhorias de hospitais e unidades de saúde.
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